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Chico Barney

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A história de Eike Batista é terrível, mas o filme é pior

Nelson Freitas vive Eike Batista em filme - Divulgação
Nelson Freitas vive Eike Batista em filme Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

27/11/2022 10h45

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Estreou na Netflix o filme Eike Batista: Tudo ou Nada, lançado há apenas dois meses nos cinemas. O tempo de espera infelizmente foi muito curto —se tivesse demorado mais, talvez eu esquecesse de assistir.

Seguindo uma tendência bizarra do audiovisual brasileiro, que contamina até novelas, a direção tenta encaixar o máximo de referências e linguagens diferentes no menor tempo possível, como se fosse um demo reel para futuros projetos. "Vejam só meu repertório, quanta coisa posso fazer", parece sinalizar.

O resultado é tecnicamente discutível e muito distante da construção de qualquer estilo próprio. Mas esse é o menor dos problemas para o assinante que por acaso tascar o play para prestigiar a obra.

O roteiro não se preocupa em nenhum momento com a nobre missão de aprofundar pelo menos um pouquinho quem diabos é Eike Batista fora dos escritórios. O personagem é raso como um pires e aposta no suposto alto índice de conhecimento do protagonista para contextualizá-lo de maneira paupérrima.

Isso faz com que o filme seja uma mera concatenação de fatos sem qualquer alma. Em nenhum momento conseguimos nos importar com aquelas pessoas, nem mesmo para sentir indignação pelos crimes financeiros.

É quase como se fosse uma dramatização do Linha Direta, ou pior, do Cidade Alerta, em vez de um filme de verdade. Tem até uma história paralela para ilustrar a vida de um cidadão de classe média que perde todas as economias da família por conta das presepadas da empresa de Batista. Mas vai do nada ao lugar nenhum. Parece um enxerto mal costurado que não tem qualquer reverberação na trama —está ali apenas para fins expositivos.

Em outro momento particularmente constrangedor, o bilionário no auge recebe um cientista maluco em seu escritório e testa uma traquitana que faz com que reviva, em um cenário de teatro alternativo, seu relacionamento com Luma de Oliveira. É como se fosse outro remendo para divertir o público com uma fofoca gostosa que não coube na história do filme, mas tentaram dar um jeito de mostrar mesmo assim.

Pela maneira como conseguiu subverter a realidade em benefício próprio, Eike Batista foi muito mais criativo que o filme que retrata sua ascensão e queda. Que este fracasso não impeça outras tentativas de contar uma história tão bizarra.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.