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Em 2002, disparada do dólar fez Globo renegociar vários direitos de futebol

Robinho faz jogada na final do Brasileirão de 2002 - Antônio Gaudério/Folhapress
Robinho faz jogada na final do Brasileirão de 2002 Imagem: Antônio Gaudério/Folhapress

Gabriel Vaquer

Colaboração para o UOL, em Aracaju

07/08/2020 04h00

A pandemia do novo coronavírus, que causou a disparada do dólar, fez as principais empresas de comunicação do mundo passarem por dificuldades, principalmente no que tange aos direitos esportivos. A Globo pediu a rescisão e renegociação dos contratos da Copa do Mundo e da Libertadores da América e assustou o mercado brasileiro. Mas esse fato não é inédito. Em 2002, a emissora tomou a mesma atitude em uma das mais graves crises que passou.

No segundo semestre daquele ano, o dólar também teve uma disparada no fim do governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. O motivo dessa subida foi uma desvalorização do real na época, com uma emitente eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pontualmente afugentou investidores externos, com medo de investir no país, temendo novamente uma hiperinflação.

Poucos dias antes do segundo turno da eleição, em outubro de 2002, o dólar batia a casa dos R$ 3,95, a maior cotação desde a criação do real, em 1994. A Globo tomou um susto, e a grande maioria de seus contratos, inclusive nacionais, que estavam cotados em dólar, precisaram ser renegociações ou revistos imediatamente.

O primeiro que passou por essa revisão foram os nacionais. O contrato do Campeonato Brasileiro, antes indexado pelo valor do dólar, passou a ser corrigido anualmente pelo real a partir de 2003, para que a emissora carioca não pagasse mais pelo contrato do que ele valia realmente. Os clubes, sem muita opção, aceitaram. Junto com essa renegociação, a Globo licenciava os direitos para a Record, o que abatia um pouco os custos.

Mas a maior renegociação aconteceu com os direitos de transmissão da Copa do Mundo. Em um pacote que contemplava os direitos de transmissão dos Mundiais de 2002 e 2006, a emissora precisava pagar US$ 250 milhões para a Fifa pelos direitos, que englobavam os poderes para transmitir e negociar no Brasil os direitos de transmissão da competição para a TV aberta, TV paga, rádio e internet.

Mas com o câmbio alto, o contrato ficou praticamente impagável. Os valores no final de 2002 chegaram a bater a casa dos R$ 870 milhões, uma cifra absurda até os dias de hoje.

"Se não chegarmos a um acordo, vamos abrir mão. O valor é impagável. Queremos rediscutir o contrato. Com as mudanças econômicas no mundo, o patamar dos direitos de transmissões mudou. Por isso, queremos chegar a um entendimento", afirmou Júlio Mariz, então diretor da Globo Esporte, braço da emissora que negociava direitos até então, para o jornal Folha de São Paulo.

No fim das contas, a Globo conseguiu alguns descontos no pagamento e seguiu com plenos poderes para sublicenciar e transmitir a Copa do Mundo de 2006. Pesou a favor da emissora, principalmente, a boa relação que tinha com mandatários da Fifa na época.

A Globo alegou, em nota, que a renegociação deste ano com a Libertadores e a Fifa tem a ver com a pandemia do Covid-19 e tudo que o cerca. A emissora, no comunicado sobre a situação da competição da Conmebol, diz esperar um bom desfecho para as partes.

"Grandes players mundiais têm sido obrigados a renegociar seus acordos sobre eventos esportivos em razão da crise econômica provocada pela Covid-19 e que, no Brasil, ainda é acentuada pela desvalorização cambial, que multiplica o valor dos contratos em dólar. Para que sua transmissão seja viável e satisfatória para todas as partes envolvidas, ela precisa se adequar à nova realidade mundial dos direitos esportivos e à situação econômica vivida pelo país", disse a emissora em nota divulgada ontem.