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Rússia diz que sanções dos EUA ameaçam futuro da Estação Espacial; entenda

Nasa
Imagem: Nasa

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt*, do Rio de Janeiro

25/02/2022 15h32

Sem tempo, irmão

  • Chefe da agência espacial russa Roscosmos colocou em dúvida cooperação com a Nasa
  • As duas agências trabalham juntas para administrar a Estação Espacial Internacional
  • Por enquanto, astronautas russos e americanos continuam trabalhando juntos sem problemas

O conflito entre Rússia e Ucrânia pode afetar até o espaço. Isso porque a parceria de décadas entre a Nasa, agência espacial norte-americana, e a Roscosmos, corporação equivalente russa, na Estação Espacial Internacional (ISS), está sob ameaça.

A chave da questão é as sanções aplicadas à Rússia pelos Estados Unidos, que foram anunciadas pelo presidente norte-americano, Joe Biden, na última quinta-feira (24).

"Se você bloquear a cooperação conosco, quem salvará a Estação Espacial Internacional (ISS) com uma órbita descontrolada de cair nos Estados Unidos ou… na Europa?", disse Dmitry Rogozin, diretor-geral da Roscosmos, em seu perfil no Twitter.

O chefe da Roscosmos ainda completou em um segundo tuíte: "Há também a possibilidade de uma estrutura de 500 toneladas cair sobre a Índia e a China. Você quer ameaçá-los com tal perspectiva? A ISS não sobrevoa a Rússia, portanto todos os riscos são seus. Você está pronto para eles?".

Rogozin faz menção ao fato de que a órbita e a localização do laboratório no espaço são controladas por motores russos. Vale lembrar que, atualmente, quatro astronautas da Nasa e dois cosmonautas russos vivem a bordo da Estação Espacial Internacional.

Ao jornal americano "The New York Times", o chefe da Roscosmos também disse que a extensão das operações da ISS até 2030, anunciada ano passado pelos dois países, não poderia acontecer até que as sanções às empresas russas fossem removidas. "Para nos dar capacidade técnica para produzir o que for necessário para essa extensão, essas restrições precisam ser levantadas primeiro", disse.

Por outro lado, à CNN, Rogozin também disse que "esta é uma família, onde o divórcio dentro de uma estação não é possível".

Apesar dos tuítes do chefe, a Roscomos continua cumprindo suas obrigações internacionais na operação da ISS, segundo o comunicado do especialista-chefe do serviço de imprensa da agência ao site "The Verge". Os astronautas e cosmonautas a bordo da Estação Espacial permanecem trabalhando juntos.

Resposta da Nasa

A Nasa não respondeu diretamente aos comentários de Rogozin no Twitter. No entanto, a agência espacial afirma que "continua trabalhando com a Roscosmos e outros parceiros internacionais no Canadá, Europa e Japão para manter operações seguras e contínuas da Estação Espacial Internacional", segundo Josh Finch, porta-voz da agência, em um comunicado enviado ao "The Verge".

A Nasa ainda disse em comunicado para a CNN que as sanções do governo Biden à Rússia não impedem a cooperação espacial civil EUA-Rússia. E que nenhuma mudança está planejada no apoio da agência para operações contínuas em órbita e estações terrestres.

As duas organizações trabalham em cooperação na Estação e, por isso, certas manutenções precisam de apoio dos dois lados. O ex-astronauta da Nasa Garrett Reisman lembra que "o segmento russo não pode funcionar sem a eletricidade do lado americano, e o lado americano não pode funcionar sem os sistemas de propulsão que estão do lado russo", disse em nota à CNN.

Parceria de longa data

Há décadas a Roscosmos e a Nasa têm uma parceria formal no funcionamento da ISS. Atualmente a estação é dividida entre duas seções: o Segmento Orbital Russo e o Segmento Orbital dos EUA. Ela é mantida em colaboração com os EUA, Rússia, Japão, Canadá e a Agência Espacial Europeia.

No entanto, o elo entre os dois países é ainda mais antigo, anterior à ISS. As duas organizações espaciais, Roscosmos e a Nasa, já trabalharam juntas até durante a era Apollo — missões espaciais à Lua coordenadas pela Nasa. A parceria foi feita no projeto de teste Apollo-Soyuz em 1975, missão conjunta do Projeto Apollo e do programa espacial soviético na época.

Mas este não é o primeiro desafio enfrentado pelas duas agências espaciais. Durante a invasão russa à Crimeia, em 2014, a Nasa também teve que lidar com a hostilidade dos líderes russos.

Na época, os norte-americanos dependiam do foguete russo Soyuz para o envio de astronautas para o espaço, principalmente após aposentar seu ônibus espacial, em 2011.

Na época, a Rússia chegou a explodir seu próprio satélite, e os detritos ameaçaram a segurança da ISS. Mas a parceria entre os países no espaço se manteve, e a coordenação das duas agências que garantiu a segurança da tripulação.

O jogo virou?

A Roscosmos, por sua vez, também depende da Nasa para manter suas pesquisas na ISS funcionando. Isso porque a agência norte-americana investe de US$ 3 bilhões a 4 bilhões no projeto todos os anos.

"Acho justo dizer que a Rússia pode perder mais do que nós", disse Todd Harrison, diretor do projeto de segurança aeroespacial do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA, ao "The Verge".

Harrison ainda cita que o programa espacial da ISS é importante no portfólio espacial russo. "Eles realmente não têm outras conquistas dessa magnitude para apontar. Estariam perdendo uma tremenda plataforma científica, mas também um tremendo símbolo de status como uma superpotência espacial se não tivessem a ISS", completou.