Ex-árbitro lembra ameaça de presidente do Equador: 'Pena de morte'

O ex-árbitro Sálvio Spínola relatou que já recebeu ameaça de morte do presidente do Equador por um pênalti marcado em partida válida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Ao Alt Tabet, do Canal UOL, ele explicou que o chefe do Executivo equatoriano fez pronunciamento público e o ameaçou após o fim da partida.

Spínola contou que a partida terminou em 2 a 1 para o Uruguai e, com o resultado, o Equador ficou fora da Copa — a edição disputada não foi revelada. "Já tive na televisão presidente da República falar: 'Vou dar pena de morte para esse árbitro, quero saber onde ele está'. Foi um jogo do Equador e Uruguai, e o Equador ia para a Copa com o empate, festa no país, [mas] aos 46 minutos de jogo teve um pênalti. O assistente falou para mim: 'Torce para o Forlán chutar para fora ou a gente não sai vivo daqui'. Forlán fez o gol, Uruguai vence por 2 a 1, última rodada das eliminatórias e o Equador ficou fora da Copa".

O ex-árbitro recordou que ao fim da partida chegou a apanhar dos fotógrafos dentro de campo, além de outras hostilidades e que precisou de auxílio para deixar o Equador. "Apanhei de câmera objetiva. Os fotógrafos entraram no campo e me batiam com as câmeras. No hotel não podia nem pedir comida. Na TV, o presidente: 'onde está esse árbitro brasileiro que estou decretando pena de morte pra ele'. Para sair do país foi uma loucura. Acionei o Itamaraty, a Fifa, a CBF. Ninguém me deu assistência. Quem me ajudou foi um amigo árbitro do Equador, porque tinham retido meu passaporte".

A ex-árbitra Nadine Basttos também relatou já ter recebido ameaças e intimidações nos bastidores. "Já fui ameaçada de chegar no vestiário e ter um delegado que diz que o dono do time já matou não sei quem, conta uma história terrível e você diz: 'meu Deus, não quero morrer hoje'".

Ex-árbitros revelam salário e defendem profissionalização

Spínolla destacou que apenas os cinco árbitros mais requisitados no Brasil ganham bem, com uma média salarial entre R$ 200 mil e R$ 250 mil por ano. "Os cinco principais árbitros do Brasil ganham por ano R$ 250 mil, os demais não. Não é só a questão financeira, o problema é que isso é seleto, para poucos. O mais importante é a segurança jurídica e financeira. O pior desse cenário é que você perde talentos. Vi várias pessoas competentes que abandonaram o futebol porque não tem segurança [na profissão de árbitro]".

Basttos concordou e ressaltou que a maioria dos árbitros não são convocados para apitarem jogos toda semana. "A grande maioria dos árbitros não consegue sobreviver de arbitragem. A gente exerce uma atividade... Antes de eu começar na arbitragem, já se falava que iam profissionalizar [o ofício]. Trabalhei, saí, estou há quase oito anos como comentarista e nada foi feito em relação a isso. Na minha opinião, é necessário. Acho que melhoraria muito o nível".

VAR demora para tomar decisão por medo de errar, diz ex-árbitra

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Para Nadine, a demora na análise dos lances é motivada "pela insegurança e o medo de errar" dos árbitros. "É o perfeccionismo. São tantas imagens que eu quero olhar todas, sendo que na primeira imagem você já teria tomado a decisão final. Então esse medo de errar fica um perguntando para o outro, aquela conversa demais. É insegurança mesmo".

Basttos afirmou ser "totalmente a favor do VAR", mas admitiu a necessidade de "melhorias" no recurso. "Principalmente a interferência, qual o critério [adotado] pela arbitragem, mas o futebol ficou mais justo, principalmente nos lances claros. Por exemplo, um lance de expulsão claríssimo, que ninguém viu, um gol que seria impedido. Sou totalmente a favor da tecnologia".

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