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O sambódromo renegado pelo seu criador

Já é Carnaval. Pelo menos é o clima das ruas de São Paulo com bloquinhos todos finais de semana. A festa oficial na cidade começa de fato na semana que vem e tem como grande atração os desfiles das escolas no sambódromo que recebeu vários nomes desde sua inauguração em 1991: Passarela Cultural, Polo Cultural e Esportivo Grande Otelo e Sambódromo do Anhembi. Muitos nomes para uma criação com tanto destaque, mas com um criador que a renegava.

Antes da construção do palco dos desfiles em São Paulo, havia só um sambódromo no imaginário popular brasileiro, o do Rio de Janeiro. Este também atende por vários nomes: Sambódromo da Marquês de Sapucaí, Sambódromo do Rio de Janeiro e Passarela Professor Darcy Ribeiro.

Sambódromo do Rio de Janeiro
Sambódromo do Rio de Janeiro Imagem: Hudson Pontes/Prefeitura do Rio

Seu primeiro nome, na inauguração em 1984, era outro: Avenida dos Desfiles. A nova atração do Rio de Janeiro ajudou a popularizar o termo sambódromo, um neologismo criado por Darcy Ribeiro, um dos mentores do projeto, juntando o samba com "dromo", palavra grega para "corrida, lugar para correr".

Esse sambódromo era motivo de orgulho para seu arquiteto, Oscar Niemeyer. Se você buscar no site oficial da Fundação Oscar Niemeyer vai encontrar uma página sobre a importância da construção para a cidade. O case de sucesso gerou procura justamente em São Paulo.

Em 1990 foi sancionada a Lei Municipal 10.831/1990 que oficializava o Carnaval de São Paulo, cabendo à prefeitura a organização do evento no Anhembi. Niemeyer doou seu projeto para a cidade. No ano seguinte oficialmente a cidade ganhava um sambódromo para chamar de seu às margens do rio Tietê.

Apesar de desde o início divulgarem seu nome, conhecedores do trabalho do arquiteto não reconhecem muitos traços dele na obra. E basta dar uma olhada no desenho original do projeto para ver que pouco restou da ideia original. Niemeyer havia previsto uma cobertura e arcos sobre a avenida. Ainda construíram, sem consultar o autor do projeto, banheiros de alvenaria na parte de trás das arquibancadas e torres para os jurados, elementos que não haviam em sua concepção.

Vista de geral da dispersão do sambódromo do Anhembi
Vista de geral da dispersão do sambódromo do Anhembi Imagem: Mariana Pekin/UOL

A paternidade do Sambódromo do Anhembi não era contestada até 2012, quando a prefeitura da cidade resolver fazer reformas no local. Ao procurarem o escritório do arquiteto para pedirem autorização para as obras, tiveram a resposta de que o arquiteto não reconhecia este sambódromo como um projeto seu, que a prefeitura poderia fazer o que quisesse.

Há 12 anos, portanto, temos oficialmente uma obra a menos de Niemeyer em São Paulo. No site da fundação, o único sambódromo reconhecido por eles segue sendo o do Rio de Janeiro. Já no site da administradora do Anhembi, o sambódromo ainda é de Oscar Niemeyer.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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