Rafa Vitti e desafio do paizão: homem descobriu o que mulher sempre soube
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Tente pensar na sua infância. Quem está fazendo as coisas que eram necessárias para educar uma criança (no caso, você) — seu pai ou sua mãe?
Minha memória me trai um pouco quando penso na relação que tinha com meu pai. Lembro de ser levada à escola, lembro de tomar broncas por toalhas molhadas em cima da cama. Churrasco, doces de maçã, muito carinho, muito amor, várias piadas, algumas bem sem graça.
Mas passar uniforme no domingo à noite, fazer um omelete rapidão porque não tinha nada em casa, ajudar a estudar para prova? Ir buscar minhas amigas em casa, deixar brincar de Barbie e fazer uma zona na casa? Levar lanchinho para a molecada toda? Era tudo minha mãe que fazia.
A própria defende meu pai e diz que ele fazia, sim, bastante para dividir o serviço. Dava banho, me penteava e outras coisas que já eram consideradas muito para homens adultos dos anos 80. Mas nada chega perto do que vejo o pai do meu filho e o pai dos filhos de minhas amigas fazerem na segunda década desse século. Hoje é esperado que o pai divida a infinita função da criação com a mãe. Evoluímos.
Rafael Vitti é um exemplo do homem que divide, pelo que a gente vê nos depoimentos e postagens que ele ou a mulher, Tatá Werneck, fazem da rotina com a filha, que acabou de completar um ano. Essa semana ele falou sobre isso em uma entrevista a Angélica em que falava sobre vaidade. "Sempre fui um pouco mais largado, mas, depois da paternidade, acho que quem vive sabe que a gente está lá em último plano. Então às vezes até banho é difícil de tomar. Mas faz parte, principalmente nesse primeiro momento em que os nossos filhos precisam muito da gente", ele diz.
Quem tem filho se identifica com o que ele disse. Mas essa falta de tempo para dedicar a si mesmo não é uma novidade para mães. Minha própria deve poder falar sobre o que viveu há 30 e tantos anos. E se tomar banho era luxo, ainda tinha que lidar com a pressão para estar impecável, raiz do cabelo pintada, depilada, maquiada etc. Que injusto.
Nos dias de hoje, diminuíamos um pouco dessas pressões: ostentamos raízes brancas sem culpa, por exemplo. Eu deve ter feito a unha no salão um vez desde pari, há quase quatro anos. Aboli o ferro de passar em março desse ano — gosto de roupa passada, sim, o problema é que o dia só tem 24h e eu preciso dormir por pelo menos seis delas. Não dá tempo, não.
Às vezes, fico por aqui vendo o extremo talento para paternidade que tem o pai do meu filho e penso que tenho sorte demais. Depois sinto um pouquinho de raiva desse comportamento exemplar estar começando agora, há poucas gerações. E de pensar que tenho sorte por ele estar fazendo apenas o mínimo, que é a mesma coisa que eu faço.
Rafa Vitti postou outro dia uma homenagem ao seu próprio pai: "Obrigado por ser um pai presente. Hoje eu sei que é raro, mas quando era moleque achava que todo mundo tinha uma pai legal como você sempre foi pra mim. Pura ingenuidade. Mas foi assim que você se apresentou na minha vida e hoje é o que eu tenho a oferecer pra Clara Maria, por que foi assim que aprendi com você", ele disse no Instagram. Está explicado: ele aprendeu com o pai que dividir as funções da maternidade era o mínimo que deveria fazer pelo bem de sua filha — que é o que todo mundo que procria quer.
Gostaria de saber tudo isso para voltar lá nos anos 80 e cobrar meu pai — ele e minha mãe tinham dois empregos, davam aulas até às 23h em quase todos os dias da semana e ralavam de verdade. Mas quando começava o Fantástico, era ela que estava com o ferro de passar na mão, correndo contra o relógio para passar os uniformes a tempo. Injusto.
Pelo menos meu filho, a filha do Rafa e as outras crianças agraciadas com "a sorte" do pai presente, vão crescer sabendo que isso é o mínimo.
Aí, se sobrar tempo para fazer churrasco, doce de maçã, ou piada sem graça, melhor. Sorte mesmo seria ter tempo de tomar um banho comprido sossegado. Mas aí já é pedir demais.
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