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Para diretor de 'Eduardo e Mônica', filme deve ser assistido nos cinemas

Fernanda Talarico

De Splash, em São Paulo

19/01/2022 04h00

René Sampaio fez a sua estreia no cinema com "Faroeste Caboclo", em 2013, e adaptou a famosa música de Renato Russo. Agora, em 2022, o cineasta lança "Eduardo e Mônica", longa que também usou a canção do Legião Urbana como base.

Desde o início da pandemia de covid-19, o cineasta foi bastante vocal quanto à intenção de lançar o filme em salas de cinema, mesmo com um grande atraso, afinal, o longa já estava gravado desde 2018. Em entrevista a Splash, Sampaio contou ter recebido diversos convites para lançar a produção em streaming, mas resistiu à tentação.

Foi difícil dizer não, porque era muito dinheiro, mas ao mesmo tempo temos de ter uma certa integridade artística nas coisas.

"'Eduardo e Mônica' é para você levar todo mundo para a sala de cinema, e é um filme pensado para o tempo de cinema. Tem uma certa contemplação que preenche o tempo de tela", explica. "É uma coisa tão aguardada, é como um show do Legião, todo mundo quer ver."

Alice Braga e Gabriel Leone como Mônica e Eduardo - Reprodução - Reprodução
Alice Braga e Gabriel Leone como Mônica e Eduardo
Imagem: Reprodução

Longe das tretas

O título é lançado pouco tempo depois de um imbróglio jurídico envolvendo os ex-integrantes da banda e Giuliano Manfredini, o herdeiro de Renato Russo.

"Sobre os direitos, quem trata é a produtora, então eu não tratei dessa questão especificamente", conta Sampaio. Além disso, não houve a participação de Dado Villas-Boas e Marcelo Bonfá, ambos ex-Legião, na produção.

A minha relação é com a obra do Renato, com a música 'Eduardo e Mônica'. A gente [da produção] tem proximidade com o Giuliano, porque ele nos vendeu os direitos quando a gente comprou, então ele participa bastante ativamente do processos, e ele tem sido um grande parceiro. A gente não participa de nenhuma dessas questões, que eu até acompanhei, mas não fazem parte da nossa produção.

'Eduardo e Mônica' é segunda parte de uma trilogia dedicada à Legião Urbana - Janine Moraes/Divulgação - Janine Moraes/Divulgação
'Eduardo e Mônica' é segunda parte de uma trilogia dedicada à Legião Urbana
Imagem: Janine Moraes/Divulgação

Paixão Antiga

René Sampaio fala tanto da obra musical, quanto da adaptação a qual comandou, com bastante carinho. E todo esse zelo título tem explicação: "Sou fã do Legião desde moleque, nunca deixei de ser. Escuto até hoje."

Claro que quando eu era adolescente, ouvia muito mais, deixava no repeat. Eu tinha uma relação afetiva e intelectual, porque, depois que eu cresci, comecei a a entender o que tinha por trás da música.

Para o cineasta, foi preciso amadurecer para conseguir compreender com clareza o que Renato Russo queria dizer em suas letras. "Depois você começa a pegar as referências, o que ele quer dizer da vida, do universo, e como isso tinha a ver com as coisas que eu pensava e penso até hoje."

"Eduardo e Mônica" já faz parte do imaginário popular, afinal, é uma tarefa quase impossível encontrar algum brasileiro que não conheça a canção. Por isso, o diretor entende que há uma espécie de "responsabilidade" ao lançar o filme.

René Sampaio entre o seu casal Eduardo e Mônica: Alice Braga e Gabriel Leone - Janine Moraes/Divulgação - Janine Moraes/Divulgação
René Sampaio entre o seu casal Eduardo e Mônica: Alice Braga e Gabriel Leone
Imagem: Janine Moraes/Divulgação

"É um desafio e uma felicidade enorme você poder trabalhar com um hit, uma coisa que todo mundo já ouviu falar, que já ouviu e já imaginou", diz. "Foi uma delícia, estou realizando um sonho enorme de ver no cinema e ainda poder ser a pessoa que fez isso acontecer."

Como este é o segundo longa de Sampaio que envolve uma música do Legião Urbana, a comparação é inevitável. No entanto, para ele, "os filmes são muito diferentes por causa de seus gêneros".

