Savatage e Opeth põe metaleiros para chorar em encontro histórico em SP

O que parecia impossível para muito metaleiro virou realidade nos últimos dias. Não só o Savatage voltou aos palcos, como escolheu o Brasil para fazer isso — em dose dupla. Depois de mais de dez anos, o grupo se reuniu e, apesar do desfalque do seu criador, Jon Oliva, botou muita gente para chorar em São Paulo.

A banda subiu ao palco do Espaço Unimed, em São Paulo, junto ao Opeth, na segunda-feira (21), com mais tempo de palco do que festival Monsters of Rock, que aconteceu no sábado (19), no Allianz Parque. A combinação de uma banda de heavy metal com uma de metal progressivo e extremo parecia pouco usual, mas deu certo, mostrando dois destaques, cada um à sua maneira, que expandem os limites do metal.

Opeth: peso e delicadeza

Se o Savatage ampliou esses limites por seus teclados e discos que se inspiram em opera rock, o Opeth surgiu na Suécia fazendo um death metal com músicas mais longas, violões e climas mais trabalhados.

O líder da banda, Mikael Akerfeldt, chegou a deixar muita gente infeliz ao abandonar os vocais guturais nos últimos discos, mas o lançamento mais recente, "The Last Will and Testament", trouxe a agressão de volta, com o toque que o Opeth moderno havia desenvolvido melhor: suas levadas e timbres mais setentistas. Foi o que se viu em São Paulo.

As músicas novas foram bem recebidas e as clássicas se sobressaíram, como "Ghost of Perdition", que sintetiza a combinação de peso e leveza que poucas bandas têm.

Akerfeldt dá um show de carisma, com seu humor autodepreciativo. Em certo momento, ele fala que uma canção nem é tão boa. Em outro, brinca que os fãs de Savatage vão estranhar seus guturais - que estão no hall dos melhores no estilo de cantar. "Mas sabem por que eu comecei a gritar assim? Por que não sabia cantar", contou o vocalista e guitarrista.

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No meio de tanto peso, a beleza de "In My Time of Need", cantada por um público às lágrimas, se sobressaiu, assim como o fechamento, com os 13 minutos de puro metal progressivo, em "Deliverance".

Savatage, dez anos depois

O Savatage é daquelas bandas que parecia que nunca ia voltar. Um dos motivos é o sucesso do multimilionário projeto paralelo desenvolvido por Jon Oliva, a Trans-Siberian Orchestra, que passa parte do fim do ano fazendo turnês de arena e cantando opera rock de natal para milhares de pessoas.

A banda Savatage durante apresentação no Espaço Unimed, em São Paulo
A banda Savatage durante apresentação no Espaço Unimed, em São Paulo Imagem: Reinaldo Canto / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

O outro é a saúde de Oliva, que se soube melhor após a reunião. Ele revelou estar com esclerose múltipla e a doença de Ménière - um problema no ouvido interno que causa tonturas, perda de audição e zumbidos.

O grupo não tocava desde 2015. Além disso, desde 2002 não fazia um show sem ser em festival. Melhor para quem estava no Espaço Unimed, que ganhou um set ainda maior do que no Allianz. A banda norte-americana é formada por instrumentistas excelentes e velhos conhecidos, entre eles o vocalista Zak Stevens e os guitarristas Chris Caffery e Al Pitrelli, além de dois tecladistas no lugar de Oliva.

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O show começou com a pegada mais teatral de "The Ocean" e "Welcome", que em seu refrão brada, literalmente, "boas-vindas ao show". "Jesus Saves" — curiosa de ser tocada no dia da morte do papa Francisco — já mostrou que a banda não deixou os primórdios de lado.

O Savatage, como o Opeth, traz ao palco uma experiência que Akerfeldt chamou de "analógica", com uma áurea de que estamos de volta aos anos 1990. E a empolgação da própria banda foi contagiante.

Stevens tem uma das vozes mais belas do metal, com um timbre encorpado, mas que chega nos agudos de Oliva. O vocalista ainda esbanja carisma. Após arriscar um pouco de português, chegou a anunciar uma música no momento errado. "Embarquem no navio para 'The Wake of Magelan'", disse ele, fazendo uma careta de susto quando descobriu a falha. "Deixem pra lá, essa é 'Sirens'."

O Savatage traz um show de metal do seu jeito mais clássico. Os guitarristas têm a vibe - e o talento - dos velhos rockstars. O jogo de vozes impressiona, como em "The Chance", com múltiplas camadas de letras sendo cantadas ao mesmo tempo, em um efeito de musical da Broadway.

Se muita gente chorou com músicas pesadas, foi possível ver lágrimas com clássicos como "Gutter Ballet" e "Edge of Thorns". A catarse veio com um vídeo que trouxe Oliva cantando a bela "Believe" pelo telão. As imagens trouxeram também Criss Oliva, irmão de Jon, guitarrista que morreu em 1993.

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O bis veio com "Hourglass" e o clássico "Hall of the Mountain King", encerrando quase duas horas de um show que, se de público não conseguiu fazer com que o Espaço Unimed parecesse cheio, ainda assim cravou seu nome na história.

Setlist Opeth

  • §1
  • Master's Apprentices
  • The Leper Affinity
  • §7
  • In My Time of Need
  • §3
  • Ghost of Perdition
  • Sorceress
  • Deliverance

Setlist Savatage

  • The Ocean
  • Welcome
  • Jesus Saves
  • Sirens
  • Another Way
  • The Wake of Magellan
  • Strange Wings
  • Taunting Cobras
  • Turns to Me
  • Dead Winter Dead
  • The Storm
  • Handful of Rain
  • Chance
  • This Is the Time (1990)
  • Gutter Ballet
  • Edge of Thorns
  • The Hourglass
  • Believe
  • Power of the Night
  • Hall of the Mountain King

1 comentário

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Felipe Q

Savatage é uma das melhores bandas de metal mais clássicas. Quando era moleque não curtia tanto, mas hoje gosto muito. Que bom que estão de volta! E Trans-Siberian é muito bom! Estive nos EUA na época de Natal e vc ouve em tudo o que é lugar!

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