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Rússia x Ucrânia: entenda a ciência por trás de abrigos contra bombas

24.fev.2022 - Pessoas são abrigadas em uma estação de metrô de Kiev, depois que o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou uma operação militar no leste da Ucrânia - Viacheslav Ratynskyi/Reuters
24.fev.2022 - Pessoas são abrigadas em uma estação de metrô de Kiev, depois que o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou uma operação militar no leste da Ucrânia Imagem: Viacheslav Ratynskyi/Reuters

Rodrigo Lara

Colaboração para Tilt, de São Paulo

25/02/2022 14h23

Quem está acompanhando o conflito entre Rússia e Ucrânia provavelmente viu cenas de pessoas correndo para os metrôs de Kiev, capital ucraniana, para se abrigar de explosões. Da forma como foram construídas, algumas estações da cidade podem servir como abrigos antibombas. Mas isso não significa que elas sejam, de fato, iguais a bunkers feitos para esse fim.

Aliás, você sabe como funciona um bunker? A seguir nós contamos o princípio básico de funcionamento dessas estruturas que podem salvar vidas diante de conflitos armados.

Como funciona?

O princípio básico de um bunker é ser uma estrutura capaz de suportar o impacto de bombas e, com isso, proteger quem está em seu interior tanto de explosões quanto do deslocamento de ar decorrente — os impactos podem envolver danos em órgãos do corpo e também aos ouvidos.

Em geral, um bunker pode suportar mais de dez vezes a pressão atmosférica, número que pode variar de acordo com a localização da estrutura e possíveis reforços. Há, claro, variações disso, como construções dedicadas a abrigar pessoas de desastres naturais, por exemplo.

Os bunkers costumam ser feitos de generosas paredes de concreto armado e metal (elemento químico caracterizado pela resistência), como o aço, com estrutura em forma de arco para potencializar sua resistência. E, não necessariamente, ficam enterrados — ainda que essa solução seja a mais eficiente no quesito proteção.

No caso dos tipos enterrados, muitas vezes utiliza-se o terreno a favor na construção de bunkers, com instalações localizadas dentro de montanhas, mas eles também podem ficar expostos.

As portas também ganham atenção especial e elas precisam ser tão resistentes quanto as paredes da construção. Uma solução mais comum é usar aço nessas porções, mas porções grossas de madeira também servem, já que esse material carboniza ao invés de derreter quando submetido a altas temperaturas.

Por fim, construções mais extremas, como as desenhadas para suportar explosões nucleares, também precisam ser capazes de bloquear a radiação. E, nesse formato, é necessário que haja um estoque de suprimentos para que as pessoas abrigadas possam passar dias lá dentro até que o exterior esteja seguro.

Dúvidas comuns

Estações de metrô podem ser consideradas bunkers?

Tecnicamente, não. Geralmente, construções subterrâneas como estações de metrô podem ser usadas como abrigos de emergência para alocar um grande número de pessoas, especialmente em grandes centros urbanos.

No caso da Ucrânia, especificamente, o sistema de metrô começou a ser concebido há muito tempo, em 1884, quando a região fazia parte do Império Russo. Ele foi completado na década de 1960, quando a Ucrânia fazia parte da União Soviética.

Eram tempos de Guerra Fria e isso fez com que o projeto incluísse estações construídas em grandes profundidades, de forma a servir como proteção em caso de guerra — uma estação de Kiev chamada Arsenalna é considerada a mais profunda do mundo, chegando a 105,5 metros abaixo da superfície.

Como comparação, a estação mais profunda da América Latina é a Higienópolis-Mackenzie, da linha Laranja do metrô de São Paulo. Ainda não foi inaugurada, mas está prevista para ter 69 metros de profundidade.

A solução de reunir pessoas em estações de metrô não é nova: na Segunda Guerra Mundial, era comum que a população de Londres, na Inglaterra, se refugiasse em estações do metrô para se proteger de bombardeios alemães.

Apesar de serem um bom abrigo emergencial, o fato de estarem abertas impede que essas estações sejam classificadas como bunkers. Em caso de uma explosão nuclear, por exemplo, não há por ali proteção contra a radiação.

Como é possível respirar dentro de um bunker?

Um dos grandes desafios na construção de um bunker é garantir que as pessoas ali abrigadas consigam respirar normalmente. Além de sistemas de ar-condicionado, bunkers contam com estruturas de ventilação capazes de fazer a troca do ar interno pelo externo — e, muitas vezes, há filtros para evitar que radiação entre por essa estrutura.

No caso de estações de metrô, isso já é naturalmente pensado para que a circulação de ar se mantenha diante do fluxo de passageiros.

Bunkers são capazes de resistir a tudo?

Depende. Considerando bombas convencionais e até atômicas — quando construídos para esse fim —, a tendência é que os bunkers suportem impactos.

Há, porém, armamentos como mísseis e bombas desenhados especificamente para destruir essas instalações, sendo capazes de penetrar nelas antes de detonarem.

Fontes:

  • Pedro Henrique Cerento de Lyra, professor de Engenharia Civil do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)
  • Victor Missiato, professor de História do Colégio Presbiteriano Mackenzie Tamboré