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Karol Conká 1 ano após rejeição no 'BBB': 'Estou mais humilde do que antes'

Jonathan Wolpert/Divulgação
Imagem: Jonathan Wolpert/Divulgação

De Splash, em São Paulo

31/03/2022 21h00

Karol Conká está mudada. Na verdade, a rapper assumiu suas múltiplas personalidades. A artista combativa, a Karoline mais doce e sensível, a Mamacita que os haters aprenderam a amar, a Jaque Patombá que tombou. Um processo de autoconhecimento de pouco mais de um ano que a fez aceitar a vulnerabilidade e se curar do maior cancelamento da história do "Big Brother Brasil".

"Eu convido todo mundo para se autoavaliar, autoanalisar e ver: você é a mesma pessoa, tem uma personalidade só? Não, todos nós temos algumas personalidades para cada situação da nossa vida", diz a cantora em entrevista a Splash para divulgar seu novo álbum, "Urucum", que acaba de ser lançado.

Nessa autoavaliação, Karol entendeu que precisava deixar a soberba de lado. E hoje não tem problema nenhum em admitir que está mais humilde. Não que isso tenha mudado totalmente a artista de antes do "BBB", que já tinha seu público cativo.

Entendo que as pessoas ficaram preocupadas se eu continuaria com a mesma força. Estou mais forte do que antes e mais humilde do que antes. Essa experiência me trouxe uma das maiores oportunidades que eu tive de parar e me olhar. Karol Conká

As primeiras semanas fora do confinamento foram as mais difíceis. Karol precisou de tempo para botar a cabeça no lugar, pensou coisas que hoje já não fazem mais sentido para ela, viu amigos se afastarem. "Na hora do nervoso já falei umas besteiras. Falei não vou mais cantar, vou morar fora, vou morrer. Depois pensei: 'Deus me livre, não acredito que falei isso'."

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A capa de 'Urucum', disco de Karol Conká, remete à Medusa, aquela que deixava as pessoas petrificadas
Imagem: Jonathan Wolpert/Divulgação

Mas foi a música, que ela pensou em desistir, parte importante do processo de cura após a rejeição do público do "BBB". Sem uma data ou compromisso para lançar o álbum, Karol se isolou em seu estúdio com o produtor Rafa Dias, o RDD, do grupo de pagodão baiano ÀTTOOXXÁ, e começou a compor.

"Eu passava dias tristes, dias chorando e a única coisa que cessava as minhas lágrimas e fazia esquecer a dor e o remorso era musicalizar. A fase era de tanta turbulência que eu não sabia nem se ia lançar o álbum. Eu estava apenas musicalizando", conta.

Karol ainda desconfiava se o público iria querer ouvir um disco dela depois de tudo o que aconteceu. Foi preciso muita terapia e um detox de dois meses das redes sociais para a poeira baixar e a cantora, aos poucos, recuperar sua confiança.

"Fechamos duas semanas com 12 canções escritas. Eu nunca havia escrito tantas músicas num período tão curto. E aí eu percebi o quanto a música me deixava viva. Consegui voltar a acreditar em mim quando ouvi as canções prontas."

De Jaque Patombá a Mamacita

Misturando hip hop, pagodão baiano, trap, funk, rock, soul, arrocha, baião, samba e outros tantos ritmos, Karol se permitiu explorar outras nuances da sua voz e trazer suas múltiplas personalidades para as músicas. Com as feridas fechadas, ela aprendeu a lidar com leveza e até bom humor com algumas situações que viveu no "BBB".

"O Brasil brincou muito com os lances das personalidades da Karol Conká. Jaque Patombá, Mamacita, Karoline. O próprio Tiago Leifert começou a me chamar de Karoline no programa. Já não era mais a Karol ou Karol Conká. Eu embarquei nessa brincadeira que acho válida para todos nós."

Karol cita algumas faixas que têm diferentes compositoras. "A Jaque Patombá fez uma música pro cancelamento, a 'Cê Num Pode'. Quem escreveu a 'Se Sai' foi a Karol Conká. A 'Calma' foi a Karoline falando para a Jaque Patombá. E a Mamacita fez a 'Slow', a 'Por Inteira'. Cada pedaço da minha personalidade compôs nesse álbum. Foi um dos processos mais interessantes que eu já fiz."

