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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Brasileiro tem espírito jovem: quem tem força para frequentar pós-Carnaval?

Que é gostoso é, mas é importante reconhecer o limite do corpo - Victória Ribeiro/UOL
Que é gostoso é, mas é importante reconhecer o limite do corpo Imagem: Victória Ribeiro/UOL

Colunista do UOL

25/02/2023 10h34

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Eu tinha 37 anos quando vivi o último Carnaval pré-pandêmico tal qual uma criança num buffet infantil — tentando aproveitar cada minuto como se não houvesse amanhã. O spoiler você já sabe: de fato não houve.

Ficamos trancados em casa por dois anos imaginando como seria quando finalmente fôssemos liberados pela ciência para aglomerações inconsequentes sem grandes consequências. Foi o que se deu nas últimas semanas.

Gltter no corpo, meia arrastão, grandes encontros de gente que não se vê há anos, pulinhos animados, alalaô, eu sou da lira, mamãe eu quero, se você fosse sincera etc. Grandes momentos de animação que fazem a gente esquecer um pouco da realidade que se imporia ali na quarta-feira de cinzas. Funcionou. Quem gosta da folia achou seus semellhantes em baixo de um guarda-sol e viveu a bagunça.

Mas a conta dos três anos de intervalo chegou. No meio do Carnaval, o pessoal se olhava intrigado perguntando onde estava a energia que a gente pensou ter guardado por três anos. O plano era aguentar 17 horas por dia quicando no asfalto, mas teve gente bem animada que achou melhor ver um filme no domingo à noite e pedir pizza, por exemplo. Uma amiga disse que decidiu apenas almoçar fora na segunda — e nem foi de peito de fora. Um casal que prometeu viver intensamente tudo o que pudesse acabou não levantando da cama na terça-feira gorda. Alalaô.

E, logo depois dessas pequenas derrotas, uma avalanche de exames positivos de Covid — esperado, claro, mas nunca agradável. Mais derrota.

E aí, quem não positivou esperou ansiosamente o sábado para mostrar ao Carnaval que a gente é forte, sim. Apesar dessa lombar pouco resistente forjada em dois anos de sofá. Pois é nesse sábado que se espera do folião mais glitter, uma meia arrastão mais furada do que nunca, shorts dourados e pochetes. A previsão do tempo avisa que estará do lado da massa resistente — o sábado será solar. O folião de bem se poupa na sexta-feira, toma um banho comprido, avalia porque a panturrilha segue doendo há 4 dias. Será cansaço ou contusão?

Os blocos do pós-Carnaval vão sair. Quem resistir, verá. A rua dá sua última chance antes que encaremos o longo ano que separa um Carnaval do outro (e oxalá nem teremos que esperar três anos dessa vez).

Mas o sofá dá uma piscadinha. E se a gente pedisse um almocinho aqui mesmo? Aquele filme favorito ao Oscar entrou no streaming. Será que a gente faz um teste de Covid? Era só cansaço mesmo.

Entender a hora de parar também é gostoso demais.

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