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Juliana Borges

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Casamento e fé: como lidar quando noivos são de religiões diferentes?

flySnow/Getty Images/iStockphoto
Imagem: flySnow/Getty Images/iStockphoto

Colunista de Universa

05/05/2022 04h00

Logo quando começamos a conceber o casamento, havíamos definido que não faríamos uma cerimônia religiosa. Nossa opção, então, foi de que um amigo nosso, em comum, seria convidado para realizar uma celebração do nosso amor.

Não demorou muito para estabelecermos quem seria essa figura especial: tenho um amigo-irmão de longa data que, para além dos risos e festas, está sempre junto comigo nos momentos de choros, de afetos e de trocas sobre o mundo, sobre textos e formulações.

A decisão de convidá-lo para celebrar nossa união foi muito fácil para nós. Esse amigo acompanhou toda a minha ansiedade próxima do meu primeiro encontro com o Anderson, o noivo. E acompanhou todo o fortalecimento da nossa relação.

Da relação de irmandade para o convite para ser padrinho, foi muito fácil de pensar e realizar. E, para nós, foi muito simples e de pronto decidirmos que ele seria a melhor pessoa para realizar nossa cerimônia.

Nosso desejo é de que a cerimônia celebre o amor entre nós, mas também o amor como ação de existir em comunidade, que é como compreendemos a relação que estabelecemos com cada um dos nossos convidados e convidadas. E, como esse nosso amigo, meu irmão, também escreve, sabemos que vem coisa especial por aí.

Um outro elemento da nossa cerimônia passou primeiro por dúvidas que tivemos. Há muito que Anderson se interessa pelo islamismo como fé.

Sou candomblecista. E meu noivo se converteu ao islamismo. Nossas conversas sobre nossas fés e crenças sempre foram muito sinceras e compartilhadas, baseadas em muita sinceridade e calma, deixando sempre um e outro à vontade. Eu o apoio em sua fé e ele me apoia na minha.

Cada um respeitando os limites do outro e prospectando, em diálogo e soma, coisas que consideramos importantes ter definidas para evitarmos atritos desnecessários. Óbvio que, às vezes, ouvimos um ao outro com certa tensão. Mas nada que dure mais do que 2 minutos.

O mais importante para nós é o respeito que temos e nutrimos um pelo outro. E essa é a tônica que queremos em nossa cerimônia: uma celebração ao respeito, ao compartilhamento, à construção do comum pelo amor.

Então, decidimos convidar um babalorixá e um sheik para realizar preces ao final da cerimônia. Decidimos que nossas fés irão se encontrar e se complementar e que nossa união será abençoada pelos orixás e por Allah.