Topo

OPINIÃO

Nova ESPN veste blazer e tem programação com overdose de SportsCenter

Bob Burnquist entrevistado por Mário Marra e Rogério Vaughan em um dos SportsCenter da ESPN - Reprodução
Bob Burnquist entrevistado por Mário Marra e Rogério Vaughan em um dos SportsCenter da ESPN Imagem: Reprodução

Chico Silva

Do UOL, em São Paulo

06/10/2019 04h00

A ESPN estreou a quarta edição diária do SportsCenter nessa semana. Uma partida de futebol, mesmo com prorrogação e pênaltis, tem algo em torno 150 minutos. As quatro edições somadas da atração chegam a cerca de 600 minutos. Quatro jogos cheios do mesmo programa na tela. Com isso, o programa, sozinho, ocupa quase 70% da nova grade do canal, lançada após a reformulação iniciada em agosto com a saída do principal executivo da emissora, João Palomino, e de nomes históricos como Juca Kfouri, Arnaldo Ribeiro e Eduardo Tironi -- que, aliás, estão no novo podcast do UOL, Posse de Bola.

Uma olhada mais apressada pode levar o espectador a imaginar que a ESPN se tornou um grande "SportsCenter Channel". Não é bem assim. O que as une, mesmo, é o traje. O blazer é o figurino oficial dos apresentadores e comentaristas de três delas (e agora também do "Linha de Passe"). As apresentadoras Marcela Rafael e a recém-chegada Gláucia Santiago têm mais liberdade de escolha, porém preservam a sobriedade, marca registrada da atração global da emissora. A edição de fim de noite mantém o tradicional figurino passeio completo que há anos veste Paulo Soares, o Amigão, e Antero Greco, a dupla símbolo do SC Brasil.

De todas as edições, a que mais mudou de formato foi a matutina, que vai ao ar diariamente às 9h. O "SportsCenter" manhã entrou no ar essa semana substituindo o "Bom Dia ESPN". E apesar da mudança, manteve algumas características da atração descontinuada. Uma delas é o debate entre os participantes, entre eles os recém-chegados Raphael Prates e Gustavo Zupak, que trocou a TNT/Turner pela ESPN, e o sobrevivente Mário Marra, que escapou dos recentes cortes promovidos pelo canal.

Antero Greco e William Tavares no SportsCenter fim de noite - Reprodução - Reprodução
Antero Greco e William Tavares no SportsCenter fim de noite
Imagem: Reprodução

A discussão ao menos vem em uma nova embalagem no quadro o "X da Questão", em que cada um dos comentaristas defende um tema proposto para o debate. Na quarta-feira, dia da primeira semifinal da Libertadores entre Grêmio e Flamengo, Zupak destacava as qualidades do time carioca enquanto Mário Marra ressaltava as do tricolor gaúcho. Ao menos se diversificou a cansativa fórmula das mesas-redondas que impregnam a grade dos canais esportivos.

Marra também protagonizou um momento comovente nessa semana. Na quinta-feira, ele foi escalado para anunciar a morte do colega e amigo de Sistema de Globo de Rádio Hércules Santos, vítima de pneumonia naquela madrugada em Belo Horizonte. Visivelmente emocionado, o comentarista não conseguiu finalizar a homenagem que fazia ao narrador.

SportsCenter edição manhã na ESPN - Reprodução - Reprodução
SportsCenter edição manhã na ESPN
Imagem: Reprodução

Treta com fã do esporte

O programa da manhã é apresentado por Marcela Rafael e Luciano Amaral. Com três longas horas de duração, um dos recursos utilizados para gastar o tempo é abrir espaço para a interação com os espectadores, os chamados "fãs de esporte". Mas isso às vezes provoca alguns efeitos colaterais. Na mesma manhã de quinta-feira, Amaral perdeu a paciência com um espectador que questionava uma suposta má vontade da bancada "paulista" com o Flamengo. Irritado, Amaral disse que ele mesmo não era nascido no estado e que o espectador não havia entendido o que havia sido dito. Espantada a com a reação intempestiva do colega, Marcela recomendou que ele tomasse um maracujá para se acalmar. Coisas de TV ao vivo.

Os outros "SportsCenter" espalhados pelo dia seguem um roteiro mais cartesiano. Repórteres e especialistas de outros esportes e ligas transmitidas pelo canal, como NBA e NFL, fazem participações especiais ao lado dos apresentadores Fernando Nardini, Rogério Vaughan, William Tavares e Gláucia Santiago e dos comentaristas da casa. Por ser tarde da noite, a última edição, a de Amigão e Greco, se limita a apresentação das notícias do dia.

Silvia Greco (centro), Nikolas e Marcela Rafael no SportsCenter - Reprodução - Reprodução
Silvia Greco (centro), Nikolas e Marcela Rafael no SportsCenter
Imagem: Reprodução

Outra aposta do novo SC são as entrevistas. Nomes como Bob Burnquist, Silvia Grecco e seu filho Nickollas, a mãe que narra os jogos para o filho autista e cego que ganhou o Prêmio Fifa de torcida, Markão (atacante brasileiro do Hebei Fortune, da China) e Paulo André (atletismo) estiveram nos estúdios da atração. Outros como os surfistas Gabriel Medina e Filipe Toledo, José Neto (técnico da seleção feminina de basquete) e Hugo de Leon (Grêmio) participaram por link. É preciso mais nomes de peso. Mas a proposta é interessante.

Com a "Sportscenterização" de sua grade, a ESPN deixa claro que quer menos conversa e mais notícia, o que é algo a se comemorar nesse mar de debates e mesas-redondas sem fim nos canais esportivos da TV paga. Antes mesmo do novo "SportsCenter" manhã entrar no ar, o "Bate Bola Debate" da hora do almoço já havia perdido uma hora de duração. O canal ainda mensura os dados de audiência da nova programação e promete mais novidades para as próximas semanas. Resta saber se farão jus ao termo ou vão se limitar apenas a novos modelos e cores de blazer da turma da bancada.