"Urucum" reflete a subida de Karol Conká depois da queda. É um álbum interessante tanto para quem já acompanhava a artista muito antes do "BBB" e também para quem a conheceu no reality show e aprendeu a amá-la ou odiá-la, e depois amá-la de novo.

"Com a terapia, eu consegui me colocar no lugar das pessoas que me hateavam e parei para refletir: 'Será que eu no lugar delas também não ia estar indignada comigo?' Então está tudo bem. Entendi esse processo e foi sossegado."

"Qualquer coisa me bota no paredão"

Foi a partir daí que Karol Conká começou até a fazer piada de si mesma. Prova disso é a música "Paredawn". A letra surgiu em um momento de brincadeira no estúdio, e não entrou no disco.

Mas, depois da insistência de amigos que a ouviram, "Paredawn" foi liberada nos serviços de streaming para o público rir junto com ela de um dos maiores memes da sua participação no programa.

"Depois de um ano que eu saí do reality as pessoas ainda usam esse meme. Ainda me botam nos trending topics [do Twitter] mesmo com a outra edição. É 'mamacita pra lá, mamacita pra cá', então a gente achou que era coerente lançar para dividir esse processo de cura."

(des)cancelada

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Karol Conká curte o show do rapper A$ap Rocky no segundo dia do Lollapalooza Brasil 2022
Imagem: Mariana Pekin/UOL

O público parece mesmo ter feito as pazes com a Mamacita. Convidada VIP do Lollapalooza Brasil 2022, há uma semana, Karol Conká viu os fãs fazerem fila para tirar uma selfie com ela. Curtiu o show do rapper A$ap Rocky na grade, lado a lado com aqueles que há um ano provavelmente não queriam proximidade.

"Você lidar com a realidade e brincar com ela, é você saber que está dissolvendo alguma coisa ali dentro. O que eu tirei de bom disso? Quando a gente ri da nossa própria tragédia é porque já está superado".

Ela também se diz aliviada por ver que o público tem pegado mais leve com os participantes do "BBB 22", até mesmo os que saíram com alta rejeição.

"Quando rolar um cancelamento com qualquer pessoa que seja minha dica é pensar 'vai passar'. Assim como eu me arrependo das atitudes que eu tive, qualquer outra pessoa vai se arrepender da atitude que tem", pondera após meses de terapia e apoio da equipe, que no detox de redes sociais procurava mandar mensagens positivas para ela.

"O que a gente ganha desejando o fim da outra pessoa? A gente não ganha nada, só remorso, tristeza", avalia. Karol hoje celebra sua superação, mas deixa o alerta.

"E se de fato eu tivesse desistido da minha vida por conta de tantos ataques que eu recebi? Ou o meu filho de 15 anos tivesse feito uma besteira como a gente sabe que tem histórias de adolescentes que não aguentam a pressão e desistem. A gente tem que ter mais responsabilidade com a maneira que a gente lida com as coisas."

Aprendizados

Mergulhando na sua dor para subir, e não para afundar mais, Karol Conká fez o álbum mais sensível e intenso da sua carreira. E aprendeu que há outras formas de lidar com suas dores.

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O disco 'Urucum' serviu como processo de cura para Karol Conká
Imagem: Jonathan Wolpert/Divulgação

"Meu trabalho e personalidade continuam sendo combativos, só que usando ferramentas diferentes e novas formas de combater. Eu aprendi que eu não preciso atacar quando eu me sinto atacada. Tem outras formas de combater racismo, violência..."

Sua mudança parece mesmo genuína. E Karol torce para que aqueles que ainda vão ouvir "Urucum" possam crescer e aprender junto com ela.

"Eu pensei muito sobre as minhas atitudes. Revi muita coisa do que eu fiz. E convido o público a rever também. Acho que a minha história serviu de reflexão não só pra mim, mas para todo mundo."