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Pantanal

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Discussão sobre homofobia? 'Pantanal' reforçou preconceito em 1990

Filipe Pavão

De Splash, no Rio

06/07/2022 04h00

O remake de "Pantanal", da TV Globo, não apresenta muitas mudanças em relação ao roteiro original de 1990, escrito por Benedito Ruy Barbosa. Alguns diálogos são, inclusive, idênticos. No entanto, um tema tem recebido nova roupagem: como a homofobia sofrida por Zaquieu, personagem de Silvero Pereira, é mostrada na narrativa.

Após chegar ao Pantanal com Dona Mariana (Selma Egrei) no capítulo da última sexta-feira, Zaquieu ouviu comentários homofóbicos de alguns peões, principalmente de Tadeu (José Loreto). Ele chamou o mordomo de "esquisitinho", criticou sua vestimenta e perguntou se ele "não tinha espelho em casa".

Zaquieu não ficou calado e retrucou, mas deixou claro que a homofobia no Pantanal o magoou.

Vocês não têm um pingo de educação. Não vim aqui para ser chacota dos outros.
Zaquieu, personagem de Silvero Pereira

A homofobia fez o mordomo decidir sair do Pantanal e voltar ao Rio de Janeiro. Antes de subir à chalana que o levaria para Campo Grande, ele escreveu uma carta de despedida para Mariana, o que levou os telespectadores à emoção nas redes sociais.

"Tem certas piadas que eu jurei para mim mesmo que não ia mais tolerar. Pode soar repentino, mas não exagerado que eu enquanto ser humano exija ser tratado com o mínimo de dignidade e decência, o que não fui por todos nessa fazenda", escreveu ele na carta.

"Achei que aqui as coisas fossem ser diferentes...Minha vida inteira fui motivo de chacotas, alvo de piadas dos outros, gozações. Tanto tempo interpretando o papel do mordomo gay que achei que era isso mesmo. Mas eu também tenho sentimentos. Mereço ser tratado com respeito", completou em conversa com Eugênio (Almir Sater) na viagem de chalana à Campo Grande.

Homofobia não foi discutida na trama de 1990

Cenas do remake que discutem a homofobia viralizaram nas redes sociais na segunda-feira, e elas são bem diferentes das gravadas em 1990, quando não houve esse debate. Pelo contrário, teve o reforço de estereótipos contra homens gays em um momento, claro, que o termo "homofobia" e o debate em torno dele ainda não era popularizado..

Desta vez, Dona Mariana discursou contra o preconceito e citou que homofobia é crime - em 2019, o STF equiparou atos homofóbicos ao crime de racismo. Na cena, com mais de seis minutos, Mariana lê a carta que Zaquieu deixou em voz alta para José Leôncio (Marcos Palmeira), Filó (Dira Paes) e Irma (Camila Morgado). Ela enfatiza que a tristeza de Zaquieu após as brincadeiras de Tadeu não é "frescura" como Zé Leôncio havia insinuado antes.

Em 1990, a mesma cena não enfatizava que as piadas dos peões eram face do preconceito contra o mordomo, deixando no ar que ele se chateou por algum motivo não importante.

Na sequência, após levar um sermão de Mariana, Zé Leôncio também discursou contra a homofobia ao questionar a saída de Zaquieu aos peões. O personagem relembrou que foi um erro ter se incomodado com a possibilidade de Jove ser homossexual. "Eu sou uma besta e 'ocês' tudo são umas bestas também. Todo mundo que achou graça na esquisitise do Zaquieu... Mas é bom o povo se acostumar. Isso que ocês fizeram não é piada, não. É homofobia e é crime", disparou.

A cena do remake foi bem diferente da versão de 1990, na qual Zé Leôncio chamava Zaqueu (nome dado ao personagem na versão original e interpretado por João Alberto Pinheiro) de "flozô". No geral, os peões mantiveram a postura preconceituosa mesmo após a saída do mordomo da fazenda.

Futuro de Zaquieu na trama

Assim como na versão de 1990, Zaquieu deve ficar sumido em alguns capítulos da trama, até que Mariana peça para José Leôncio ligar para o mordomo e pedir desculpas pelas piadas de Tadeu. Depois disso, ele retornará de mala e cuia ao Pantanal e vai dar a volta por cima: ele se tornará o primeiro peão gay da região.

Espera-se que a trama volte a falar de homofobia com o retorno do mordomo, algo que não aconteceu na versão de 1990. Além disso, ele se aproximará de Alcides (Juliano Cazarré) e terá uma paixão platônica pelo capanga de Tenório (Murilo Benício) caso o autor Bruno Luperi mantenha o que seu avô escreveu na década de 1990.