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Ricardo Cavallini

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Redes sociais imitam games para cobrar do usuário. E pode custar caro

Game "Clash of Clans" oferece compras ao usuário a preços altos. Redes sociais vão seguir o mesmo modelo de negócio? - Reprodução
Game 'Clash of Clans' oferece compras ao usuário a preços altos. Redes sociais vão seguir o mesmo modelo de negócio? Imagem: Reprodução

06/03/2023 04h00

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Email inválido

As redes sociais podem piorar e muito. Uma frase bem conhecida diz que nas redes, se não pagamos pelo uso, o produto somos nós. A tendência é que a gente comece a pagar por isso, e continue sendo o produto.

Notícia velha: o Twitter começou a cobrar pelo selo de verificação. Notícia mais fresca: a Meta imitou a iniciativa e começou a oferecer a verificação paga no Instagram e no Facebook.

Em breve, outras funções poderão ser cobradas. O próprio Twitter já está fazendo isso. O pacote do Twitter Blue permite que você edite um tuíte já publicado, faça upload de vídeos mais longos e outras vantagens. Todas são funções básicas que deveriam estar disponíveis a todos.

É patético que uma plataforma com mais de 15 anos não tenha evoluído nada. Não existe nada mais básico que poder editar um post.

A mais polêmica das funções pagas é a autenticação por dois fatores. Para ter mais segurança que sua conta não seja hackeada, tem que pagar. Ridículo.

Quando penso no futuro das redes sociais, com a cobrança por microsserviços, uma característica do universo dos jogos de celular me vem à mente. E é uma má ideia que pode virar uma notícia ruim.

Você tem costume de jogar no celular? Já percebeu os valores absurdos que são cobrados por funções extras?

Para quem não está acostumado, fiz uma rápida pesquisa na loja da Apple e busquei alguns valores de exemplo.

Para remover a propaganda por 30 dias em jogo de palavras cruzadas você precisa pagar R$ 22,90. É um valor absurdo. Independente da conversão do dólar, pense que algumas plataformas de streaming que investem bilhões em conteúdo cobram menos por mês.

Um cesto de gemas do "Clash of Clans" custa de R$ 27,90 a R$ 549,90.

Em todos esses jogos, moedas duram pouco tempo. Se você é um jogador assíduo, não duram quase nada.

Pense que a assinatura do pacote de games da Microsoft custa R$ 29,99 por mês. Um jogo triple A que tem milhões em investimento e dura anos para ser produzido custa menos que isso.

"Fifa 23" ou "God of War: Ragnarok" saem por menos de R$ 300 cada. E são seus para sempre.

Alguns que já deixaram de ser novidade —mas ainda assim são bem mais novos que "Clash of Clans"— ficam ainda mais em conta.

O jogo de corrida "Gran Turismo 7" sai por menos de R$ 180.

E sabe por que isso acontece?

Porque tem gente pagando por isso.

Sim, a desigualdade não é apenas um monte de gente passando fome no mundo. O outro lado é um bando de gente com grana suficiente para queimar. Ainda que em uma porcentagem absurdamente menor, tem tanta grana que faz sentido cobrar valores absurdos.

Para o desenvolvedor de jogos de celular, é mais fácil achar 100 pessoas no mundo que aceitem pagar R$ 500 do que mil que aceitem pagar R$ 5.

Acredite, esses caras fazem contas e testes e mais testes no mundo inteiro. Se o valor é alto, é porque compensa e tem gente pagando por isso.

Por isso, estou fazendo esse paralelo com os jogos. Tem muita gente disposta a pagar. Pagar muito por funções básicas.

É uma ótima notícia para as redes, péssima para nós. Pelo menos se você, assim como eu, está no grupo que acha caro pagar mais R$ 30 por mês para não ver uns banners em um único joguinho casual.

Mesmo pagando, alguma dúvida que vamos continuar sendo produto?

Continuaremos sendo feitos de otários pelo algoritmo.

A gente já fazia isso de graça, agora ainda vamos pagar por isso.