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Drinque com DNA paulistano, Caju Amigo resiste aos novos tempos

Caju Amigo, um clássico paulistano que volta a chamar atenção das novas gerações - Divulgação
Caju Amigo, um clássico paulistano que volta a chamar atenção das novas gerações Imagem: Divulgação

Carlos Eduardo Oliveira

Colaboração para Nossa

24/02/2023 04h00

Hebe Camargo e o marido, Lélio; Ruy Mesquita, "dono" do jornal "O Estado de São Paulo"; o multimilionário Olacyr de Moraes; Júlio Cesar de Toledo Piza, ex-presidente da Bolsa de Valores de São Paulo; os apresentadores de TV (e concorrentes) Chacrinha, Bolinha e Flávio Cavalcante; os lendários restaurateurs Giancarlo Bolla e Giovanni Bruno; o clã Faria, do Banco Real; a colunista social Alik Costakis; e mais um séquito de jornalistas, empresários, políticos, publicitários, jogadores de futebol, artistas, etc.

Em comum: todos iam ao confessionário do lendário bar-restaurante Pandoro, em São Paulo, purgar suas máculas com fartas doses de Caju Amigo, o drinque oficial da casa.

Sim, Caju Amigo, possivelmente o mais paulistano de todos os drinques e coquetéis, criado em 1974 — há quem discorde — pelo barman Guilhermino Ribeiro dos Santos, então titular do balcão do Pandoro. O drinque mais clássico feito com a fruta típica do Nordeste, que caiu nas graças da intelligenza da Paulicéia da época.

Aliás, poucos drinques podem ser tão umbilicalmente associados a um bar especifico como a tabelinha Caju Amigo e Pandoro.

Vê um caju, amigo", a expressão dos clientes acabaria por batizá-lo. Reza a lenda.

Bar-restaurante Pandoro, em São Paulo - Reprodução - Reprodução
Bar-restaurante Pandoro, em São Paulo
Imagem: Reprodução

Clássico sem complicação

A receita é básica e simples: suco de caju concentrado, açúcar ou xarope de açúcar, gim (há quem use vodca, ou até mesmo cachaça), caju em calda e/ou compota caseira de caju, fatias da fruta em generosa proporção. Voilà.

Aqui e ali, alguns poucos experts usam pulos-do-gato na finalização: água com gás, gotas de sakê, de Angostura bitter, etc.

"Pra falar do Caju Amigo tem que ter uma certa milhagem de balcão de bar", brinca o longevo bartender Kascão Oliveira. "Eu dou consultoria para vários bares e restaurantes, e onde posso, incluo o Caju Amigo na carta de drinques", diz. "E curiosamente, já noto uma nova geração interessada em conhecê-lo".

Atualmente, Oliveira prepara seus no Boteco Garotinha, na rua Pamplona, em São Paulo.

Caju Amigo - Divulgação - Divulgação
Caju Amigo
Imagem: Divulgação

A febre dos anos 2000

Oliveira divide a história do Caju Amigo em três fases, a primeira, ainda nos anos 50, quando, alega, a bebida teria sido criada, por um bartender de apelido Fumaça, cujo nome perdeu-se no tempo.

"Depois veio o sucesso, a fase do Guilhermino no Pandoro, que foi quem o aperfeiçoou e deu notoriedade. E a explosão na virada dos anos 2000, quando, na reabertura do Pandoro, com novos sócios, chegava a haver picos de até 1200 drinques vendidos por noite.

A febre era tamanha que às vezes, os garçons, por brincadeira ou marketing, paravam os ônibus na rua (obs: avenida Europa, nos Jardins), subiam com a bandeja na mão e davam copos de Caju Amigo de graça pra quem lá estivesse ".

Copiado aqui e ali, ao longo do tempo, no entanto, o Caju Amigo foi ficando à deriva — para isso também contribuiu o abre-fecha e as mudanças (de donos, inclusive) do próprio Pandoro, que fechou de vez em 2011.

Caju Amigo do restaurante Pandoro, em 2001 - Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem - Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Caju Amigo do restaurante Pandoro, em 2001
Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem

Revisitado

"Aqui ele nunca saiu de cartaz", assegura Carlito Batista de Góes, há 33 anos titular do bar do famoso restaurante Dinho's, ex-Dinho's Place. "Desde sempre ele faz parte da nossa carta. Muita gente ainda pede. E quando bebe o primeiro, não consegue beber só um".

No Dinho's, uma compota de caju, feita na casa, dá o realce definitivo à mistura.

E que ninguém ouse chamar de batida. O Caju Amigo é um coquetel. Ponto.

Receita de Caju Amigo