Roberto Sadovski

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Opinião

Zac Efron se esforça, mas 'Garra de Ferro' é drama esportivo convencional

Quando Sylvester Stallone criou "Rocky, Um Lutador", sua ideia era pegar a fórmula do drama esportivo e transformar em peça motivacional. Mostrar que, se um sujeito fracassado consegue triunfar por conta do esporte, então qualquer um consegue. Desafio qualquer um a entrar em uma academia de boxe e não achar um poster de Sly como Rocky na parede.

"Garra de Ferro", por outro lado, é o anti-"Rocky". No filme de Sean Durkin, que acompanha a trajetória da família Von Erich na luta livre, não há nada minimamente inspirador sobre o esporte. Pelo contrário. A obsessão do patriarca Fritz (Holt McCallany) em criar filhos "vencedores" teve um preço altíssimo. Se filme fosse máquina de fax para passar mensagens, aqui ela seria "fique longe dos ringues".

Para ser justo, "Garra de Ferro" não é um tratado sobre a luta livre, mistura de combate e teatro que no Brasil teve seu auge nos anos 1970 com a popularização do Telecatch. É um drama familiar pesado que versa sobre perda de identidade, abuso físico e psicológico e, acima de tudo, sobre culpa. É, também, um veículo para Zac Efron buscar credibilidade artística e se firmar como ator versátil.

No papel de Kevin Von Erich, Efron toma para si a responsabilidade de ser a âncora dramática em "Garra de Ferro", e não decepciona. No começo dos anos 1980, ele é treinado pelo pai, lutador frustrado por nunca ter conquistado o título da NWA, órgão americano do esporte. Kevin ganha o cinturão pelo estado do Texas, mas Fritz o força constantemente para além do limite.

Logo, a luta livre se torna o centro de gravidade em torno do qual toda a família orbita. O esporte é logo abraçado por David (Harris Dickinson) e, após os Estados Unidos se retirarem dos Jogos Olímpicos de Moscou, por Kerry (Jeremy Allen White), que perde a chance de competir no evento. Não tarda para o quarto filho, Mike (Stanley Simons), apaixonado por música e fisicamente longe do ideal para o ringue, seja cooptado pelo pai para "seguir a tradição".

Existe em "Garra de Ferro" uma vontade de emparelhar essa mesma tradição familiar com a noção de masculinidade tóxica, fazendo da trajetória dos Von Erich um espelho da obsessão americana pela competitividade a todo custo. Sean Durkin, contudo, pesa a mão no dramalhão, fazendo com que qualquer sutileza ceda espaço para uma história sobre tristeza profunda.

Se existe um elemento que puxa toda a empreitada para fora do cinemão convencional, é mesmo Zac Efron. Ele mostra compromisso absoluto para não fazer de Kevin uma caricatura, e sua ótima performance estimula seus colegas de elenco a abraçarem o material sem reservas — em especial Jeremy Allen White, que contorna as limitações de seu personagem em um trabalho genuinamente emocionante.

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Se não vai ilustrar nenhuma lista de grandes biografias esportivas, "Garra de Ferro" ao menos é honesto em suas emoções, especialmente com a catarse reservada para seu clímax. É um final estranhamente otimista para uma história lapidada em tragédia, transformada em um filme competente e convencional. Às vezes isso basta.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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