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Juliana Borges

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O quão importante é a participação do noivo na organização do casamento?

Wavebreakmedia
Imagem: Wavebreakmedia

Colunista de Universa

04/04/2022 04h00

Em geral, minha participação em grupos de WhatsApp de noivas é mais como "voyer". Eu pouco falo, anoto muitas dicas, encontro muitas soluções e, o mais importante, observo muito e reflito sobre algumas dinâmicas entre os casais, conforme cada uma das noivas expõe essas questões.

Das reclamações, em geral, leio muito sobre a pouca participação do noivo na organização do casamento como um todo. Mas, uma que já vi e fiquei pensativa foi sobre um sentimento de descompasso entre noiva e noivo. Não significa que não exista química no casal, afinal por que eles casariam, não é? Mas algo mais próximo da noiva pensar um tipo de casamento ou querer uma determinada coisa e não obter a concordância do noivo.

Algumas acabam optando por fazer mesmo assim, meio que em um movimento e presas a uma ideia de que o dia do casamento seria o dia da noiva. O que, confesso, acho uma pena. Muitas outras, tentam buscar um meio termo, um ponto de conexão e consenso entre os seus anseios e como sempre desejou esse dia e o que o noivo espera.

Por vivermos sob uma sociedade patriarcal, somos criados de formas diferentes para ocupar lugares e desempenhar determinados papéis sociais. Assim, nós, mulheres, crescendo fantasiando sobre esse dia. Mesmo que a gente, em algum período da vida, como eu, desistamos da ideia de casamento "tradicional", acaba que temos um pouco uma ideia sobre esse dia. Cada vez mais, vemos homens reivindicando esse momento. Mas, ainda lidamos, na maioria das vezes, com um casal no qual as noivas têm expectativas muito mais romantizadas do dia, enquanto que os homens ainda se prendem mais aos festejos, ao chegar e ver tudo pronto e pouco ajudar nesse dia.

Pela graça dos orixás, encontrei um companheiro que quer participar das etapas do casamento. Acho que o grande descompasso que tivemos até aqui foi sobre o número de convidados. Ele queria algo mais intimista, com poucas pessoas. Mas, eu queria a festa e, por mais que eu concorde com ele sobre chamarmos apenas quem amamos, me dei conta de que tenho uma rede um tanto grande, digamos, para isso. E já começa pela minha família, que não é pequena. Então, após muito diálogo entre nós, chegamos a um denominador comum. E acho que aí está um primeiro ponto sobre sintonia.

Na acepção psicológica, sintonia significa harmonia ou um sentimento de correspondência e troca com o meio. Quando falamos em casais e casamentos, acredito que sintonia envolva justamente essa harmonia, mas mais do que isso: a realização de troca e soma entre o casal. Tá certo que eu e meu noivo, e vários outros casais, extrapolam um pouco a sintonia. Por exemplo, pelos olhares que conversam, pelos toques com significados próprios. Seria uma sintonia que se expressaria em linguagem acordada entre ambos ou que se desenvolve conforme cada um conhece mais o outro. Eu e Anderson sabemos exatamente quando um ou outro quer ir embora de um lugar. Seja pela linguagem corporal, seja por como nos olhamos, seja por um toque que temos e já sabemos o que quer dizer.

Mas, a sintonia pode ser bem mais simples e não significa um atropelo, colado na ideia de que se não tem linguagem própria, não tem sintonia. A sintonia pode ser construída. A gente não pode se prender à ideia de relacionamentos perfeitos, típicos de hollywood. Como diria Marcia Sensitiva, "aqui é a Terra!" e o negócio é duro mesmo.

Então, desencana dessa perfeição. A sintonia pode ser desenvolvida pela liberdade que construímos para conversar entre nós; por quanto estamos dispostos e dispostas a buscar compreender o outro e outra; do quanto o diálogo é importante para o casal. Agora, tem um aspecto que encontrei nas leituras que fiz para escrever hoje que me identifiquei demais: rir juntos.

Em uma matéria da revista Marie Claire, encontrei uma citação interessante de um estudo realizados pelos professores Meg John Barker e Jacqui Gabb, autores de "Os segredos do amor duradouro" (que decidi comprar), em que foram entrevistadas 5 mil pessoas sob a pergunta: "O que você mais gosta em seu relacionamento?". A maioria das pessoas responderam "rir juntos".

A sintonia pode ser compreendida, justamente, nessa chave de respeitar a opinião do outro, ou melhor, de ter a disposição para escutar e não apenas de falar e, principalmente, de rir dos defeitos e erros do outro/outra que estamos construindo uma caminhada.

Claro, estabelecer e desenhar planos e projetos é também parte. Mas, veja só que a capacidade que temos de compreender que um problema não é apenas de um, mas dos dois - ou três, para trisais - e que só sairemos de um descompasso se o enfrentarmos juntos é um modo de construir essa sintonia. Mas, rir foi um aspecto interessante, porque pode demonstrar exatamente se temos disposição em relação ao outro/outra, se não estamos exercendo uma atitude impositiva no relacionamento, se há leveza diante de discordâncias e como o diálogo e o riso podem ser ferramentas para reafirmar o amor que existe e está sendo exercido por ambos.

E não esqueça: a sintonia também pode ser construída pela ternura entre o casal, pela troca de carinhos, afetos, que podem ser abraços, beijinhos, um café da manhã na cama, um almoço com os pratos que seu parceiro ou sua parceira mais gosta, com a troca de olhares em silêncios longos e que dizem muita coisa. Se aprendi algo dessas conversas entre noivas pelo whatsapp, e da dinâmica do meu relacionamento, é: não veja um descompasso como um gigantesco problema, mas como uma etapa que vocês enfrentarão juntos. E construam o casamento que seja o espelho do melhor de vocês dois.