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Se a covid-19 fosse um vírus de computador, seria bem mais fácil eliminá-lo

O professor da USP Luli Radfahrer - Divulgação/USP
O professor da USP Luli Radfahrer Imagem: Divulgação/USP

Carina Gonçalves

Colaboração para Tilt

25/01/2021 04h00

Um dia poderemos lutar contra um supervírus cibernético que tenha, nos computadores, o mesmo potencial rápido de contaminação e de destruição que vimos no coronavírus da covid-19. Mas seria muito mais fácil identificar o problema, correr atrás da solução e forçar uma "vacinação" em massa rapidamente, diz o professor em comunicação digital da USP (Universidade de São Paulo) Luli Radfahrer.

"Se ele [o suposto vírus de computador] fosse descoberto no final do ano passado e comunicado no começo desse ano, ele não seria nem mais lembrança em março. Todo mundo já estaria protegido e curado. Máquinas são muito mais simples", conta Radfahrer.

A explicação do professor é que nossos computadores estão cada vez mais atualizados e com sistemas de segurança potentes. Em um ciberataque moderno em pequena escala, conseguimos nos proteger atualizando o computador, colocando o antivírus e tomando cuidado nos sites que entramos.

Já no ataque cibernético em grande escala, como os contra infraestrururas da rede elétrica, de comunicação ou de saúde, não há uma solução imediata para o cidadão comum. Esse é o tipo de "covid cibernético" mais preocupante.

O CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) criou, em 2011, a categoria da guerra cibernética como algo que viola os Direitos Internacionais Humanitários (DIH). É algo que exige dos governos um arcabouço não apenas técnico, mas jurídico para atribuir responsabilidades e penas.

"Sempre depois de uma tragédia vem certa evolução do direito, então sempre estamos correndo atrás e agora estamos correndo atrás do mundo cibernético", afirma o jurista, ex-consultor da CICV no Brasil e consultor do senado, Tarciso dal Maso.

Ele alerta para o perigo de ciberataques poderem ocorrer a qualquer momento. Na sua visão, os países que estão ameaçados por uma guerra cibernética são aqueles com inimigos e precisam investir pesadamente em segurança, como os Estados Unidos.

O Brasil precisa se preocupar com ciberataques?

Algo mais próximo de um "covid digital" aconteceu nas eleições para prefeitos e vereadores de 2020. Os sistemas do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sofreram uma tentativa de invasão no começo de novembro, tendo como suspeito o grupo hacker português Zambrius. Ocorreu um atraso de horas para a divulgação dos resultados, mas não impediu a realização da contagem.

O fato abriu a discussão se o Brasil começa a se preocupar com uma guerra cibernética no país. Para Radfahrer, não há motivo para preocupação. Na sua opinião, o Estado brasileiro não tem tantos inimigos e uma ação dessa magnitude não iria beneficiar financeiramente os criminosos. Ainda assim, é preciso tomar cuidado com hackers de grupos organizados como o PCC (Primeiro Comando da Capital), que promovem pequenas ações virtuais.

Como se proteger?

Caso aconteça um ataque em grande escala, não existe por parte da população uma maneira de se proteger. Mas é possível cumprir algumas medidas de segurança para invasões particulares ou de menor porte:

1 - Não clicar em qualquer link estranho;

2 - Evitar o uso de softwares piratas;

3 - "Faxinar" o disco rígido do computador pelo menos uma vez por ano. Se possível, faça backup de arquivos em outro disco, formate o seu disco do computador e reinstale o sistema operacional, como se você estivesse fazendo uma grande limpeza digital;

4 - Evitar realizar operações com seus dados pessoais em redes públicas de internet, como em LAN houses ou bibliotecas;

5 - Manter sempre os programas atualizadas e atualizar regularmente o sistema operacional.