Luciana Bugni

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Opinião

Belo e Gracyanne: no fim da relação, nem tudo se resume a traição e culpa

O começo conturbado da relação de Gracyanne Barbosa com o cantor Belo — traição, cadeia e outras polêmicas — não impactou o carisma do casal. Apelidinhos públicos ("Tudão" é bom demais), uma vida fitness um pouco exagerada para a maioria do mortais (que não consegue levantar centenas de quilos no leg press) e declarações de amor daquelas que fazem acreditar que é possível ser feliz para sempre (a gente viu um exagero de comédia romântica). Tudo isso por 16 anos. Até que acabou. Pô, gente, todo casamento acaba? Como é que se faz o amor durar mais?

Eu vinha chamando a onda de divórcios que assola os amigos de mais de 40 anos de "crise da Sandy". Agora já começo a achar equivocado: a crise chama casamento mesmo. Mas será que, contrariando Tom Jobim, é impossível ser feliz juntinho? Quando se atravessa a porteira das décadas de união, parece que algo acontece com o felizes para sempre.

Gracy traiu Belo, dizem as notícias. Nos bastidores, circula a informação de que a ordem dos fatores altera, sim, o produto: o relacionamento esfriou há meses, desembocou em um caso extraconjugal, ela teria confessado, ele teria perdoado e insistindo para continuar o casamento mesmo assim. Não deu certo, uma hora a relação ruiu.

Belo surgiu em um show em São Paulo chorando após cantar "Já é tarde, não aceito a decisão do teu coração em partir. Tudo tem um jeito, sei que a gente pode sorrir. Juro que vou me conter, recomeçar sem me esconder. Em mim, nada mudou", diz a letra. Parece uma versão em pagode da frase que se dizia em namoros adolescentes rumo ao naufrágio "eu tenho amor para nós dois". Hm, bem, ninguém segura o amor de duas pessoas sozinho. A emoção do cantor em público pode ser símbolo da tentativa frustrada de manter entre os dedos um punhado de areia. É tristíssimo quando se está sofrendo por amor, mas os grãos vão indo embora — e, às vezes, o personal trainer é apenas uma maneira de botar uma pá de cal em cima do que já havia se despedaçado.

Mas não é fácil assim, não

O podcast "Terapia de Boteco" tem um episódio sobre o ciúme na psicanálise que aponta algo interessante. Pessoas têm medo de serem abandonadas porque não têm a individualidade bem construída (ou porque foram abandonadas na infância de diferentes maneiras).

Na vida adulta, constroem relações, explicam os psicólogos, que passam a fazer parte do que são. Então, quando (e se) acontece o término, é praticamente uma parte de nosso corpo que se vai. Como arrancar de si aquilo que você usou como alicerce por tantos anos? Coincidentemente, a letra do hit de Belo (que não foi escrita por ele) diz: "Sem sua metade sou tão imperfeito". Faz sentido.

Pode não ser essa a situação do pagodeiro no casamento com Gracy, mas com certeza essa definição abraça um monte de gente que morre de medo de perder o par. Você já parou para pensar o que era antes de passar tantos anos casada/o?

E de onde vem a necessidade de manter o casal mesmo se a relação esfria? A gente fatalmente vai virar "os mortos que jantam", citados no filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" — duas pessoas que apenas vivem juntas, mas não se veem?

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Você olha mais o celular do que o parceiro

Jay Shetty, influencer e dono do app de meditação Calm, em sua palestra no SXSW, explicou como a proximidade física não compensa desconexão emocional. Imagine que você passa 36 horas no celular por semana — usando uma média de 5 horas por dia, que é comum. Estudos dizem que a gente só olha para o parceiro por 8 horas semanais. Ou seja, todo mundo está vidrado em uma tela quatro vezes mais do que olhando para o lado e reclamando que está desconectado da pessoa que está no mesmo sofá que você.

Na palestra, realizada em março, ele provoca perguntando qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez com o seu parceiro. A sugestão de Shetty é que paremos de tentar recriar o primeiro date, mas tentemos algo novo a dois, reinventando a si mesmos e, assim, ao casal. "Anos depois de casados, a excitação dá lugar ao conforto. A gente perde a curiosidade pelo outro e acha que está encontrando sempre a mesma velha pessoa de sempre", explica. Na plateia, o pessoal faz que sim com a cabeça.

Encontre pessoas novas dentro da pessoa velha.

E Shetty completa com uma pergunta emblemática: o que faremos de difícil juntos para que cheguemos em algum lugar? (Acho que pagar boletos todo mês não configura um desafio que aproxime casais.)

É importante ter em mente que, a longo prazo, a emoção dos parceiros muda. Na lista de perguntas que podem causar reflexão ou acolher a pessoa nova dentro da pessoa velha estão:

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  • Você está ansioso com algo, posso te ajudar?
  • Você está feliz com o rumo que essa relação está tomando?
  • A gente é capaz de melhorar isso?
  • E se trocar o "eu tenho um problema com você aqui" para "a gente tem uma problema aqui"?
  • Qual sua meta esse ano e como eu posso te dar algum suporte?

As culpas que buscamos ao fim de relacionamentos midiáticos podem ser uma maneira de olhar para si. Essa solidão vinda da desconexão do casal, da qual Gracy reclamou resignada, pode ter solução. A questão é: todo mundo está disposto a tentar e dialogar? Parece que não existe outro jeito, não.

Você pode discordar de mim no Instagram.

PS: Esse texto tem especialização em Belo de Nathália Geraldo, curadoria pagodeira de Diego Locci e o olhar de Ana Bardella.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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