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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rebeca, Daiane e Simone: força da união de mulheres é a grande vitória

Rebeca Andrade: o baile da favela que é um presente para todo mundo - Jonne Roriz/COB
Rebeca Andrade: o baile da favela que é um presente para todo mundo Imagem: Jonne Roriz/COB

Colunista do UOL

29/07/2021 12h07

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Rebeca Andrade vai receber a nota que lhe dará uma medalha de prata. É a primeira vez na história que o Brasil chega ao pódio com mulheres na ginástica artística nos Jogos Olímpicos. Na arquibancada, a ginasta americana Simone Biles vibra. Dentro dos estúdios da Globo, Daiane dos Santos dá pulinhos empolgados. E chora. Todo mundo está chorando, você também. Três mulheres negras que nos mostram há anos o impossível: elas podem voar.

Daiane é responsável por esse momento e sabe disso. É a primeira ginasta do Brasil a ser campeã do mundo. Rebeca levou seu baile de favela para o Japão porque sabia que era possível ser uma mulher negra, filha de mãe solo, sair da periferia e brilhar.

E sabia disso porque Daiane mostrou que era possível em 2003, quando a ginasta tinha só quatro anos de idade. Ela cresceu sabendo que era possível. Batalhou, superou lesões, cirurgias e fez. É prata.

Ser espelho é emocionante mesmo

A emoção de Daiane se explica: a representatividade vitoriosa de mulheres negras serve de espelho para as próximas gerações. "Eu só fiz o que fiz porque outra ginasta abriu as portas para mim".

Rebeca é, nesse momento, o modelo para outras meninas de quatro anos. Em uma corrente do bem, do esporte, da autoestima, da coragem, a autoconfiança se espalha.

Mas não basta sorte, elas sabem que não.

Rebeca reconhece o privilégio do apoio que teve, apesar da origem humilde. Foi cercada de pessoas que a apoiaram. Sua mãe, dona Rosa, diz na TV que tem a filha famosa, mas ela tem orgulho igual da trajetória dos seis filhos. "Poder da mulher, o poder da mãe, foi a senhora que segurou a Rebeca na ginástica", diz Daiane para Rosa. Ambas se admiram. Todo mundo deseja o sucesso da outra.

A sabedoria de desistir

Simone, a melhor do mundo, desistiu da competição essa semana para priorizar sua saúde mental. Foi apoiada por muitas mulheres do esporte. Rebeca afirmou que a colega dos Estados Unidos foi corajosa: "O atleta não é um robô, é um ser humano. A pressão em cima dela é constante e muito difícil. Estou orgulhosa dela ter tomado essa atitude", ela falou.

Daiane também defendeu a atleta: "Vivemos um momento delicado para todo mundo. Simone não aguentou a pressão de ser uma celebridade tão conhecida", disse a comentarista sobre o assunto. "Ela cogitou não ir para Tóquio, decidiu ir e agora teve a coragem de avisar pessoalmente as colegas de equipe que não participaria das próximas provas", completou.

Vibramos com o fato de Rebeca ter insistido, mas admiramos também a coragem de Biles. Torcemos para que todas fiquem bem.

A história escrita a muitas mãos negras

"Mesmo que eu não tivesse ganhado a medalha, teria feito história", diz Rebeca com voz de menina e segurança de profissional. Está coberta de razão: a história que Daiane fez e revive nesta quinta (29), que Simone também escreve. Juntas, se admirando, se espelhando, torcendo uma pela outra.

Rebeca, medalha de prata nas mãos, agradece as que vieram antes. "A medalha não é só minha, é de todo mundo". Nós choramos emocionados, aceitando o presente. Daiane se reconhece no agradecimento e retribui: "É emocionante ver a vitória dela, ver que tudo que não aconteceu comigo aconteceu com ela porque era para acontecer com ela".

"É a nossa raça negra fazendo história. O que eu mais desejo pra ginástica é mostrar como o brasileiro é guerreiro", diz Daiane. Está claríssimo, meninas. Manhãs como essa fazem a gente realmente acreditar em um mundo melhor. Mulheres como vocês fazem a gente acreditar mais em nós mesmas.

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