Topo

Futuro da ISS ameaçado? O que está em jogo em guerra entre Rússia e Ucrânia

ISS funciona no espaço há duas décadas - Nasa
ISS funciona no espaço há duas décadas Imagem: Nasa

Simone Machado

Colaboração para Tilt*, em São José do Rio Preto (SP)

03/03/2022 04h00Atualizada em 03/03/2022 09h39

A gravidade da invasão russa à Ucrânia, iniciada na semana passada, levantou dúvidas sobre o futuro da Estação Espacial Internacional (ISS) e fez com que a Nasa, agência espacial dos EUA, começasse a pensar em maneiras de o país manter o laboratório e morada de astronautas em órbita sem a ajuda da Rússia.

Há décadas a agência espacial russa, Roscosmos, e a Nasa tem uma parceria formal no funcionamento da ISS. Ela é mantida em colaboração entre os dois países mais o Japão, Canadá e a ESA (Agência Espacial Europeia).

Basicamente, a estação é dividida entre duas seções: o Segmento Orbital Russo e o Segmento Orbital dos EUA.

  • Villa e convidadas analisam motivos de guerra na Ucrânia no UOL Debate:

Papel russo e norte-americano

A Estação na órbita da Terra é resultado de uma longa e bem-sucedida parceria entre os países. Ela também se tornou um símbolo da diplomacia pós-Guerra Fria.

Para manter o funcionamento da ISS, os EUA são responsáveis por fornecerem energia elétrica e dar suporte de vida aos astronautas e cosmonautas (como a Rússia chama sua tripulação).

Ao mesmo tempo, o país liderado por Vladimir Putin fornece o sistema de propulsão para manter a estrutura de 500 toneladas em órbita, usando sua espaçonave Progress acoplada à estação.

Atualmente, a ISS abriga sete pessoas. Por lá, elas fazem experimentos, reparos e caminhadas espaciais com o objetivo de manter a estrutura da ISS funcionando e ter avanços científicos:

  • dois russos: Anton Shkaplerov e Pyotr Dubrov.
  • quatro norte-americanos: Mark Vande Hei, Kayla Barron, Thomas Marshbum e Raja Chari.
  • um alemão: Matthias Maurer.
Atriz Yulia Peresild (esquerda), cosmonauta Anton Shkaplerov (meio) e diretor Klim Shipenko (direita) - Roscosmos/Twitter - Roscosmos/Twitter
Cosmonauta Anton Shkaplerov (meio). diretor Klim Shipenko (direita) e atriz Yulia Peresild (esquerda) durante gravação de filme russo na ISS em 2021
Imagem: Roscosmos/Twitter

Receios diante da guerra

A parceria de anos fora da Terra tem sido diplomática. Porém, a relação entre EUA, União Europeia e Rússia foi abalada diante dos ataques ao território da Ucrânia e às sanções aplicadas na sequência.

As primeiras imposições dos EUA foram determinadas pelo presidente norte-americano, Joe Biden, já na última quinta-feira (24). Em resposta, o chefe da agência espacial russa, Dmitri Rogozin, passou a insinuar em postagens no Twitter que sem a sua ajuda a ISS poderia cair e atingir à Terra.

A provocação fez com que diversas questões surgissem como: será que isso é realmente possível? A Nasa precisa da ajuda da Rússia para manter a ISS em órbita? O que aconteceria se a Rússia retirasse seu propulsor?

A chefe do programa de voos espaciais tripulados da Nasa, Kathy Lueders, explicou nesta semana que a empresa privada de defesa Northrop Grumman já havia oferecido serviços de propulsão, caso a Rússia decidisse abandonar a missão espacial em cooperação internacional.

Outra empresa, a do bilionário Elon Musk, também foi mencionada como opção para oferecer seus serviços. "E, você sabe, nosso pessoal da SpaceX está analisando se podemos ter capacidade para integrar a ISS", disse Lueders, em entrevista ao The Guardian.

Embora ela tenha dito que a ISS ainda está operando normalmente, Leuders acrescentou que a Nasa está sempre procurando maneiras de "obter mais flexibilidade operacional" — possivelmente, para não depender tanto de outros países.

"Nossos fornecedores de carga estão analisando como podemos adicionar recursos diferentes", completou.

Uma possível ajuda também foi sugerida por Elon Musk. Na semana passada, ele respondeu com uma foto do logotipo da SpaceX a postagem de Dmitri Rogozin, que perguntou "quem salvará a ISS da desorbitação descontrolada e da queda nos Estados Unidos?".

Apesar de duas possibilidades em vista, o representante da Nasa enfatizou que mesmo assim "seria muito difícil operarmos por conta própria", argumentando que a ISS foi criada com "dependências conjuntas".

E acrescentou que seria um "dia triste para as operações internacionais" se a Rússia realmente cumprisse sua ameaça de sair da estação espacial.

Clima tenso não é de agora

O posto avançado de exploração espacial foi lançado há 23 anos e tem sido continuamente ocupado por astronautas e cosmonautas por mais de duas décadas.

Contudo, esse não é o primeiro desafio enfrentado pelas duas agências espaciais. Durante a invasão russa à Crimeia, em 2014, a Nasa também teve que lidar com a hostilidade dos líderes russos.

Na época, os norte-americanos dependiam do foguete russo Soyuz para o envio de astronautas para o espaço, principalmente após aposentar seu ônibus espacial, em 2011.

No ano passado, a Rússia chegou a explodir um satélite antigo, e os detritos ameaçaram a segurança da ISS. A situação chegou a gerar críticas das demais agências que operam no laboratório fora da Terra.

Imagens de satélite mostram avanço da Rússia contra Ucrânia

*Com informações do site Futurism