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Lauana Prado sobre Marília Mendonça: 'Não vou sentar no trono de ninguém'

Lauana Prado, assim como Marília Mendonça, também é cantora sertaneja - Brunini/Divulgação
Lauana Prado, assim como Marília Mendonça, também é cantora sertaneja Imagem: Brunini/Divulgação

Renata Nogueira

De Splash, em São Paulo

08/03/2022 04h00

Lauana Prado é hoje uma das principais vozes femininas solo do sertanejo. A cantora, que lança seu novo álbum, "Natural", na quinta-feira, dia 10, sabe da responsabilidade que carrega ao cantar e falar diretamente para as mulheres — principalmente depois da morte de Marília Mendonça, um dos ícones do mesmo estilo musical.

Neste Dia Internacional das Mulheres, a cantora fala a Splash sobre as coincidências e diferenças nas carreiras delas, como foi se aproximar de Marília dez dias antes do acidente fatal e afirma que nem ela nem ninguém substituirá Marília Mendonça.

Eu não estou aqui para sentar no trono de ninguém. Ela é rainha e vai continuar sendo

Lauana sempre fez questão de fazer um tipo de música que fugisse da sofrência, consagrada por Marília. Não só para evitar comparações, mas também porque não é algo que combina tanto com o estilo dela.

"Eu já vinha fazendo meu trabalho independentemente do trabalho dela", diz a cantora, que ficou nacionalmente famosa em 2018 com o hit "Cobaia".

"Eu sempre fiz muita questão de não ter nada musicalmente associado a ela. Porque eu não posso ser a pessoa que quer fazer um som parecido com o dela. O som dela é único. Então eu já tinha esse movimento, essa preocupação", afirma.

Mesmo assim, a admiração por Marília era grande, principalmente por cantarem para o mesmo público: foram as mulheres que começaram a se identificar com os discursos retratados nas letras delas.

"Com a morte dela, o que eu entendo como responsabilidade é continuar fazendo o meu trabalho da maneira comprometida que eu faço, com toda a intensidade e paixão que eu tenho, que ela também tinha. Ela é referência nesse sentido."

"Não era amiga dela"

Lauana confessa que, apesar das inevitáveis comparações, ela não era amiga nem tão próxima de Marília. "Eu não era amiga dela, eu a encontrei muitas vezes em shows, mas eu tinha esse olhar de admiração. Olhava para ela e via a grandeza. Tanto que o Brasil todo ficou comovido [com a morte]."

Ainda assim, já conhecia Marília Mendonça desde que ela era apenas compositora e escrevia músicas para João Neto e Frederico e os primeiros artistas do escritório Workshow. "A gente trombava muito em alguns lugares porque ela escrevia nos mesmos lugares que eu. Só que eu não tinha oportunidade de escrever com ela porque eu não fazia parte da vida dela ali."

Mesmo sem tanta proximidade, Lauana já entendia que ali estava nascendo um fenômeno. "Eu já tinha uma admiração gigantesca por ela e eu já sabia que ela ia ser uma realidade dentro da nossa cena. E isso foi se tornando cada dia mais real e todo o universo que ela trouxe para a gente, a libertação na maneira simples e leve dela de falar."

O último encontro

As duas seguiram suas carreiras e, curiosamente, a admiração mútua pôde ser compartilhada na gravação do DVD de Guilherme e Santiago, apenas dez dias antes da morte precoce de Marília Mendonça, aos 26 anos.

"Eu estive com ela em uma gravação de DVD que a gente participou junto e, naquele dia, tive a possibilidade de conversar muito com ela. Foi a realização de um sonho", admite Lauana.

"A gente nunca tinha tido a oportunidade de estar juntas como duas mulheres conversando sobre quaisquer assuntos, de música até assuntos mais aleatórios. É engraçado como a vida é, como Deus faz as coisas, acredito muito nos propósitos de Deus. A gente falou muito sobre música, foi uma parada muito genuína, muito honesta."

Lauana lembra os últimos momentos que teve ao lado da artista. "Antes de eu ir embora, abracei ela e disse tudo o que eu queria dizer que eu não tinha tido a oportunidade até então. Falei para ela: 'Acho que você nem tem ideia do quanto você representa para mim, para as mulheres desse segmento, para a nossa geração, para o nosso público e, principalmente, para as mulheres que estão em casa e vivem relacionamentos e que muitas vezes não tiveram voz, não tiveram o poder de colocar pra fora'."

A morte, dias depois, veio como um golpe. "Eu fiquei um mês muito transtornada porque eu me vi estando com ela, pensei: 'A partir de agora a gente vai conseguir trocar mais'. E aí, logo em seguida, ela foi tirada da gente. Parecia que eu tinha perdido uma pessoa na minha casa."

Legado insubstituível

Passado o período turbulento, Lauana começou a ser cobrada como uma possível substituta. E entendeu que não poderia ter essa responsabilidade. "Absolutamente ninguém vai substituir a Marília Mendonça. Isso é uma coisa que eu tenho para mim no meu coração e faço questão de externar porque foi exatamente o que eu disse para ela na última vez em que estive com ela."