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Chico Barney

OPINIÃO

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Comercial com Elis Regina e Maria Rita provoca sentimentos conflitantes

Elis Regina em comercial da Volkswagen - Reprodução
Elis Regina em comercial da Volkswagen Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

04/07/2023 11h27

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É emocionante o comercial da nova Kombi. Não é algo que esperaria dizer a essa altura do campeonato. Tanto se emocionar quanto ver o lançamento de uma nova Kombi pareciam coisas relegadas ao século passado.

Mas a vida não cansa de nos surpreender. A tecnologia permitiu uma ousadia bem planejada por parte dos publicitários: reunir Maria Rita com sua mãe Elis Regina, falecida quando a cantora ainda era criança.

Quem conhece a história das duas, e é uma dessas histórias que quase todo mundo conhece, fica arrepiado com as imagens. A publicidade não costuma ser reconhecida pela sutileza, e aqui não deixa espaço para qualquer subtexto. Ao som de "Como Nossos Pais", são reunidas as diferentes gerações de cantoras, famílias e, bom, kombis.

Mas a peça publicitária não é o assunto do dia desde as primeiras horas desta terça-feira apenas por causa da beleza do vídeo. A tecnologia para mostrar Elis Regina cantando enquanto dirige e interage de longe com a filha também suscita profundas discussões.

A relevância cultural da campanha vai além do seu conteúdo sentimental. Inteligência artificial, deepfake, direitos de imagem —a sociedade civil está há meses debruçada nesses assuntos, analisando as perspectivas de um futuro que, veja só, já chegou. E veio de Kombi, rapaz.

Inclusive é uma Kombi curiosa, parece aqueles computadores Macintosh alaranjados que ornavam os estúdios da MTV Brasil na época do bug do milênio. Mas tergiverso.

Costumo dizer que são cada vez mais raras as fogueiras nas quais diferentes aldeias se reúnem ao redor. Sempre uso esse exemplo para contextualizar a importância do BBB. Com o consumo de mídia cada vez mais segmentado, é interessante ver uma publicidade com esse poder de mobilização.

E com isso, os sentimentos conflitantes. Há quem tenha simplesmente se emocionado com a bonita homenagem, enquanto outros começam a produzir análises e problematizações a respeito do impacto disso na produção cultural.

Fico curioso para ver em qual buraco o sucesso dessa iniciativa vai nos enfiar enquanto sociedade. Costinha sorteando a Mega-Sena da Virada? Dercy Gonçalves protagonizando novela das 19h? Gugu Liberato fazendo publi no Instagram? É só o começo. Por mim, tudo bem: quem garante que essa coluna não foi escrita pelo ChatGPT?

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