Um é um thriller e outro uma comédia românica. Eu aprendi muito fazendo 'Faroeste Caboclo', e agora reaprendi do zero e foi um desafio muito grande.

Adaptação

"Eduardo e Mônica" conta a história de um casal que, apesar de todas as dificuldades, encontra uma maneira de ficar junto. Mesmo com a diferença de idade, de gostos, costumes e interesses, a trama mostra que esses dois personagens fazem de tudo pelo amor.

A letra é bastante democrática e não dá destaque a um ou outro. Os dois são apresentados de maneira bastante equilibrada, e não poderia ser diferente com o longa.

"Não é uma conta matemática, é um filme que se chama 'Eduardo e Mônica', mas poderia também se chamar 'Mônica e Eduardo', porque é muito proporcional o papel dos dois e o tamanho que cada um dos personagens tem", diz René Sampaio. "É um dos poucos filmes que você vai ver dois personagens que mudam tanto assim ao longo do filme, e isso está exemplificado no último plano, em que coloco os dois, lado a lado, com o mesmo peso. Os dois são isso, esse feijão com arroz."

Cena de 'Eduardo e Mônica' - Janine Morais/Globo Filmes/Divulgação - Janine Morais/Globo Filmes/Divulgação
Cena de 'Eduardo e Mônica'
Imagem: Janine Morais/Globo Filmes/Divulgação

No entanto, a maior dificuldade não foi dosar o protagonismo de cada um, mas sim criar uma história de duas horas a partir de uma canção de quatro minutos e trinta e dois segundos. "Eu acho que o maior desafio foi construir um roteiro de uma música, que é incrível, mas não é um roteiro pronto de cinema."

Quando você tem 'conversaram muito mesmo para tentar se entender', o que eles conversaram? Você tem que criar um diálogo, que cada um pensou quando ouvia essa música. Então, a gente teve que inventar a nossa e esperar que ela também agrade aos fãs.

"É um desafio para um filme com esse, porque na literatura há menos espaço. Quando você tem um livro, é mais difícil cada um imaginar um personagem tão diferente que do que a outra pessoa pensou. Já na música, como com "Faroeste Caboclo", cada um cria o seu na hora", explica Sampaio. "Eu tinha o meu Eduardo e Mônica pessoais. Espero que as pessoas os abracem com carinho, assim como abraçam os da música do Renato."

Mesmo com a pretensão de agradar o máximo de pessoas possíveis, René Sampaio diz ser bastante pé no chão: "A música é melhor, sempre".

O Eduardo e a Mônica

Gabriel Leone e Alice Braga são os protagonistas de "Eduardo e Mônica" e, segundo eles revelaram em entrevista a Splash, criaram uma grande conexão entre eles.

"Alice sempre foi um desejo nosso, desde o princípio. E ela entrou e saiu do filme várias vezes, porque ela tinha compromissos da agenda", conta o diretor. "O filme foi adiado e ela precisou voltar para os Estados Unidos, mas depois deu certo."

No entanto, Leone não teve tanta sorte e precisou passar pelo processo de seleção. "O Gabriel fez um teste e não foi muito bom, ele mesmo fala isso. Então, ele pediu para repetir o teste no dia seguinte, e foi arrebatador."

Mas a gente tinha que escolher um casal, não um Eduardo e uma Mônica. Então, a gente juntou a Alice e o Gabriel em um exercício junto, e um olhava no olho do outro e brilhava. Eles se amam na vida real, viraram grandes amigos, e acho que isso passou para tela. Há uma chama de paixão e amizade entre os dois, que vem da arte.

Vem Aí

Depois de "Faroeste Caboclo" e "Eduardo e Mônica", René Sampaio revelou que está em negociação para um terceiro longa baseado nas música do Legião Urbana. "Ainda estou negociando os direitos", explicou o cineasta.

Meu desejo sempre foi ter uma trilogia. E também vamos contar a história do Renato Russo a partir do diário que ele deixou, em um documentário. É um mergulho no criativo do artista, para além das questões pessoais que também vamos abordar.

Enquanto isso, "Eduardo e Mônica" está em cartaz nos cinemas brasileiros.