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Indústria têxtil se adapta ao coronavírus em Bangladesh

Importante fornecedora da empresa têxtil espanhola Inditex (proprietária da Zara) e da americana PHV (Calvin Klein, Tommy Hilfiger), a Beximco enviou 6,5 milhões de trajes de proteção no mês passado à marca americana Hanes - Getty Images/iStockphoto
Importante fornecedora da empresa têxtil espanhola Inditex (proprietária da Zara) e da americana PHV (Calvin Klein, Tommy Hilfiger), a Beximco enviou 6,5 milhões de trajes de proteção no mês passado à marca americana Hanes Imagem: Getty Images/iStockphoto

Da AFP

26/06/2020 13h15

À beira da falência devido ao cancelamento de bilhões de dólares em pedidos internacionais, o setor têxtil de Bangladesh se adaptou às últimas tendências ditadas pelo coronavírus: a fabricação de equipamentos de proteção.

A queda brutal na demanda por roupas causada pelo confinamento planetário atingiu em cheio a economia do segundo maior exportador de prêt-à-porter.

De um dia para o outro, centenas de milhares de trabalhadores têxteis perderam o emprego.

Mas alguns fabricantes de Bangladesh rapidamente se adaptaram à nova situação e começaram a fabricar máscaras, trajes, luvas e outros equipamentos de proteção.

Nas grandes fábricas da cidade de Savar, ao norte da capital Daca, milhares de trabalhadores se sucedem em turnos de oito horas, seis dias por semana, para fabricar equipamentos de proteção individual (EPI).

"Vimos a oportunidade em fevereiro e imediatamente iniciamos a produção", disse à AFP Syed Naved Husain, presidente da Beximco, um dos principais conglomerados de Bangladesh.

"Agora, cerca de 60% dos nossos 40.000 trabalhadores fabricam EPI", explicou.

Importante fornecedora da empresa têxtil espanhola Inditex (proprietária da Zara) e da americana PHV (Calvin Klein, Tommy Hilfiger), a Beximco enviou 6,5 milhões de trajes de proteção no mês passado à marca americana Hanes.

"O coronavírus mudou o mundo", afirmou Husain. Seu grupo espera exportar cerca de US $ 250 milhões em EPI este ano.

Nas oficinas da Beximco, no parque industrial de Savar, centenas de trabalhadores trabalham em meio à agitação das máquinas de costura. O uniforme que vestem e as máscaras brancas apenas permitem que vejam seus olhos.

"Trabalho para o ano"

No final da cadeia, Sumaiya Akter é uma das costureiras que dá os retoques finais no produto. Esta mãe de 34 anos estava entre o batalhão de trabalhadores demitidos no início da crise, muitos dos quais ainda estão desempregados.

"Tenho sorte de ter conseguido um emprego nesta fábrica, enquanto muitos outros perderam o emprego", disse à AFP.

"Pelo menos posso alimentar minha família e meus pais".

Nos últimos 20 anos, Bangladesh se tornou o segundo maior fabricante de roupas do mundo, depois da China.

Antes da pandemia, o prêt-à-porter representava cerca de 80% dos US$ 40 bilhões em exportações anuais do país. A indústria empregava mais de quatro milhões de pessoas, principalmente mulheres pobres do campo.

Em abril, quando o confinamento planetário começou, as vendas dos 4.500 fabricantes de têxteis de Bangladesh despencaram 84%.

Pedidos no valor de US$ 3,2 bilhões foram cancelados ou adiados, de acordo com a Associação de Fabricantes e Exportadores de Roupas de Bangladesh (BGMEA), e uma cascata de demissões e salários não pagos na indústria local se seguiram.

Para limitar as perdas, pelo menos 30 fábricas começaram a produzir EPI, e esse "número está crescendo", disse à AFP Khan Monirul Alam Shuvo, porta-voz da BGMEA.

Algumas empresas já presentes nesse nicho aumentaram a capacidade de produção para responder à súbita demanda internacional.

"Há três dias, recebemos um pedido do exterior de 20 milhões de uniformes cirúrgicos. Todas as nossas fábricas têm trabalho para todo o ano", afirmou, aliviado, Mashiur Rahman Shommo, diretor da Fakir Apparels.

"Temos fábricas de primeira classe", segundo Syed Naved Husain, da Beximco. "Bangladesh está bem posicionado para se tornar uma nova plataforma para a fabricação de EPI", garantiu.