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Esposa de Darlan diz que confederação não atende pedidos dele por estrutura

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Tóquio

05/08/2021 12h11Atualizada em 06/08/2021 12h58

A esposa de Darlan Romani, Sara Romani, afirmou hoje (5), durante participação no UOL News Olimpíadas, que a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) não atende os pedidos do marido para melhorar a estrutura da academia que ele tem à disposição no centro de treinamento da modalidade, em Bragança Paulista (SP). Darlan foi quarto colocado no arremesso de peso, em final disputada mais cedo aqui em Tóquio, apesar de diversas dificuldades enfrentadas nos últimos meses.

"Desde que ele foi trazido para Bragança Paulista, eles estão para terminar a academia, comprar os aparelhos da academia que ele de fato precisa, que são materiais que até ele mesmo já propôs confeccionar, aparelhos que ele precisaria, mas não teve a permissão para colocar dentro do centro. Muitos materiais não chegaram porque 'ah não foi pedido, não chegou'", afirmou Sara.

"Você vai lá na academia, você vai ver todos os materiais lá na academia. Todos servem para o Darlan? Não. Já foi solicitado? Já. Não chegou por quê? Não sei", continuou. "Qualquer pessoa que vai numa academia de bairro, por exemplo, uma academia grande, vai ver que os aparelhos são muito melhores do que os que tem aqui na Confederação Brasileira. Está chegando, mas ainda não é um centro completo, com todos os materiais que o treinador dele e ele pediram desde 2017."

A resposta da CBAt

Em nota oficial enviada à reportagem após a publicação do caso, a CBAt afirmou que deu todo o recurso necessário para o treinamento de Darlan e rebateu as críticas de Sara. Leia a nota na íntegra:

"A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) deu todo o suporte e recursos necessários ao atleta Darlan Romani em sua preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Não faltou absolutamente nada do que foi solicitado, especialmente nos últimos quatro meses, desde que a gestão atual assumiu a administração da entidade. O atleta teve todas as condições para desenvolver sua preparação.

A CBAt dá parabéns e considera Darlan um gigante do atletismo e do esporte brasileiro. Tem muito orgulho da atuação do atleta nos Jogos Olímpicos de Tóquio, onde só foi superado por três atletas, que, segundo ele mesmo, foram os melhores na prova do arremesso do peso. Não cabe e não houve nenhuma cobrança a Darlan pelo seu resultado.

Darlan, assim como outros atletas, passaram por dificuldades de treinamento durante o auge da pandemia da COVID-19, quando todos os centros de treinamento do País foram fechados, por decisão de governos estaduais e municipais, e os esportistas tiveram de improvisar na preparação para a Olimpíada.

A CBAt avalia que a crítica feita a academia do CNDA não partiu de Darlan, até porque não foi feita diretamente por ele. Lamenta profundamente as declarações feitas por sua mulher Sara Romani e assegura que nenhum pedido de equipamento foi feito a atual direção da entidade."

Quem é Darlan

Darlan nasceu em Concórdia, em Santa Catarina, e começou a carreira lá. Quando já era destaque das categorias de base, foi chamado a treinar em Uberlândia, onde a CBAt montou um centro de treinamento voltado às provas de arremesso e lançamento. Depois, contratado pela BM&F, passou a treinar em São Caetano do Sul (SP), onde ficava a principal estrutura do país para o atletismo.

Quando o clube, já chamado B3, fechou, em 2018, Darlan se mudou para Bragança, para o antigo centro de treinamento da Rede Atletismo, então recém-reaberto agora como Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo (CNDA), administrado pela confederação.

Com a pandemia, o CT fechou as portas provisoriamente e Darlan passou a realizar o treinamento específico do arremesso de peso em uma estrutura construída por ele em um terreno vazio ao lado de sua casa, em um condomínio de Bragança. Mas o problema foi, novamente, a academia.

"Você sabe que um atleta quando levanta uma barra de 300 kg, ele joga ela no chão, e não era possível fazer isso aqui em casa. Como os centros estavam todos fechados, ele teve que trazer tudo aqui para casa e começou essa luta de treinar, mas não podia quebrar a casa dele. Então ele levantava uma barra de 200, 300 kg e controlava para não jogar no chão. Isso foi comprometendo sim o corpo dele, ele foi sobrecarregando", contou Sara, explicando como surgiu a hérnia de disco que quase tirou Darlan dos Jogos.

Depois de operar para retirar a hérnia, em fevereiro, Darlan foi fazer sua recuperação em uma clínica em Pelotas. Quando estava lá, seu irmão foi internado com covid em Concórdia, com 80% do pulmão comprometido. Os médicos recomendaram que o atleta o visitasse antes que fosse tarde demais. Então Darlan e Sara pegaram o carro e dirigiram 10 horas até a cidade natal dele, para visitar o irmão, que acabou por se recuperar. Mas, na viagem, ele também pegou covid.

"Foram praticamente 30 dias que ele ficou sem conseguir treinar. Perdeu massa, perdeu foco, chegou a pensar em desistir, aí nós tivemos que recorrer a uma clínica para fazer um tratamento psiquiátrico, psicológico, psicanalista, tudo com ele para ele poder chegar lá na Olimpíada. Então, ele estar lá, ele é um campeão, porque ele não tinha condição nenhuma de estar ali e ele conquistou o quarto lugar, ele não ficou em quarto lugar, ele conquistou esse lugar."