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Ricardo Feltrin

OPINIÃO

Por que o bispo Macedo não quer mudar "lei das TVs"

Bispo não quer grupos estrangeiros na TV aberta - Reprodução
Bispo não quer grupos estrangeiros na TV aberta Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

15/01/2023 08h55

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Há três anos, um poderoso lobby em Brasília uniu quatro das maiores emissoras de TV do Brasil: Globo, SBT, Band e RedeTV. Faz parte ainda desse lobby a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert).

A Record é a única TV aberta comercial que não está no grupo e não o apoia.

Vamos por partes

O que o lobby quer: Quer convencer o Congresso e o Executivo a mudarem o artigo 222 da Constituição. Esse artigo veta que grupos estrangeiros comprem acima de 30% do capital de emissoras abertas de TV ou rádio. A ideia é subir esse limite a 100%. Em outras palavras, que qualquer grupo internacional possa ter uma TV aberta só dele no Brasil.

Há chances de sucesso? Sim, mas vai depender da eficiência do grupo em convencer deputados, senadores e o presidente Lula a colocá-lo em votação.

O que o PT pensa sobre isso: Há anos petistas falam em "regulação da mídia". Assim como no governo Bolsonaro, a Globo é sempre o alvo principal desses "projetos", por causa de sua hegemonia. Pois a abertura do mercado para outros grupos poderia mudar todo o panorama da TV brasileira (e para melhor). A "desregulação" teria efeito transformador maior e melhor que a "regulação".

O que as TVs pensam sobre isso: Todas as TVs querem liberar a participação estrangeira. Por quê? Porque ela pode elevar o nível do conteúdo e seu dinheiro entrar como "aporte" para investimento em outros setores, como o próprio streaming. Hoje, só a Globo investe pesado nesse serviço.

Por que o bispo não quer?

Por que ele é o único dono de TV que não tem interesse nenhum em vender uma fatia de sua emissora para qualquer outro grupo?

Primeiro porque provavelmente nenhum grupo teria interesse em ser sócio na Record, pelo fato de a emissora ser "parte" de uma igreja. Isso afugenta qualquer investidor.

Segundo porque a TV representa dois negócios para Macedo: o econômico (o canal em si, do ponto de vista comercial); e o papel que ele faz ao atrair fiéis e dinheiro para a Igreja Universal;

Terceiro, porque, se aprovada a liberação da venda de até 100% do capital, grupos gigantescos como Warner, Disney, Paramount ou qualquer outro desembarcariam aqui e elevariam a qualidade da programação da TV aberta; e essa revolução tornaria a Record irrelevante.

Afinal, apesar da programação fraca, hoje ela é a vice-líder no ibope. Isso acabaria em pouco tempo. A audiência minguaria e a TV do bispo Macedo se tornaria um cadáver insepulto da mídia brasileira.

Além disso, com menos público, menos fiéis. Com menos fiéis, menos dízimos e doações.

Eis os motivos para Edir Macedo não querer jamais que a chamada "Lei das TVs" mude.

Para ele interessa que a TV aberta continue como no século passado.

Outros lados

Procurada, o Grupo Globo disse, por meio da CGCom, ter a mesma posição da Abert (abertura de 100% do capital).

Band, SBT e RedeTV também são favoráveis.

A Record não quis comentar.

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