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Há 10 anos meteoro explodiu sobre a Rússia e deixou 1.500 feridos; relembre

Pequeno asteroide atingiu a Terra sobre a cidade russa de Chelyabinsk, em 2013 - The Planetary Society/YouTube
Pequeno asteroide atingiu a Terra sobre a cidade russa de Chelyabinsk, em 2013 Imagem: The Planetary Society/YouTube

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo (SP)

16/02/2023 17h38

Não chega nem perto da catástrofe dos dinossauros, mas há exatos dez anos o mundo se assustou quando um asteroide caiu na Rússia, sem ter sido detectado com antecedência.

Ninguém morreu, mas cerca de 1.500 pessoas ficaram feridas e 7.200 prédios e casas foram danificados no episódio que ficou conhecido mundialmente como "Meteoro de Chelyabinsk".

Foi um dos maiores impactos de uma rocha espacial com a Terra que a humanidade presenciou — e registrou, com fotos e vídeos.

O que as pessoas viram e sentiram?

  • 15/2/2013 era um dia ensolarado de inverno
  • Às 9h20 (horário local), um meteoro muito grande e brilhante foi visto sobre a região dos montes Urais, na Rússia
  • Era uma verdadeira bola de fogo rasgando o céu
  • Dois minutos depois, ouviu-se um barulho de explosão e o chão tremeu
  • Vidros foram estilhaçados, paredes derrubadas, telhados quebrados
  • Alarmes de carros dispararam em uma barulheira ensurdecedora
  • Sistemas de comunicação sofreram interferências
  • Pessoas foram arremessadas e se machucaram com estilhaços voadores
  • Cerca de 1.500 se feriram, a maioria de maneira leve, em 6 cidades, principalmente Chelyabinsk
  • Milhares de meteoritos, de diferentes tamanhos, caíram em uma área de 35 km²
  • Uma trilha de fumaça ficou no céu
  • Na hora, ninguém entendeu exatamente o que havia ocorrido

Esta foi, provavelmente, a queda de rocha espacial na Terra mais bem documentada de nossa história. Muita gente tirou fotos e vídeos com seus celulares e o momento também foi gravado por câmeras em veículos — na Rússia, quase todos têm uma no para-brisa. Esses registros facilitaram o trabalho dos cientistas que, posteriormente, estudaram o evento.

O que aconteceu no céu?

Um asteroide de quase 20 metros de largura e 13 mil toneladas (grande para algo que nos atinge mas pequeno em termos astronômicos; estima-se que Chicxulub, o "dos dinossauros", tinha mais de 10 km de largura) entrou na atmosfera terrestre em altíssima velocidade (19 km/s).

Ele foi sendo queimado conforme avançava — a bola de fogo é produzida pois a rocha espacial comprime e aquece o ar à sua frente, que vira plasma. Mas, por seu tamanho expressivo, não foi totalmente destruído, como acontece com os meteoros que estamos acostumados a ver (as populares estrelas cadentes), gerados por rochas espaciais minúsculas.

O que restou dele explodiu a 30 km de altitude, se fragmentando em pedaços menores (de poucos centímetros a vários metros), que caíram em solo (chamados meteoritos).

Mas o que causou os danos e ferimentos nas pessoas não foi o impacto físico dessas rochas, mas sim a violenta onda de choque (grande liberação de energia e distúrbios de pressão) gerada no momento em que o asteroide explodiu. Segundo a Nasa, foi equivalente a uma explosão de 440 quilotons de TNT, ou 35 bombas de Hiroshima.

Há relatos de que muitos fragmentos foram achados por moradores, mas escondidos das autoridades e cientistas — alguns são comercializados na internet. O maior deles que se tem registro, com 60 cm e 650 kg, caiu no lago Chebarkul e foi recuperado pelo governo meses depois.

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Maior meteorito foi retirado do lago e exposto no Museu Estadual de História do Sul dos Urais, em Chelyabinsk, Rússia
Imagem: Andrey Tkachenko/Reuters

Entenda melhor as diferenças entre asteroides, meteoros, meteoritos e mais.

Quais foram as consequências?

Além do grande susto para a população da região, foi contabilizado um prejuízo de US$ 33 milhões (R$ 170 milhões). Um ginásio danificado forçou até o adiamento de jogos do time local de hóquei no gelo, o Traktor Chelyabinsk, que disputava a principal liga do país.

Mais que isso, a possibilidade de uma rocha espacial do nada atingir a Terra se tornou uma preocupação no mundo todo. Como nenhuma agência espacial ou observatório percebeu sua aproximação?

Este asteroide específico não havia sido detectado pois chegou "escondido" pelo brilho do Sol — e há muitos outros como ele, ofuscados, em trajetórias desconhecidas, que eventualmente podem entrar em rota de colisão com a Terra.

Mas não é algo comum. A ESA (agência espacial europeia) estima que impactos da magnitude de Chelyabinsk (ou maiores) aconteçam a cada 50-100 anos.

A última vez que havia ocorrido tinha sido justamente na Rússia, em 1908. O "Evento de Tunguska" também foi, ao que tudo indica, gerado pela queda de um objeto espacial de 20 metros de largura (fragmento de cometa ou asteroide), que explodiu a menos de 10 km da superfície. Por ser sobre uma área pouco habitada, na Sibéria, as vítimas foram 80 milhões de árvores, com a devastação de 2.000 km² de floresta.

O que mudou?

Não muito. Seguimos com dificuldades para prever impactos de rochas espaciais com a Terra com antecedência suficiente. Inclusive, na semana passada, uma pequena (1 m) caiu sobre o Canal da Mancha, entre a França e o Reino Unido. Ela foi descoberta algumas horas antes — foi apenas a sétima vez que conseguimos fazer isso.

No caso de Chelyabinsk, mesmo essa pequena antecedência já teria sido suficiente para alertar a população, para que pelo menos as pessoas se abrigassem em locais seguros e não ficassem próximas de janelas, reduzindo muito os feridos.

Astrônomos profissionais e amadores do mundo colaboram em um grande esforço para tentar encontrar estes pequenos corpos vagando pelo espaço. Novos telescópios infravermelhos também estão sendo desenvolvidos para focar nesta busca.

O lado "bom" é que asteroides maiores e potencialmente apocalípticos são mais fáceis de serem detectados — estima-se que já tenhamos descoberto a grande maioria daqueles com pelo menos 1 km de largura.