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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dá pra ficar isolado com o ex? Demi Moore e Bruce Willis têm algo a ensinar

Já pensou passar a quarentena com a família do Bruce Willis e da Demi Moore? - Reprodução/Instagram
Já pensou passar a quarentena com a família do Bruce Willis e da Demi Moore? Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista de Universa

05/02/2021 04h00

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Enquanto você está aí dando graças a Deus porque se divorciou antes ou durante a quarentena, já que o convívio confinado seria insustentável, tem gente bem diferente. Demi Moore e Bruce Willis, em uma vibe paz, amor e gratidão, moram juntos desde o início da quarentena. E dizem que isso é uma bênção!

Eles voltaram? Não, não. A atual mulher dele também está morando com ele. Demi inclusive a ajudou a ensinar a filha a andar de bicicleta. Isso é moderno para você? Uma grande família feliz que até se veste igual.

Muitos casais não estão longe disso, mesmo que não cheguem nesse extremo de morar juntos (ou por falta de espaço, ou por falta de coragem). Ter filhos de outro casamento implica em um isolamento um pouco diferente, ainda que haja a proposta de se isolar de ambas as partes. Pai e mãe não querem ficar um ano sem ver o filho — há gente que fica, sim, mas é sofrido demais para todo mundo. Então, a maneira como o ex enfrenta a pandemia altera diretamente a rotina dentro de casa. É como se a gente vivesse numa casa gigante, da qual você não tem controle de todos os cômodos, nem a certeza de como o resto do pessoal está dando banho na batata palha quando volta do mercado.

Eu vivo assim, e muita gente também.

Não tem comparação com a vida de Demi e Bruce, claro. Um divórcio amigável desde o princípio, há quase 20 anos, e muito dinheiro nos bolsos permitem que a convivência seja pacífica e espaçosa. Não seria viável nos apartamentos minúsculos em que a gente mora. E nem é isso que a gente quer. Mas a parte da convivência boa, especialmente em tempos de pandemia, é importante copiar. "Pela nossa saúde mental", como vocês gostam de dizer.

Não defenderia, claro, o convívio com ex abusivo, com ex violento, com nenhum tipo de pessoa que possa colocar a integridade física de alguém em risco. Cada história é uma e é impossível dizer o que fazer. Mas se hoje você julga a pessoa com quem um dia teve relações sexuais e posteriormente filhos como alguém insuportável, o filho que nasceu desse rolê não tem culpa nenhuma disso. E a vida já está difícil demais para eles (e para a gente e para todo mundo) para ficar mais complicada com briga.

Claro, falo isso com alguma sorte: a ex do meu marido e mãe dos meus enteados pensa mais ou menos como eu sobre a pandemia. E está evitando aglomerações como eu, mas seu home office acabou. Ou seja: a vida do lado de lá implica num acréscimo de risco na minha aqui. Assim como qualquer deslize do meu lado pode colocar a vida da casa dela em mais vulnerabilidade do que já estamos. O mínimo é pensar no outro. E pensar no outro é pensar em todo mundo.

Outro dia desses, liguei para ela para saber como ela estava lidando com uma questão dos filhos deles. Ela me explicou e me aconselhou. A linha caiu e eu liguei de novo. Era uma sexta-feira e eu brinquei: "reclama para suas amigas que a atual do seu ex não para de te ligar". Conversamos um tempão e desliguei o telefone mais tranquila em relação ao problema do início.

A pandemia nos trouxe incontáveis problemas. Mas que a gente possa viver em harmonia (à distância) com aqueles que estão, sim, na nossa vida para sempre. Para que pelo menos esse trauma as crianças não vivam. Para os outros traumas todos, eu não tenho mais solução.

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PS: Eu sei que há muitas situações difíceis e incontornáveis em divórcios complicados. Mas até esses podem ter um jeito mais tranquilo de lidar, se todo mundo ceder. O tempo é rei.

PS 2: Mesmo que sua relação com o ex seja de pura harmonia, não precisa comprar pijamas iguais. Aí já é demais, Bruce.