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Starlink promete internet na Ucrânia, mas como Elon Musk driblou russos?

Camila Mazzotto

Colaboração para Tilt, São Paulo

03/03/2022 08h57Atualizada em 04/03/2022 08h16

Enquanto enfrenta oscilações e interrupções de conectividade provocadas pelos ataques russos, a Ucrânia recebeu no dia 28 de fevereiro um carregamento de terminais para ativar o serviço de internet via satélite da Starlink, empresa de Elon Musk. A ação ocorreu menos de três dias após o governo ucraniano ter solicitado a ajuda do bilionário sul-africano — em tom de críticas.

"A Starlink chegou. Obrigado Elon Musk", escreveu no Twitter Mykhailo Fedorov, vice-primeiro-ministro ucraniano, com uma foto de um caminhão transportando alguns terminais. "De nada", respondeu Musk na mesma rede social.

Fedorov, que também é responsável pelo setor digital do governo ucraniano, havia chamado a atenção do fundador da SpaceX no sábado à noite, dia 27, em meio aos ataques da Rússia contra o seu país. "Enquanto vocês estão tentando colonizar Marte, a Rússia está tentando ocupar a Ucrânia!", tuitou.

Não demorou muito para que o bilionário, que também é dono da empresa de veículos elétricos Tesla, anunciasse que o serviço Starlink estava ativo na Ucrânia e que outros terminais estavam a caminho.

A rede de satélites poderia fornecer internet em áreas afetadas pelo exército russo no país, mas ainda não se sabe quantos aparelhos foram enviados — e nem como a SpaceX conseguiu enviá-los.

Como os equipamentos chegaram ainda é mistério

Dirigir um caminhão de entrega lotado de equipamentos de internet via satélite em uma zona de guerra ativa não é, de longe, uma tarefa logística simples. Nem mesmo Elon Musk parece saber como isso foi possível.

"Gostaria de poder dizer mais", disse o bilionário ao site de notícias SpaceNews. "Mas, sim, eu estava pensando a mesma coisa. Estranho que a SpaceX possa fazer isso".

Também não se sabe ainda quem terá acesso aos terminais, embora seja provável que líderes militares e políticos terão acesso prioritário ao sinal de internet via satélite.

No Twitter, um engenheiro de software ucraniano afirmou ter obtido acesso à internet por meio de um terminal em Kiev, capital da Ucrânia que é um dos principais alvos dos russos.

"O Dishy [antena parabólica da Internet via satélite Starlink] foi colocado do lado de fora da minha janela, mesmo sem ajustes", disse Oleg Kutkov. Segundo ele, a velocidade máxima foi superior a 200 Mbps durante um período de tempo. Mas não ficou claro como o engenheiro teve acesso ao dispositivo.

Em entrevista ao site The Verge, ele contou que comprou o equipamento há alguns meses pelo site de comércio eletrônico Ebay. Isso antes mesmo de a Starlink iniciar a oferta de seu serviço de internet na Ucrânia. A compra da antena ocorreu, pois ele queria estudar a tecnologia do equipamento.

Sobre a Starlink

A rede de satélites de Elon Musk foi criada com o objetivo de oferecer internet ultrarrápida, com velocidade de download entre 100 Mb/s e 200 Mb/s, e de baixa latência (a capacidade de resposta da rede a uma solicitação). Isso resulta em uma conectividade mais rápida e eficiente.

O plano da empresa é ter uma constelação gigante com 14.000 satélites avançados que funcionam em órbitas baixas. Até o momento, já foram 35 lançamentos. Em torno de 2.000 minissatélites já estão em funcionamento no espaço.

Basicamente, para funcionar, basta conectar o terminal (antena) e ele se liga automaticamente ao satélite Starlink mais próximo. Em seguida, o satélite se conecta com a estação terrestre (gateway) que também estiver mais próxima, a responsável por fornecer a internet.

No caso da Ucrânia, há uma porta de entrada para um gateway situado na vizinha Polônia, segundo informações da BBC Internacional. A conexão com a internet, então, vai do gateway para o satélite e, por fim, ao terminal: os usuários só precisam configurar e conectar o roteador e esse sistema.

E como os terminais precisam de uma visão limpa do céu para funcionarem, existe um aplicativo para ajudar o público a encontrar o melhor local para conectá-los — que pode ser em cima de casas, no telhado.

Como o sinal é emitido diretamente via satélite para o receptor, sem a necessidade de cabeamentos, a rede também é capaz de oferecer internet em regiões remotas. A tecnologia já conseguiu direcionar, por exemplo, 50 terminais de Starlink para a nação insular de Tonga, no Oceano Pacífico, que sofreu interrupções na comunicação após a erupção de um vulcão submarino.

Em 2020, terminais de Starlink enviados à Divisão de Gerenciamento de Emergências de Washington, nos Estados Unidos, também forneceram internet para áreas rurais, onde socorristas estavam lutando para combater incêndios florestais.

Não há informações se os ucranianos serão cobrados pela tecnologia. Mas para se ter uma ideia, aqui no Brasil todo o equipamento e assinatura do serviço podem chegar a R$ 11 mil. No Reino Unido, por exemplo, custará 495 libras (R$ 3.371, 22) pelo terminal e 89 libras (R$ 606,16) de assinatura por mês.

*Com informações de Futurism e SpaceNews.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferente do informado, o empresário Elon Musk é sul-africano, e não americano. Texto foi corrigido.