Musa de 'Ratatouille', estrelas Michelin e chef n°1: conheça Hélène Darroze

Se você não é exatamente um gourmand ou se interessa pelo mundo da gastronomia, o nome de Hélène Darroze pode ser algo distante. Porém, apesar de exibir seis estrelas Michelin em seus restaurantes e ter até o título de "melhor chef do mundo" na bagagem, a francesa de 56 anos chegou, sim, ao grande público. Talvez de uma forma tão deliciosa quanto suas produções.

A chef Colette e Linguini, de Ratatouille
A chef Colette e Linguini, de Ratatouille Imagem: Reprodução

Isso porque ela inspirou a personagem Colette no filme vencedor do Oscar da Pixar, "Ratatouille", de 2007. Para quem nunca assistiu ou não se recorda, é ela uma das poucas personagens femininas em todo o filme e que há quase 20 anos já falava em uma cozinha dominada por homens.

O que tem de Hélène em Colette é difícil dizer, mas o que a reportagem sabe é que a chef da vida real passou uma semana sendo literalmente seguida pela equipe de produção em seu restaurante. Isso dois anos antes do lançamento do filme.

As coincidências entre a ficção do ratinho do protagonista e a realidade da gastronomia não param por aí. O filme se desenrola em um cenário de tradição da culinária francesa, passada de pai para filho. E disso Hélène não está tão distante.

Sua história na cozinha começa mesmo antes de Hélène nascer, uma vez que ela é descendente da quarta geração de uma família de chefs, em Landes, uma região do sudoeste da França.

Hélène Darroze, em 2007
Hélène Darroze, em 2007 Imagem: Arnaud 25 & Hélène Darroze

Entre gigantes

Em entrevista exclusiva ao UOL, ela revela que, apesar de vir de uma linhagem de cozinha profissional, uma de suas lembranças de infância mais queridas era a de fazer torta de limão em família.

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(Aqui mais uma coincidência com o filme: como esquecer a cena em que o crítico gastronômico Anton Ego é imediatamente transportado à cozinha de sua mãe na primeira mordida de um ratatouille?)

Ainda que a gastronomia corresse no sangue, a princípio foi o lado operacional dos restaurantes que a atraiu para o destino culinário. Tanto que Hélène chegou a se formar em administração pela L'Ecole Supérieure de Commerce, em Bordeaux.

Alain Ducasse e Helene Darroze, em foto de 2016
Alain Ducasse e Helene Darroze, em foto de 2016 Imagem: Julien Hekimian/Getty Images

O destino, porém, estava traçado - e sem a ajuda de um ratinho.

Já entre panelas, Darroze juntou-se à equipe de Alain Ducasse, ícone da culinária francesa, no Le Louis XV, em Mônaco - "apenas" um dos restaurantes franceses mais prestigiados do mundo, que deu ao chef três estrelas Michelin quando ele tinha apenas 33 anos, em 1989.

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(Não, o chef Ducasse não inspirou Auguste Gusteau. Aqui a inspiração é bastante triste, uma vez que a Disney olhou para a história de outro gigante francês Bernard Loiseau. Se na ficção o grande chef morreu de tristeza com as críticas, na vida real Loiseau cometeu suicídio em 2003, em uma tragédia repleta de rumores de que a motivação também teria sido a queda de se prestígio diante das premiações.)

Estrelada, mas não sozinha

Depois de trabalhar para Ducasse durante três anos, Hélèle voltou ao Chez Darroze, em Villeneuve-de-Marsan, comandado por sua família e ajudou o negócio a manter sua estrela Michelin.

Após o encerramento das atividades, Hélène decidiu mudar-se para Paris e abriu o Restaurante Hélène Darroze.

A partir daí sua própria constelação Michelin começava e, em 2001, ela recebeu a sua primeira estrela.

Foi como um sonho, não só para mim, como para toda a equipe. Fiquei feliz e orgulhosa por mim e por eles, conta bem ao estilo Colette, há de se observar.
Dois anos depois, viria a segunda estrela para o mesmo restaurante.

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Em 2007, ela abriu a bistro Toustem, que fechou um ano depois. Em fevereiro de 2021, Hélène Darroze recebeu estrelas Michelin tanto em Londres quanto em Paris: duas por seu restaurante "Marsan by Hélène Darroze", em Paris, e três por seu restaurante "Hélène Darroze at The Connaught", em Londres.

Em 2022, ela obteve uma estrela por "Hélène Darroze em Villa La Coste" no Palácio Provençal e agora ela conta com 6 estrelas Michelin em seu nome.
Aprovada por Colette

Quantas mulheres você vê nessa cozinha? Só eu. A alta cozinha é uma hierarquia antiquada construída por homens velhos e estúpidos, dizia Colette no filme.

Tá bom de chef feminista para você?

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Mais uma coincidência (ou não), além do currículo repleto de estrelas, Hélène conquistou, em 2015, o título de "Melhor Chef Feminina do Mundo" do prestigiado 50 Best Restaurants. Sim, a lista que nasceu controversa e assim segue até nossos tempos.

Apesar da honraria individual, Hélène, mais uma vez, se nega a levar todos os louros.

Foi uma sensação de extrema felicidade para mim e para os meus times. Para todos nós, foi uma consagração seguida por repercussões profissionais.

A chef ainda foi reconhecida com a honraria de Chevalier pelo ex-presidente Nicolás Sarkozy, em 2012.

Sua alma pop não está só na animação da Pixar: desde 2015, ela participa como jurada do Top Chef, na França, e em 2023 foi a chef que encantou Dua Lipa em uma matéria para a Vogue Francesa.

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Para lá de Marrakech

Em 2023, Darroze decidiu levar seus talentos para fora da Europa. Mais precisamente para o Royal Mansour, o emblemático hotel palaciano no coração de Marrakech, no Marrocos.

O La Grande Brasserie leva ao país africano o que há de mais típico nas brasseries francesas: pratos de frutos do mar, o tradicional "frango de domingo" e, claro, a Baba à l'Armagnac, sobremesa de assinatura de Hélène.

Baba àl'Armagnac, servido no La Grande Brasserie
Baba àl'Armagnac, servido no La Grande Brasserie Imagem: Divulgação

Neste novo "bebê", Hélene enfatiza a vontade de uma "cozinha generosa e um balé dos serviço ao estilo francês em uma atmosfera amigável".

La Grande Brasserie
La Grande Brasserie Imagem: Divulgação
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Ela também lidera o restaurante de alta cozinha marroquina do hotel, La Grande Table Marocaine, considerado o melhor restaurante de todo o Marrocos.

Questionada pela reportagem o que mais a inspira na hora de cozinhar, Hélène é muitas vezes mais solta na resposta - mas não em suas crenças e métodos.

Cozinho como eu gosto, baseada em uma meticulosa seleção de produtos e na Expressão das minhas emoções, com paixão, sinceridade e autenticidade, respeito pelo terroir e cultura dos lugares onde abro meus restaurantes. O que eu dou de todo coração, eu desenho da força das minhas raízes e dos meus encontros.

Isso até mesmo Anton Ego aplaudiria de pé.

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