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Ricardo Cavallini

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tsunami do metaverso virou marolinha com números vergonhosos de usuários

Realidade virtual metaverso - Stella Jacob/ Unsplash
Realidade virtual metaverso Imagem: Stella Jacob/ Unsplash

14/10/2022 04h00

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Meses atrás, quando metaverso era o assunto do momento, escrevi um artigo com o título "Hoje metaverso é uma mentira em que todos fingem acreditar". A recepção não foi muito boa, recebi muitas mensagens diretas críticas, de palestrantes, influenciadores e profissionais de agências de publicidade. Segundo eles, eu estava prestando um desserviço ao criticar algo que estava movimentando o mercado.

Meses depois e dezenas milhões gastos em ações de marketing, palestras e tudo mais, acaba de sair uma matéria na CoinDesk com informações do agregador DappRadar, mostrando que plataformas avaliadas em 1 bilhão de dólares têm uma quantidade ridícula de usuários.

Para dar um exemplo, o Decentraland que é avaliado em US$ 1,2 bilhão tem cerca de 38 usuários em um período de 24 horas. Com variação de centenas, esses números vergonhosos se repetem em outras plataformas.

Segundo a Coindesk, o Diretor Criativo da plataforma, Sam Hamilton, defendeu a mesma afirmando que "o número de turistas e espectadores esfriaram". Com o hype do assunto, era comum que muita gente entrasse para ver como funcionava e para experimentar, mas é muito preocupante e infeliz a afirmação de que o número de usuários caiu.

A discussão sobre os números perde completamente o sentido com valores tão baixos. O número poderia ser mil vezes maior, algo como 38 mil pessoas. Essa avaliação de U$ 1 bilhão continua não fazer sentido se o número não cresce exponencialmente.

Em dezembro de 2021, o Instituto Kantar Ibope Media anunciou que já existiam 5 milhões de brasileiros no Metaverso. Os valores não batem porque o Ibope, assim como muitos marketeiros, misturam todas as bolas para inflar seus números e chamar atenção. Nesta conta estão todos os jogares de League of Legends e Fortnite. Em ações de publicidade, os números não são do metaverso, mas de influenciadores fazendo lives para seus seguidores.

Enquanto isso no Brasil, o país que adora uma modinha, tem até influenciador vendendo cursos ensinando você a ficar rico com o tal metaverso.

Quem trabalha com inovação conhece bem as ondas de expectativa. Este ciclo foi muito bem apresentado graficamente pela consultoria Gartner.

Seu gráfico mostra que, quando uma tecnologia aparece, existe uma expectativa exagerada sobre ela. É nesta onda que aparecem os gurus de LinkedIn falando sobre como o Metaverso vai mudar sua vida de ponta cabeça e por que você deveria parar tudo para ler seus artigos, assistir sua palestra e comprar seus cursos.

Com a expectativa não cumprida, seguimos para a chamada "calha da desilusão", onde o efeito oposto é sentido. Somente com o passar dos anos, a tecnologia amadurece e ganha escala.

Dias atrás, Zuckerberg apresentou as novidades da Meta para o metaverso, como seus novos óculos Meta Quest Pro e avatares mais detalhados (e com pernas). O futuro é lindo, mas o custo ainda muito alto. Pode levar uma década para começarmos a ter números relevantes.

Isso não impede que empresas utilizem soluções muito relevantes, principalmente para minimizar os problemas causados pelo trabalho remoto, mas o custo inicial de U$ 1.500 mostra que o caminho ainda é longo.

O problema não é a tecnologia em si, mas a expectativa e o buzz que o mercado cria em torno dela.

No artigo inicial afirmei que provavelmente o metaverso será muito relevante no futuro, mas hoje é uma mentira que todo mundo finge que acredita e está tudo certo. A pergunta é, até quando? Por enquanto a expectativa exagerada do curto prazo só faz esse futuro parecer um castelo de cartas.