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Com os pés, jovem desenvolve sistemas e cria plataforma para programadores

Ed Rodrigues

Colaboração para Tilt, em Recife

10/04/2022 04h00

Desde os 16 anos, o programador Diego Alves desenvolve profissionalmente aplicações e sistemas. Atualmente com 25, já trabalhou em instituições importantes, como o Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, e fundou o site Programadores Brasil, um hub de notícias para o segmento.

Tudo o que Alves precisa é de um pequeno ajuste: o computador precisa ficar em uma altura que ele alcance com os pés.

"Desde pequeno, tenho uma deficiência física. Não tenho os dois braços e os ossos das minhas pernas não se desenvolveram bem. Segundo os médicos, foi malformação congênita. Eu fiquei com 1m40 de altura", conta a Tilt.

Alves é perito em aplicações web em linguagens como PHP, Java e C#, tem experiência em bancos de dados e criação de programas para Windows. Mas, de olho nas tendências do mercado, agora ele atua em outro nicho: computação em nuvem.

"Há dois anos, passei para manutenção de servidores porque hoje em dia é tudo nas nuvens. Ainda programo, mas trabalho atualmente com manutenção de servidores", explica.

Sites para os amigos

Desde o início da carreira, aos 13 anos, Alves circulou por diferentes segmentos. A paixão pela tecnologia começou na infância: ele era o garoto que todo mundo consultava para resolver problemas no videogame, na TV por assinatura etc.

"Eu tinha aquela curiosidade de entender como as coisas funcionavam", relembra.

Quando descobriu que amigos e conhecidos precisavam lançar sites de seus negócios, viu sua primeira oportunidade para ganhar dinheiro com o que mais amava.

"Comecei a fazer cursos de HTML por conta própria e, quando vi, já estava programando PHP", explica. A partir de então, nunca mais parou

O capacitismo das empresas

O mercado bem tentou pará-lo. Sempre programando com os pés, Alves acredita que ser uma Pessoa com Deficiência já lhe fechou muitas portas nas empresas.

"Em uma grande multinacional, fiz prova de raciocínio lógico, provas técnicas de programação e várias etapas do recrutamento", relembra. "Mas, quando expliquei o que eu precisava para trabalhar, o processo não foi adiante."

"Já passei por muita discriminação e ainda vou passar," ressalta, com um certo desgosto. "Já me incomodou bastante na adolescência, mas hoje não ligo mais. A questão racial também é muito presente, mas, no meu caso, a minha condição física se sobressai."

A galinha virou professora

Para lidar com estes obstáculos, Alves sempre recorreu ao bom humor. Então decidiu fazer piada com o dia-a-dia dos programadores em um perfil nas redes sociais, a Galinha Programadora (que, até hoje, ele usa como conta pessoal).

O que ele não imaginava é que muitas pessoas iriam se identificar com o conteúdo e tirar cada vez mais dúvidas sobre a profissão e o mercado. A Galinha virou um blog, a indexação nos mecanismos de busca bombou e o projeto cresceu ainda mais.

Foi quando se transformou no Programadores Brasil: um site de tecnologia para ensinar a programar. Sem muita burocracia, fácil de entender e com atualizações constantes sobre trabalho, linguagens e outros temas relevantes.

Hoje, a plataforma é atualizada por repórteres e redatores freelancers. Mas Alves sonha mais alto.

"Minha meta é um dia poder viver desse projeto", afirma. "Quero poder levar meu conhecimento de sistemas para outras pessoas. Quero ser um portal que passe notícia para esse público".