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Opinião

Uma chance para tomar cerveja e ver futebol com Luis Fernando Verissimo

Luis Fernando Verissimo, na sala de sua casa, acompanha uma reportagem na televisão sobre o seu aniversário de 80 anos. No final da matéria, alguém recita palavras melosas atribuídas ao escritor. Ele olha desconfiado.

"Eu nunca disse isso", comenta. Era mais uma bobagem apócrifa compartilhada por aí.

A cena tira uma boa risada de quem assiste à "Verissimo", documentário que faz parte do festival É Tudo Verdade.

O filme é assinado por Angelo Defanti, que já levou para as telonas trabalhos baseados na obra do autor, como "O Clube dos Anjos", "Feijoada Completa" e "Maridos, Amantes e Pisantes".

A gravação chega ao público oito anos após as filmagens. Defanti acompanhou a rotina de Verissimo em sua casa em Porto Alegre durante 15 dias consecutivos, culminando no aniversário de 80 anos do autor de tantos livros memoráveis.

Assistir hoje ao registro sobre aquele momento da vida do escritor é também se deparar com cenas de um outro Brasil.

O maior contraste vem do próprio meio editorial. Durante uma breve viagem a São Paulo, acompanhamos Verissimo dando autógrafos numa Livraria Cultura pujante, ainda distante de virar a melancólica ruína que temos no Conjunto Nacional. Vale observar como o tímido escritor acolhe fãs empolgados e tenta despistar certas malas que buscam forçar intimidade.

Verissimo é um colorado que sempre veste azul, as cores do Grêmio, observa alguém. O desgosto do escritor com o Internacional, naquele ano rebaixado no Brasileiro, também está registrado. Um gol comemorado de forma tímida quando uma derrota já era inevitável dialoga com outra cena em que a filha de Verissimo chega na sala, olha para a tevê e se solidariza: já tamo apanhando, pai?

Criar uma oportunidade para que os fãs tenham a sensação de passar uns dias com Verissimo é um dos méritos do trabalho de Defanti. Visita à feira de qualquer coisa numa escola, ida ao médico e sessões de fisioterapia estão ali registradas, bem como a intensa relação do octogenário com sua família.

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A festa de 80 anos é o ápice do filme, mas a vontade mesmo é ter um lugar à mesa no almoço com cerveja e churrasco - feito, aliás, numa beleza de churrasqueira.

Ser um homem introvertido, introspectivo, de falas lacônicas são marcas de Verissimo. Vale notar como o documentário joga com essas características para trabalhar com o silêncio e a tranquilidade rompidos por um telefone que toca, um computador que alardeia algum erro, uma criança que faz com que a casa pulse num ritmo bem mais agitado.

O trabalho também está registrado no documentário. As leituras, o burilar do texto, o desenho como ritual para que a inspiração dê algum sinal.

É boa a sensação de passar uns dias ao lado de Luis Fernando Verissimo. Só fica faltando dividir uma caipirinha e dar um jeito abraçar esse cara que tanto admiramos.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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