Preso na ditadura, Ziraldo enfrentou militares e foi indenizado em R$ 1 mi

Morreu hoje o cartunista Ziraldo, aos 91 anos, um dos expoentes da literatura infantojuvenil brasileira. Paralelamente à carreira nas letras, o escritor também manteve uma vida política bastante ativa, sempre ligado à esquerda e, por isso mesmo, foi perseguido pela ditadura.

A vida política de Ziraldo

Formado em direito, Ziraldo nunca exerceu a advocacia para se dedicar às artes e ao jornalismo. Foi com seus quadrinhos em publicações como Jornal do Brasil e O Cruzeiro, que o cartunista passou a se expressar também politicamente.

Combate à ditadura e enfrentamento aos militares. Com suas charges e cartuns políticos, ele foi considerado uma das principais vozes na resistência ao autoritarismo e à opressão do regime militar, motivos pelos quais foi preso pelos ditadores.

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Imagem: Iwo Onodera/UOL

A primeira detenção aconteceu em dezembro de 1968, um dia depois da publicação do AI-5 (Ato Institucional Número 5), que marcou o início do momento mais repressivo da ditadura.

Criação de O Pasquim. Em 1969, Ziraldo, ao lado dos jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral, fundou o periódico que se tornou símbolo da resistência aos militares, além de um marco da contracultura brasileira da época. Não demorou para o semanário de humor se tornar alvo dos militares, motivo pelo qual o cartunista voltou a ser detido pelo regime, em 1970, ao lado de quase toda a equipe de O Pasquim. Ele retornaria à prisão naquele período uma terceira vez.

Ter podido atravessar os anos de chumbo fazendo O Pasquim foi uma dádiva. Morríamos de medo, mas fazíamos de tudo.
-- Ziraldo em entrevista à Folha de S.Paulo em 2007

Indenização milionária. Em 2008, Ziraldo foi considerado anistiado político pela perseguição sofrida na ditadura e teve direito a receber indenização paga pelo Estado no valor de R$ 1 milhão, segundo a Folha, além de pensão vitalícia de cerca de R$ 4 mil. Além dele, outros 20 jornalistas também foram indenizados pela perseguição sofrida no regime militar.

Cartunista rebateu críticas. Na época, Ziraldo foi criticado publicamente por ex-companheiros de enfrentamento à ditadura e reagiu afirmando que "o Brasil lhe devia" aquela indenização.

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Eu quero que morra quem está me criticando. Porque é tudo cagão e não botou o dedo na seringa. Enquanto eu estava xingando o [João] Figueiredo [último presidente da ditadura] e fazendo charge contra todo mundo, eles estavam servindo à ditadura e tomando cafezinho com o Golbery [do Couto e Silva, um dos idealizadores do golpe com atuação firme no regime]. Então, qualquer crítica que se fizer em relação ao que está acontecendo conosco eu estou me lixando.
-- Ziraldo ao rebater críticos por aceitar indenização

Filiações partidárias. O primeiro partido ao qual o cartunista se filiou foi ao PCB (Partido Comunista do Brasil). Em 2005, filiou-se ao PSOL e criou a logo usada até hoje pelo partido. Embora jamais tenha se filiado ao PT, apoiou as candidaturas vencedoras do presidente Lula e também as de Dilma Rousseff. Em 2018, endossou a candidatura de Fernando Haddad, que ficou em segundo lugar.

Vida e Obra

Ziraldo nasceu em Caratinga (MG), em 24 de outubro de 1932.

Começou sua carreira em 1954, na "Folha da Manhã" (hoje, Folha de São Paulo), com uma coluna de humor. Se formou em Direito, em 1957, na Faculdade de Direito de Minas Gerais.

Casou-se em 1958, com Vilma Gontijo, com quem teve três filhos.

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Ziraldo começou a ganhar fama nacional com os trabalhos na revista O Cruzeiro e Jornal do Brasil.

Lançou em 1960 a revista em quadrinhos "Turma do Pererê", a primeira história em quadrinhos a cores produzida no Brasil. A obra também foi o primeiro gibi brasileiro feito por um só autor.

A história foi cancelada após o início da ditadura militar, voltando nos anos 70.

Lançou em 1980 sua obra mais famosa, "O Menino Maluquinho".

O Menino Maluquinho
O Menino Maluquinho Imagem: Divulgação

"O Menino Maluquinho", seu maior sucesso, já vendeu mais de 4,1 milhões de exemplares. Com mais de 200 livros publicados, Ziraldo tem diversos outros best-sellers, como "Uma Professora Muito Maluquinha", "Menina Nina", "O Bichinho da Maçã" e "O Planeta Lilás."

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O cartunista foi homenageado em 2018 na CCXP, evento de cultura pop que acontece em São Paulo, no Artist's Alley, o espaço dedicado a quadrinistas e ilustradores.

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