Topo

Ricardo Cavallini

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Metaverso? Que nada. Se Meta quiser crescer, precisa apostar nisto aqui

Investimentos do Meta poderiam focar nos criadores, como outras redes sociais têm feito e obtido sucesso - Dado Ruvic/Reuters
Investimentos do Meta poderiam focar nos criadores, como outras redes sociais têm feito e obtido sucesso Imagem: Dado Ruvic/Reuters

01/11/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Nos últimos dias, as ações do Facebook tiveram nova grande queda. O problema não foi apenas por apresentar resultados abaixo das expectativas, mas porque todos os sinais não são bons.

Está perdendo espaço e relevância para o TikTok, principalmente entre os mais jovens. A curva de crescimento de usuários chegou ao seu limite em regiões importantes como Estados Unidos e Europa. O faturamento em propaganda traz desafios enormes impostos pelas novas regras de privacidade da Apple e novas legislações.

Então, apesar de seu faturamento e lucro ainda serem astronômicos, o mercado parece ter perdido a fé na empresa. Principalmente quando a sua maior aposta, o metaverso, por enquanto é nada mais do que isso: uma aposta. E arriscada, bem arriscada.

O resultado é que a empresa que chegou a constar no seleto clube de empresas que valem US$ 1 trilhão, hoje vale uma fração disso, saindo até da lista das 20 maiores empresas norte-americanas.

Não que os analistas não acreditem no metaverso, mas ele seria suficientemente grande —e sua evolução rápida o bastante— para substituir esse inferno astral que a empresa está passando?

A minha provocação é que, na ganância de Zuckerberg de dominar o mundo novamente, a empresa está cega para uma oportunidade muito mais interessante e muito menos custosa.

Minha sugestão seria fazer o que ninguém esta fazendo direito: abraçar os criadores.

Sim, parece banal, mas é a fórmula de sucessos recorrentes.

O YouTube deu voz a milhões de criadores de áudio e vídeo que não tinham espaço no restrito e limitado universo da TV ou cinema.

A famosa frase de Glauber Rocha —"uma câmera na mão e uma ideia na cabeça"— ganhou um entendimento literal e transformou a plataforma no maior sucesso de audiência, abocanhando mais tempo dos consumidores do que Netflix ou TV aberta.

Porém, para continuar crescendo, o YouTube hoje pressiona os criadores a fazer volume no lugar de qualidade. E isso fez a plataforma perder oportunidades reais. Entre Felipe Neto e Round 6, existe um caminhão de formatos mal explorados.

Netflix é outro bom exemplo, não apenas por quebrar o formato tradicional de investimento e formato de produções de Hollywood, mas por investir em produções locais.

Sua verba impulsionou a produção de filmes e séries em países onde este segmento era pequeno ou praticamente inexistente, como o Brasil.

Também serviu para ampliar a abrangência de produções que eram limitadas a seus países. Séries dramáticas coreanas, por exemplo, agora fazem sucesso em países distantes (inclusive culturalmente) como o Brasil.

A Twitch focou em streamers de jogos e se tornou um gigante nesta categoria.

O próprio Instagram é um exemplo deste sucesso, pois permitiu o mercado de influenciadores crescer e prosperar.

Mais recentemente, o TikTok transformou todo mundo em microcelebridade. Pessoas normais ganhando visibilidade fazendo coisas normais, que qualquer pessoa normal pode fazer. Dançar com as mesmas músicas e coreografias, imitar os memes que todo mundo imita ou dar close na bunda com roupa de academia é suficiente para garantir atenção na rede.

Não me entenda mal, é claro que existe muita coisa boa no TikTok, mas você entendeu meu ponto.

Perceba que cada um desses exemplos aposta de maneiras diferentes em criadores. São formatos diferentes, profundidades diferentes. Tudo diferente, mas a fórmula é a mesma.

Hoje o YouTube é quem melhor faz isso, mas de forma bem insatisfatória e cada vez pior. A competição com TikTok fez piorar a situação. A ferramenta passou a dar prioridade para os shorts que ainda não têm remuneração e, quando tiver, tudo indica que será bem inferior que a dos vídeos longos.

Acredito que ainda exista muito espaço para explorar com criadores, e o Facebook deveria trabalhar para reconquistá-los.

Eles fugiram do Facebook para o YouTube porque a plataforma passou a dar visibilidade apenas a conteúdo pago, o que faz sentido para marcas, mas não para criadores.

Eles fugiram do WhatsApp para Telegram porque é a única ferramenta que permitia monetizar e trabalhar com grandes grupos.

E eles agora estão bem decepcionados com o Instagram por diminuir ainda mais o seu alcance e seu engajamento.

Seria preciso fazer isso bem feito, pois em mais de uma ocasião o Facebook se mostrou não confiável em suas promessas e acordos com criadores.

Para citar apenas um exemplo, em meados de 2020, fechou contratos com centenas de streamers para migrar do Twitch para o Facebook. Em menos de um ano, cancelou contratos e deixou esses criadores na mão. Falta de planejamento ou abuso de poder e concorrência desleal?

Mas dito isso, a empresa ainda tem relevância e tem bastante poder de fogo.

No lugar de gastar US$ 10 bilhões por ano com o metaverso, poderiam criar uma solução para ser mais justa e mais generosa com os criadores. Visando um tipo de conteúdo que está sendo esmagado em outras plataformas, acredito que teriam muito mais sucesso, com muito menos risco e em muito menos tempo.