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África sem estereótipos: brasileiro se encanta em 4 anos pelo continente

Cainã Ito, em Alexandria, no Egito, com bandeiras assinadas nos 18 países africanos pelos quais passou - Arquivo pessoal
Cainã Ito, em Alexandria, no Egito, com bandeiras assinadas nos 18 países africanos pelos quais passou Imagem: Arquivo pessoal

Priscila Carvalho

Colaboração para Nossa

11/08/2021 04h00

Os planos iniciais eram melhorar o inglês, mas o brasileiro Cainã Ito (@mochileirossempauta) transformou o seu intercâmbio de seis meses na Cidade do Cabo, África do Sul, em uma viagem de quatro anos por 18 países dos 54 reconhecidos no continente africano.

Eu não queria voltar para minha realidade e encontrei formas de me manter lá. Quando fui ver estava indo para o Zimbábue", diz.

Depois da primeira experiência, ele não parou mais. Seguiu para Zâmbia, Malauí, Egito e outros países. Geralmente, Cainã ficava três meses em cada lugar e depois ia para um local diferente.

Para baratear ainda mais sua estadia, ele não viajava da maneira tradicional. "Eu tentava economizar, fazia couchsurfing nas capitais, ficava na casa de moradores e ia em restaurantes locais. Dificilmente eu ficava em hostel". Durante os quase quatro anos de viagem, ele conta que ficou em um hostel apenas 15 vezes.

Lago Bunyonyi, em Uganda - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Cauã no Lago Bunyonyi, em Uganda
Imagem: Arquivo pessoal

Acolhimento na precariedade

A viagem foi dividida em África Ocidental e África Oriental. Neste último, o brasileiro pôde visitar países muito estereotipados. Um deles foi a Etiópia, lugar que se surpreendeu positivamente e que voltaria outras vezes.

É o único país que não foi colonizado do continente. Tem seu idioma, seu calendário e mexe muito com o seu tempo de sazonalidade. Dá um bug em relação ao padrão no mundo todo", conta.

Entre locais na Etiópia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Entre locais na Etiópia
Imagem: Arquivo pessoal

Outro país que, segundo ele, pode ser conhecido por problemas políticos, mas reserva aspectos positivos, é o Sudão. Para o viajante, o território vai além dos conflitos e encanta quem explora a região.

Ele conta que tinha a responsabilidade de acompanhar protestos, mas que isso não era um impeditivo para o turismo na região. A preocupação maior era fazer um planejamento de fronteira.

Mesmo sendo um local com estrutura precária, o país trouxe uma das melhores lembranças da viagem. "Quanto menor estrutura, mais acolhimento você tem. Isso se sobressaía".

Sudão, na região de Omdurmã, com o host Mohamed. As camas ficam geralmente fora devido ao calor dentro das casas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Sudão, na região de Omdurmã, com o host Mohamed. As camas ficam geralmente fora devido ao calor dentro das casas
Imagem: Arquivo pessoal

A Mauritânia também foi um dos países que Cainã não tinha tantas expectativas e entrou na lista dos lugares que ele mais gostou no continente.

Malária recorrente

Durante sua permanência em território africano, Cainã enfrentou alguns problemas pelo caminho. Um deles foi a malária, doença infecciosa provocada pelo parasita do gênero Plasmodium.

Eu me contaminei 13 vezes e peguei sete tipos diferentes da doença", afirma.

Quando ficou internado em Aswan, no Egito, por estar com malária - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Quando ficou internado em Aswan, no Egito, por estar com malária
Imagem: Arquivo pessoal

Ele lembra que começou a sentir os primeiros sintomas e seu anfitrião suspeitou que, provavelmente, era a malária. O viajante não sabia que a condição podia ser letal, principalmente se a pessoa posterga os cuidados e não procura ajuda logo nos primeiros sintomas. "Na primeira vez, estava no Malauí. Fiquei muito mal e na cama por uma semana".

Quando estava no Sudão, ele também sofreu com o problema e ficou com a saúde bastante debilitada. Já no Egito, ele precisou ficar internado em um hospital por uma semana.

"A malária me trouxe o sistema de saúde e vi de perto como funcionam os hospitais. É uma experiência. Não recomendo pegar malária", diz. No continente ainda é muito comum as pessoas morrerem vítimas da doença, o que afasta os turistas de alguns países.

Fronteira, idiomas e o futuro

Além desse imprevisto, o viajante também teve problemas na imigração enquanto saía da África do Sul para o Zimbábue. Na sua primeira travessia, ele escreveu no documento que era jornalista e depois disso foi chamado em uma sala.

Os oficiais explicaram que ele precisava de um visto específico relacionado à profissão e começaram a fazer diversos questionamentos. Depois de inúmeras perguntas e quase uma hora e meia de "interrogatório", deixaram ele ir embora. "Eu não sabia disso. Foi minha primeira fronteira na vida", diz.

Mesmo grande parte dos países tendo como segundo idioma o inglês, Cainã relembra que alguns da África Ocidental não falavam a língua, justamente por serem colonizações francesas.

Zouérat, onde os viajantes aguardavam o trem da Mauritânia para embarcar nos vagões de ferro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Zouérat, onde os viajantes aguardavam o trem da Mauritânia para embarcar nos vagões de ferro
Imagem: Arquivo pessoal

Para ele, essa diferença era um desafio na viagem. "Geralmente, eles falam um idioma étnico e depois uma segunda língua. Na Costa do Marfim, por exemplo, eles falavam mais francês", relembra.

Depois de quase quatro anos viajando pelo continente africano, Cainã voltou ao país no ano passado. Por causa da incerteza da pandemia e fronteiras fechadas, ele retornou em um voo de repatriação concedido pelo governo brasileiro.

Cainã Ito no Egito - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Cainã Ito no Egito
Imagem: Arquivo pessoal

Mas o encantamento com o continente está longe de acabar: ele pretende retornar ao continente africano daqui a alguns anos e deseja passar uma temporada maior no Egito.