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Ricardo Cavallini

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Startup de educação mais valiosa dos EUA lucra ajudando alunos a colar

Sasin Tipchai/ Pixabay
Imagem: Sasin Tipchai/ Pixabay

16/02/2021 04h00

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Seria irônico se não fosse trágico, a mais valiosa startup de educação nos Estados Unidos é entendida por alunos e críticos como uma empresa que ajuda alunos a colar a lição de casa e provas online.

Cobrando US$ 14,95 por mês, a Chegg permite que estudantes enviem suas dúvidas ou até foto das perguntas em seus livros para que especialistas respondam mostrando o passo a passo de como resolver as questões.

Professor particular por assinatura, mas que traz uma linha bem tênue entre o aprender e simplesmente pegar a resposta, copiar e colar. Advinha como os alunos estão usando?

Você, amigo que tem fé na humanidade, errou. A ferramenta tem feito tanto sucesso que virou verbo na boca dos adolescentes norte-americanos.

Você sabe responder isso? Não, dá um Google. Que mané Google nada, vou dar um Chegg mesmo e vou jogar Free Fire. Free Fire? Credo.

A plataforma não apenas sabe disso como já foi acusada de ser leniente, foi inclusive acusada pela consultoria de investimentos Citron Research de criar fóruns internos para ensinar alunos a burlar ferramentas de checagem.

Algumas escolas ou universidades (tanto lá como aqui no Brasil) usam sistemas para descobrir plágios. E o caso do Urkund e Turnitin, sistemas que comparam TCCs, teses e outros materiais com conteúdo entregue por outros alunos, livros, publicações e, claro, a própria internet.

Apesar da empresa ter foco em ajudar os alunos, provendo ajuda 24x7 para tirar dúvidas e ensinar a lição de casa, pedir para a plataforma filtrar o mau uso da solução é o mesmo que pedir para o Facebook evitar o ódio nas redes.

Já tem gente dizendo que eles criaram uma categoria nova de serviços, o CaaS (Cheating as a Service). Em uma tradução livre, algo como trapacear por assinatura, uma brincadeira às soluções de SaaS, plataformas que cobram software pelo uso, como é o caso de Dropbox e outros serviços de nuvem por assinatura.

E para você que tem um filho ou filha que nunca roubaria no jogo, a ferramenta ainda tem o seu valor. Ela realmente funciona como um professor particular por um preço muito acessível. Começou com física e matemática e hoje atende uma grande variedade de assuntos e problemas, de economia a biologia, de programação a química.

Quem ficou preocupado com o desafio que isso traz para a educação, vale lembrar que este é um caminho sem volta. Mesmo que proibirmos soluções como a Chegg, em poucos anos teremos inteligência artificial dando essas respostas.

Com a capacidade da IA de responder usando estilos diferentes, será praticamente impossível que os professores ou sistemas de checagem descubram se o aluno roubou no jogo ou não.

Já existem soluções que permitirão muito em breve escrever uma redação usando o estilo do Monteiro Lobato ou, neste caso, o estilo do próprio aluno. Você escreve o primeiro parágrafo e a ferramenta preenche o resto.

"Ei, IA, escreva três páginas sobre o BBB21 e o cancelamento dos canceladores usando o meu estilo de texto."

Ou mesmo coisas mais simples como "pegue essa resposta e reescreva usando outras palavras e outras combinações de estrutura para que não seja similar ao original".

Com o avanço necessário da educação a distância, está na hora de revermos outros conceitos. Já sabemos que o sistema atual de educação precisa ser revisto. Chegg e novas tecnologias apenas deixarão isso mais claro, estampado em nossas testas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL