Tem Carnaval, sim! Testamos o ziriguidum online no barracão da Grande Rio
No Carnaval deste ano, a avenida vai estar vazia, os bloquinhos de rua não vão dobrar uma esquina sequer e a fantasia não deverá ser mais do que pijamas e chinelo de dedo.
Depois de quase um ano resistindo em desfilar por salas de reunião do Zoom, eu não ia deixar passar em branco um dos eventos mais esperados pelo brasileiro: o Carnaval. Por isso, aceitei o convite de Nossa para participar de um tour virtual pelos bastidores da maior festa carioca, seguido de uma oficina de percussão.
Desde que o coronavírus deixou o mundo encarcerado e viajar não tem pegado bem, o AirBnb vem investindo em experiências em que os anfitriões conduzem atividades online que vão desde as manjadas aulas de culinária até meditação com um monge budista do Japão.
Vesti minha camisa mais estampada, meti um chapéu fedora na cabeça e separei a panela e a colher de pau para a segunda parte do encontro.
'Vambora, one, two, three', tentou animar o sambista da ONG Pimpolhos da Grande Rio, diante de uma plateia silenciosa formada por uma chinesa, uma australiana, um estadunidense e eu, brasileiro.
Promovida pela Grande Rio, vice campeã do distante carnaval carioca 2020, a experiência começou com uma introdução à história do ziriguidum no Rio de Janeiro e seguiu com detalhes sobre a dinâmica de uma escola de samba.
O guia foi o dedicado Gil, que disparou uma boa quantidade de informações sobre o evento. Eu mesmo, paulistano nascido e criado nas malandrices dos blocos de rua do Bexiga, não sabia que cada uma das mais de 50 escolas de samba do Rio só podem desfilar com no máximo seis carros alegóricos.
Mas neste carnaval, túmulo temporário do samba, tive que me contentar com um anfitrião circulando entre manequins imóveis e araras nostálgicas com fantasias inúteis do carnaval passado.
Chegou a emocionar a hora em que a australiana alargou o sorriso na cara quando Chico Buarque apareceu em um vídeo antigo cantando ao lado do músico Donga, figura fácil nas rodas de samba na casa da Tia Ciata, a mãe de santo que cozinhou o samba carioca com outros temperos.
Samba para gringos
No carnaval do Airbnb, tudo foi em inglês e para uma plateia com um gingado descompassado que só os gringos e brasileiros quarentenados como eu podem oferecer. Diante daquele carnaval tão fora de tom (muito bem ensaiado, mas entristecido pela pandemia) só me faltou pintar no rosto a lágrima de um pierrô choroso.
Por essa, nem o rodado Joãosinho "Thirty" esperava.
'Let's make noise' ('Vamos fazer barulho', em português) entoou Gil para introduzir o sambista Clebinho que conduziria a breve oficina de percussão, escondido atrás da máscara cirúrgica que deverá ser a fantasia mais usada nesse pandêmico carnaval 2021.
Teve apresentação de tamborim, de surdo e de mais alguns instrumentos que fazem do carnaval brasileiro uma das festas mais emocionantes do planeta. Mas o que se viu na plateia estrangeira eram apenas palmas fora do ritmo e sobrancelhas discretamente erguidas.
Tá, tá, tá, para baixo. Tá, tá, tá, para cima e para os lados. Assim a dupla se esforçava em levantar a plateia, rodopiando no salão decorado com plumas e lantejoulas.
Mais do que divulgar a opulência do carnaval brasileiro, que sob olhares desinformados soa como desperdício de dinheiro, o roteiro da live carnavalesca para os gringos acertou também ao mostrar o efeito do evento na economia, rompendo o estereótipo de que carnaval é festa sem compromisso guiada por gente desocupada em quatro dias de feriado.
Segundo informou o anfitrião, o carnaval carioca do ano passado gastou US$ 100 milhões para colocar as escolas na avenida (algo em torno de US$ 2 milhões para cada uma delas), garantindo um retorno de mais de 1 bilhão de dólares.
Vale lembrar também que, em tempos de viagens canceladas pela mais grave crise sanitária dos últimos tempos, eventos virtuais como esse foram a solução encontrada pela plataforma de reservas para garantir alguma renda para profissionais dos setores mais afetados pela pandemia, como o turismo e o entretenimento.
Entre as experiências inusitadas, tem aula de coquetelaria com drag queens, tour virtual pelos endereços da Peste Negra, em Praga, e até meditação guiada com ovelhas sonolentas(!).
Mas para nossa sorte, todo carnaval tem seu fim. E outro como o deste ano, eu não desejo nem para a escola concorrente, em 2022.
Pelo menos, dessa vez, não vou passar três dias e três noites tirando purpurina do corpo.
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