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Juliana Borges

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Morando juntos: como fazer concessões e organizar novo lar após casar?

Colunista de Universa

21/06/2022 04h00

"Eu não escolho nada nessa casa!". E foi assim que meu noivo e eu iniciamos uma troca, que não chegou a ser uma discussão, sobre a escolha dos móveis para o nosso lar.

Desde que começamos a morarmos juntos, uma questão nos persegue: como deixar o quarto, antes apenas meu, com a cara de ambos e garantindo espaço e organização (confesso que essa parte da organização é uma preocupação maior de minha parte) para todas as nossas coisas?

Não sei se já falei aqui, mas Anderson é músico. E eu sou escritora, algo, dã, óbvio, já que você me lê. E isso não é uma informação trivial. Logo que tomei dimensão de que ler e escrever me garantiam comunicação com o mundo, eu fiquei insuportavelmente desejosa de dominar a leitura e a escrita.

Quando iniciei meu processo de alfabetização, minha mãe dizia que parecia estar a caminho de ganhar um prêmio quando ia para a escola. E, assim, minha família percebeu que havia um "quê" em mim, que precisava ser explorado: ora, se ela parece gostar tanto de leitura e escrita, vamos presenteá-la com cadernos, estojos e livros.

Minha primeira memória de intensa alegria e sentimento de felicidade é de quando ganhei toda a coleção de livros do Monteiro Lobato. Eu era uma fã alucinada por Sítio do Pica-Pau Amarelo e minha avó entendeu e resolveu seguir a pista.

Essa primeira coleção iniciou um processo que perdura até hoje: eu leio tudo e adoro ter o livro físico. Já me indicaram o kindle, já tentei com ele, mas ainda não aconteceu o "encontro de almas" para esse casamento, em específico.

Isso tudo para dizer que meu amor por livros trouxe, como consequência, uma biblioteca de certo respeito.

E Anderson não fica para trás. Como músico, produtor e DJ, ele é fascinado por vinis. E essa paixão iniciou-se aos três anos de idade. Tudo começou com um LP: "A formiguinha e a neve", um compacto amarelinho, recheado de historinhas infantis como "O Soldadinho de Chumbo", "Pinocchio", "Chapeuzinho Vermelho". Aquele vinil o fascinou não apenas pelas historinhas, mas pelo compacto em si. Afinal, qual era a "mágica" que fazia impulsionar tantas sensações de um LP?

A partir dos oito anos, todo o dinheiro que caía na mão de Anderson era guardado com o propósito de comprar mais e mais LP's. Hoje, são centenas de LP's de todo o tipo de som que você, meu caro leitor e minha cara leitora, pode imaginar.

Isso tudo para exemplificar para você toda a engenharia para termos um quarto organizado. E como a minha "pira" com organização é bastante intensa, comecei a pensar em móveis para organizar roupas, livros, discos, vinis e tudo o mais.

Mas, apesar de achar que muita coisa precisa ser compartilhada, eu não dei muita bola para o fato de que pensar a decoração do quarto envolvia pensar nas coisas que ele também gosta e não apenas o que eu gosto.

Por exemplo, eu gosto de tons neutros. Não sou uma alma colorida. Meu sonho dos mais desejosos, e praticamente impossível de ser realizado, é uma casa no estilo Kim Kardashian.

Não em tamanho, porque não é um sonho ser bilionária, nem em acúmulo de roupas, já que o meu "problema" é com livro. Mas você já viu a casa da Kim? Toda em branco e tonalidades neutras. Eu adoro aquilo. Paz, calma, tranquilidade. É assim que eu penso um lar.

Quando fomos decidir o nosso novo guarda-roupa, logo "avisei" que teria que ser branco porque foi assim que "eu" pensei o quarto.

E foi diante disso que ele respondeu com a frase que começa o texto de hoje: "eu não decido nada nessa casa!". Porque tem lá seu "quê" de verdade.

E vai ser uma longa estrada até que eu me acostume ao fato de que algumas coisas terão que ser compartilhadas e mediadas e que meu sonho do paraíso branco e neutro fique restrito a um futuro escritório.