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InstaMoney e mais: apps são cilada e quem divulga pode ser punido por crime

Apps fraudulentos promovidos por influencers induzem pessoas a cair em golpes e podem configurar estelionato - Alex Green/Pexels
Apps fraudulentos promovidos por influencers induzem pessoas a cair em golpes e podem configurar estelionato Imagem: Alex Green/Pexels

De Tilt, em São Paulo

21/04/2023 04h01Atualizada em 21/04/2023 17h06

A ex-BBB Key Alves foi criticada recentemente por promover nas redes sociais a plataforma InstaMoney, app que promete dinheiro em troca de curtidas. Ele soma quase cinco mil reclamações e acusações de ser fraudulento. O caso da jogadora de vôlei não é a único

Outras influenciadoras, como a ex-BBB Kerline e a modelo Emily Garcia, também convocaram seus seguidores a se cadastrar no Money Look, site que promete dinheiro fácil a partir de algumas ações do usuário. Estes são apenas dois exemplos de uma onda de aplicativos e esquemas que, segundo especialistas consultados por Tilt, enganam usuários e podem ser enquadrados pelo crime de estelionato.

Meu Velho Rico e Play Premiado também entram nessa lista. Alguns dos programas eram facilmente encontrados na loja de apps do Google, a Play Store.

Alerta de golpe: por que tanta gente cai?

Segundo a empresa de cibersegurança NetSafe, os golpes se aproveitam da impressão de que a vantagem é prática, rápida e legítima — algo que ocorre desde anúncios fraudulentos em revistas.

"Os criminosos são muito criativos e trabalham muito o emocional das pessoas, às vezes a fraude está escancarada e o usuário não consegue enxergar", explica Waldo Gomes, diretor de marketing da empresa.

Ele explica também que a pequena quantia que normalmente se perde faz com que as vítimas não não acionem a indo à Justiça pois o trâmite jurídico é muito pesado. "Quando percebe que caiu em um golpe, por muitas vezes, [a vítima] não toma uma atitude até mesmo por vergonha", completa.

"Não temos uma legislação rápida e abrangente que trate com mais ênfase os crimes digitais e acabamos nos deparando com muitas situações que conduzem as pessoas ao erro," finaliza.

Em resposta a Tilt, o Google informou que os aplicativos consultados nesta matéria foram derrubados por violar as políticas de privacidade da Play Store.

"Contamos com uma combinação de inteligência de máquina, revisores humanos e denúncias de usuários para identificar conteúdo impróprio. Levamos muito a sério as denúncias de segurança contra aplicativos e, se descobrirmos que um app violou nossas políticas, agimos imediatamente", explica a empresa em nota.

"Nossos usuários também são protegidos pelo Google Play Protect, que avisa os usuários ou bloqueia aplicativos maliciosos identificados em dispositivos Android", acrescentou.

A empresa recomenda que apps similares sejam denunciados na própria Play Store. Para isso:

  • Na página do app, toque no botão de três pontos;
  • Em seguida, clique em 'Sinalizar como impróprio';
  • Pronto, o app estará denunciado.
Veja a seguir o que os aplicativos polêmicos prometem e suas diferenças

InstaMoney

O programa aparece no Google Play e em sites avulsos na internet com diversas variações desse mesmo nome. Na versão promovida pela Key Alves, o app pagaria os usuários diariamente por curtidas nas redes sociais.

Outros tipos dele incluem propostas de negócio: oferecem supostos cursos de como tirar renda extra apenas "assistindo vídeos diretamente do seu celular, tablet ou computador e sendo remunerado por isso (sic)".

O que não muda em nenhum dos casos é a situação: basta rolar um pouco mais abaixo para a área de reviews desses programas que é possível encontrar uma enxurrada de comentários acusando o serviço de fraude.

Inúmeras versões do app Insta Money permanecem no ar, mesmo após remoção do Google - Gabriel Daros/UOL - Gabriel Daros/UOL
Inúmeras versões do app Insta Money permanecem no ar, mesmo após remoção do Google
Imagem: Gabriel Daros/UOL

"É falcatrua fiz o pagamento pra liberação do aplicativo não tive acesso ao app e além que foi descontado outros valores do meu cartão tomei foi prejuízo nessa", comenta um dos reviews, completando que o app só o fez gastar o que ele já não tinha.

Segundo o site de métricas de aplicativos SensorTower, uma das versões do InstaMoney ocupou a 15ª posição de apps mais baixados no Brasil na categoria "Entretenimento" no último dia 10, com mais de 100 mil downloads.

Apesar das críticas, a nota do app permanece em 3,2, e contém indícios de manipulação: das 4,35 mil avaliações, 1.449 são nota um. Ao mesmo tempo, 1.449 são nota cinco.

No site ReclameAqui, 52,09% das 3.443 reclamações do InstaMoney são por Propaganda Enganosa.

"Recebi por email a confirmação de minha compra pela Plataforma onde esse suposto Treinamento poderia estar hospedado, mas apareceu uma mensagem que o aplicativo está em manutenção por alguns dias. Sendo que temos até 7 dias [para estorno]", aponta uma das reclamações.

Um dos desenvolvedores do InstaMoney, que assina como IliasApps, possui apenas uma página de políticas de privacidade, copiada de outros sites, e com referência a um outro aplicativo - o Futt na Rede, já derrubado pelo Google Play Store.

