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Juliana Borges

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que o preço de tudo duplica quando é para uma festa de casamento?

blackCAT/Getty Images
Imagem: blackCAT/Getty Images

Colunista de Universa

11/07/2022 04h00

Vocês também têm a impressão de que, quando estamos na frente de qualquer possível fornecedor e falamos que vamos casar, eles nos veem como uma galinha dos ovos de ouro? É como se o fato de estarmos animados com o casamento e de um evento como esse envolver sonhos, que podemos ser submetidos a qualquer abuso. Sim, abuso. Vou dar um exemplo prático. Dois, até.

A primeira experiência que percebi esse abuso foi sobre o espaço em que a cerimônia e a festa acontecerão. É um local que precisará de cobertura, porque um espaço aberto. Como casaremos no final da tarde, a gente optou por um espaço amplo e aberto. Mas a gente sabe que o tempo em São Paulo tem seus desejos e jeitos próprios e todas as estações do ano, com participação especial de chuva, podem acontecer em um dia só.

Por precaução, gostaríamos de garantir um espaço coberto. Mas o preço duplicou quando dissemos que era para um casamento. Uma mesma amiga fez orçamento e garantiu toldo para um evento e pagou metade do que estão nos pedindo. Será que existe algum ato louco, típico de casamentos, que faz com que fornecedores dessa estrutura considerem esse tipo de evento como de risco?

A outra experiência traumática foi no orçamento de alimentos. Primeiro, não queriam nos dar um orçamento com muita antecedência, por conta da flutuação e inflação de preços. Ou seja, não queriam fazer sequer uma projeção.

Depois, recebemos um orçamento que consideramos alto, mas que fazia algum sentido, dada a dimensão que a festa tomou - sim, perdemos o controle. Na verdade, EU perdi o controle. Papo para a próxima semana. Mas é aí que o caldo entorna.

De fato, sabemos que a economia não vai bem. Talvez, esteja tudo certo para acionistas que vivem de especulação financeira. Mas para nós, reles mortais, não vai nada bem. Perdemos poder e potencial de consumo, as coisas estão sim mais caras e mudam de preço de uma semana para outra.

Segundo minha avó, isso a deixa apreensiva porque traz lembranças de uma economia instável, nos anos 80 e início dos 90, em que se corria para o supermercado para não perder preços que eram atualizados com as pessoas ainda dentro do estabelecimento.

Então, diante de tudo isso, eu entendo que mudanças possam ocorrer. Mas como, também, empresária, sei que a gente projeta, se organiza, dentro do possível, para definir nossa tabela de preços. Então, não faz sentido o que vivo nesse momento, em que preços duplicam sob o argumento inflacionário. Não estou no mundo da lua, estou apenas desejando o razoável no mercado de serviços. Será pedir demais?

Por um momento, eu achei que surtaria muito. Depois, passei por uma fase em que eu achava ter tudo sob controle e que, na verdade, nem era tão caótico assim se casar. Mas, agora, nesse exato momento, eu estou na fase de certeza, e não apenas uma intuição, de que irei surtar. De que estou surtando. A sorte que tenho é poder dividir isso com vocês, ter um companheiro que também divide essas angústias comigo.

A certeza que tenho é que deveria ser proibido abusar de pessoas que estão tentando dividir alguns desejos de festejo com outras pessoas. Não chega a ser a construção da festa de casamento dos sonhos, porque há muito tempo desconstruí isso e passei a pensar esse momento, se rolasse, como celebração de amor. Ainda é assim. Só que é impossível não pensar coisas que consideramos que deixarão tudo mais especial tanto para nós, enquanto casal, quanto para nossos convidados e pessoas que amamos.

Como dizia minha mãe: "as coisas estão pela hora da morte". E dá-lhe criatividade para a gente pensar saídas e tentar garantir o planejado.