Topo

Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Travessia: retorno de Doutor Stênio e Dona Helô é Brasil com saudade do ex

Alexandre Nero e Giovanna Antonelli no Domingão - Divulgação
Alexandre Nero e Giovanna Antonelli no Domingão Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

15/10/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Eu não sei vocês, mas não estou achando esse 2022 muito fácil. E quando as coisas estão meio complicadas, tudo que a gente quer é pensar em como era no passado. A nostalgia dá um quentinho no coração.

É claro que não era tudo um mar de rosas, mas só de ver os problemas antigos aqui do caótico presente, parece que o que já passou era mais fácil de lidar. Ai que tempo bom, que não volta mais. Ou volta?

Se, na novela Travessia, até o "Dotô Stênio e a Dona Helô" estão de volta em horário nobre para a TV aberta... quem sabe não tem mais coisa boa voltando por aí?

Doutor Stênio era interpretado por Alexandre Nero em Salve Jorge, novela de Glória Perez que passou em 2013. Fazia um par meio maluco com a ex na novela, Dona Helô, vivida por Giovanna Antonelli. Os dois eram a cara do que o Brasil podia ser: um advogado particular que defendia clientes a todo custo e uma delegada que acreditava na justiça e fazia de tudo para botar bandido na cadeia.

Mas o ano era 2013 e aquela velha máxima de Leandro e Leonardo ainda funcionava bem. Se de dia eles brigavam, à noite se amavam, sim. E como brigavam. E como se amavam.

Tudo com a bênção e o esforço da empregada Creuza (Luci Pereira), que fazia esforço para unir os dois na mesma velocidade em que criava bordões por aí. Ah, 2013...

No último capítulo de Salve Jorge, Helô e Stênio de casaram pela segunda vez (eles começaram a novela divorciados, em pé de guerra).

Embaixo da saia, ela mostrou enquanto dançava, uma cinta-liga com um coldre onde reluzia um revólver — a cena era de comédia, pois em 2013 era absurdo alguém estar armado em uma festa, mesmo que fosse uma delegada. Bons tempos.

Na volta dos personagens, agora em "Travessia", Helô e Stênio se separaram de novo. Ele continua com o hábito de mandar flores para a ex, ela continua louca da vida com ele. A tensão sexual e química fantástica entre os dois quase sai pela tela e vem nos visitar aqui fora.

A vontade do público que eles se peguem é tanta que dá até aquela culpa — será que temos algo mal resolvido por aí e estamos projetando nesse casal? Mas o que é isso, em pleno 2022 e a gente com saudade do ex?

Helô e Stênio sabem de cor os defeitos um do outro. Sabem o quanto doem as mágoas dos arranca-rabo pregressos. Sabem quando um ou o outro não foram lá muito honestos.

Mas sabem também que naquela época boa, o almoço de família não acabava em choro, o WhatsApp parecia uma ferramenta legal para conversar com os tios e a gente até entrava no Facebook e achava divertido.

Para se ter uma ideia, a Helô de 2013 era consumista compulsiva, enchendo armários de sacolas. E olha que ela era funcionária pública, hein? A classe média naquele tempo tinha problema de rico de verdade. Estou falando que eram bons tempos...

Salve Jorge teria nos salvado?

Em maio de 2013, quando Helô casou armada, ainda faltava um mês para todo mundo ir para a rua por causa de 20 centavos, que virou "contra tudo isso que está aí", que acabou virando tudo isso que está aí.

Quando a Lucimar de Dira Paes girava no Morro do Alemão da novela para festejar o retorno da filha ("A Morena tá viva"), ela não sabia o que ia acontecer depois que a Pereirão de Lilia Cabral assumisse o horário das 21h, em Fina Estampa. Nem a gente, ou teria feito campanha para Gloria Perez encompridar Salve Jorge até hoje — eu, hein?

Agora a torcida é para que Helô e Stênio se peguem de novo e tenham certeza de que suas diferenças de posição profissional não são diferenças de caráter. Aí, é só voltar a discutir a posição que realmente importa: aquelas do kama sutra que eles tentavam fazer na novela ainda são viáveis quando o casal está nove anos mais velho?

Que a gente tenha um gostinho de 2013, na esquina de um boteco, tomando uma cervejinha e discutindo novela de novo, porque se tem uma coisa que o brasileiro merece é um pouquinho de paz. Inclusive para escolher a roupa com que vai sair de casa.

Você pode discordar de mim no Instagram.