Tilt procurou o desenvolvedor em questão, que não respondeu a um pedido de comentário até o fechamento da matéria.

Meu Velho Rico

O InstaMoney está longe de ser o único app que oferece lucro e fica só na promessa. Há uma série de propagandas nas redes sociais oferecendo serviços fraudulentos, com nomes sugestivos — e absurdos — prometendo lucro fácil.

Um deles, o Meu Velho Rico, é diferente na proposta, mas igual na falcatrua. Ela oferece uma suposta oportunidade para mulheres receberem Pix de idosos que querem conversar. Para isso, seria apenas necessário baixar o app, pagar uma taxa, e começar a vida de sugar baby digital.

App "Meu Velho Rico" aparece em diversas versões e com a mesma proposta - Gabriel Daros/UOL - Gabriel Daros/UOL
App "Meu Velho Rico" aparece em diversas versões e com a mesma proposta
Imagem: Gabriel Daros/UOL

Com mais de 5 mil downloads, a página do app no Google Play possuia comentários acusando o serviço de fraude.

"Uma grande mentira, oferecem reembolso e não oferecem nada, não oferecem nenhum produto que falam. Isso é golpe, não comprem, não caiam, só querem ganhar dinheiro em cima de mulheres desesperadas, é desumano demais", dizia um dos comentários.

Play Lucrativo ou Play Premiado

Outro que segue um modelo similar é o Play Lucrativo — que também aparece com variações, como "Play Premiado". O programa promete "mudar a vida" de quem procura renda extra, com uma suposta tecnologia que paga o usuário para assistir a vídeos em diversas plataformas, como Youtube, Instagram e TikTok.

O app também coleciona reclamações na Play Store e no ReclameAqui, como o comentário abaixo:

"Acabei acessando, fiz a minha inscrição e efetuei o pagamento só que eu não tive o acesso. O suporte entrou em contato comigo, super educada, e me disse que o site em que eu tinha feito [cadastro] não era oficial. E eu quero o reembolso do meu dinheiro, pois o curso que estão informando no site Evermart, não é nada relacionado ao Play Premiado".

Tilt contatou os desenvolvedores em questão, que não responderam a um pedido de comentário até o fechamento da matéria.

Money Look

Outro app fraudulento recentemente promovido por influencers, o Money Looks promete remunerar pessoas para curtir anúncios de roupas pouco vendidas na Shein, pagando até R$ 1 por curtida.

Para acessar, é necessário fornecer informações pessoais e bancárias na hora de concluir o cadastro e pagar R$ 97 — valor que supostamente seria retornado após o início das avaliações.

No entanto, os usuários não recebem o dinheiro pelas respostas dadas e nem o estorno do valor.

"Tive que pagar 67,00 reais para baixar o app, onde não tive acesso. Quero meu reembolso, isso é propaganda enganosa e usam influenciadores para propagar essa mentira", comenta uma das reclamações no ReclameAqui.

Em matéria anterior de Tilt, a Shein ressaltou que o Money Looks não está vinculado de forma alguma aos seus serviços e que não faz pagamentos

O app é criminoso, mas... e a divulgação?

Para especialistas consultados pela reportagem, estes aplicativos podem ser enquadrados na categoria de estelionato - a indução ao erro para obter vantagem ilícita.

Patrícia Peck, advogada especialista em direito digital, explica que a legislação brasileira foi alterada em 2021, com a Lei 14.155/21, incluindo as fraudes digitais na categoria de estelionato.

"Uma fraude digital é caracterizada por qualquer situação em que dados pessoais ou bancários são usados de forma indevida — e é exatamente o que acontece com uma pessoa que usa esse tipo e aplicativo", explica a advogada a Tilt.

Márcio Chaves, advogado também especialista em direito digital, acrescenta que o estelionato também pode se estender a pessoas pagas para promover apps falsos, já que estão induzindo ao erro para dar vantagem a outros.

"Para usuários — famosos ou não — isso também pode configurar um crime. Se você sabe que se trata de um golpe, e ainda assim divulga, pode sim responder criminalmente por essa divulgação", explica.

Mesmo em casos que a pessoa não saiba que está promovendo um serviço fraudulento, ainda podem haver consequências judiciais: "ainda que ele consiga se esquivar de uma responsabilização criminal, ele também pode ter que responder na vara cível, a pagar indenização para aqueles que confiaram, que deram voto de confiança em uma figura pública", diz Chaves.

"Independentemente de crime, mesmo a situação de negligência, de associar seu nome e reputação para endossar algo que gere dano ou lesão a terceiros pode sim gerar responsabilidade civil para o influencer, por negligência e omissão", complementa Peck. "Por isso, é importante estar atento antes de endossar/impulsionar algo na Internet."

Fui vítima de um app fraudulento. O que faço?

  • Verifique se a adesão ao programa não está relacionada com assinatura (mensal, anual). Caso esteja, cancele o serviço imediatamente;
  • Denuncie na loja de aplicativo a sua experiência negativa;
  • Procure informações detalhadas da contratação para verificar qual a origem da empresa. Se conseguir algo, tente contato e solicite a restituição;
  • Se o sentimento e as informações levam a uma fraude escancarada, procure uma delegacia e realize um boletim de ocorrência;
  • Procure o meio de pagamento e verifique se é possível bloquear a transação.