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Danilo quer jogadores da seleção 'menos reativos e mais aliados do povo'

Danilo, lateral-direito da seleção brasileira - Lucas Figueiredo/CBF
Danilo, lateral-direito da seleção brasileira Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/07/2021 20h07Atualizada em 12/07/2021 20h56

Após o vice-campeonato da Copa América, torneio cuja realização foi cercada de polêmicas e ainda suscitou uma discussão sobre o apoio da torcida à seleção brasileira, o lateral-direito Danilo usou as redes sociais para fazer e pedir uma reflexão. E em três contextos coletivos: jogadores, imprensa e povo. Danilo usou as redes sociais para postar um longo texto no qual, entre outras coisas, ele faz uma autocrítica e pede que os jogadores sejam "menos reativos" e "mais aliados" do povo.

O posicionamento do lateral vem a reboque de uma discussão sobre brasileiros que apoiaram a Argentina na final da Copa América. As palavras de Danilo contrastam, por exemplo, com posicionamentos de Neymar e do capitão Thiago Silva.

"Eu, como atleta profissional, representante dessa classe, entendo que é necessário cada vez mais demonstrarmos aquilo que somos, 'gente da gente', encurtar as distâncias e assumir as responsabilidades, não só profissionais, mas também sociais, de nossa profissão. Estando tão expostos, nos resta sermos menos reativos, mais compreensivos e aliados de quem tanto nos prestigia, O POVO. É necessário termos clareza nos discursos dentro e fora de campo, assim fazendo dessa relação tríade (torcedor, imprensa e atleta) mais saudável e benéfica", escreveu Danilo.

Antes da decisão da Copa América, Neymar chegou a publicar nos stories um "respeito, mas vai para o c..." direcionado a quem torcia contra a seleção. O zagueiro, por sua vez, disparou: "Para aqueles que torcem contra, espero que estejam contentes. Porém, depois não venham se fazer de amigos para conseguir seja lá qual for sua intenção (entrevistas, ingressos para levar filhos e amigos nos jogos, camisas ou fotos".

Danilo também adota um tom crítico — mais pesado do que o manifesto conjunto dos jogadores antes da Copa América — acerca da organização do torneio. Na visão do lateral-direito, "não era o momento para a realização do torneio em nosso país". Ele ainda disse que foi "tudo resolvido e aceito num piscar de olhos, desrespeitando todos os tipos de problemas que estamos enfrentando como nação".

Durante a Copa América, o jogador também usou as redes sociais para ressaltar o número de mortos pela pandemia e, em uma coletiva, citou a perda de um amigo morto pela covid-19.

A avaliação da seleção no aspecto esportivo foi positiva. Danilo disse ter feito parte de "um trabalho sólido, com dedicação e força mental, para que apesar de tudo, pudéssemos nos concentrar na busca dos melhores resultados dentro das quatros linhas, focando totalmente no jogo, suas fases, erros, acertos e consequentemente, na evolução".

E as críticas? O recado à imprensa foi que haja um aprofundamento nas questões técnicas que envolvem o jogo.

"Faço o convite a tentar sempre fazer análises mais profundas, sair do 'jogou bem ou jogou mal' e ir pro 'por que jogou bem, por que jogou mal!'. Cabe estudar os processos do jogo, os tipos de sistemas enfrentados e o porquê das escolhas de A ou B. Sabendo que é impossível falar de futebol sem emoção, que daqui pra frente possamos equilibrar melhor as coisas", completou o lateral.

O posicionamento completo de Danilo

Chega ao fim esta competição, que nos trouxe lições de todos os tipos. Seja no âmbito do esporte, da saúde, nas questões sanitárias ou humanistas.

Esportivamente, um trabalho sólido, com dedicação e força mental, para que apesar de tudo, pudéssemos nos concentrar na busca dos melhores resultados dentro das quatros linhas, focando totalmente no jogo, suas fases, erros, acertos e consequentemente, na evolução.

Naquilo que quer dizer ser humano, sobre empatia e pensar no próximo, acredito e considero que não era o momento para a realização do torneio em nosso país. Sendo tudo resolvido e aceito num piscar de olhos, desrespeitando todos os tipos de problemas que estamos enfrentando como nação.

E por fim, nós como brasileiros, atletas, imprensa e torcedores, precisamos reunir forças, remar para a mesma direção, parar com desnecessárias intrigas e entender que o passado, saudoso e sempre respeitado do nosso futebol nacional, pouco influência nos jogos e no momento atual do futebol mundial, que é muito mais competitivo. Precisamos criar de alguma forma uma alquimia melhor entre as partes, que por fim terminará em força para a seleção brasileira e consequentemente para o futebol brasileiro.

À imprensa, sabendo que tenho muito a evoluir, sempre, como atleta e ser humano, faço o convite a tentar sempre fazer análises mais profundas, sair do 'jogou bem ou jogou mal' e ir pro 'por que jogou bem, por que jogou mal!'. Cabe estudar os processos do jogo, os tipos de sistemas enfrentados e o porquê das escolhas de A ou B. Sabendo que é impossível falar de futebol sem emoção, que daqui pra frente possamos equilibrar melhor as coisas. Debater de forma mais profissional possível, criticar sem olhar para preferências pessoais.

Eu, como atleta profissional, representante dessa classe, entendo que é necessário cada vez mais demonstrarmos aquilo que somos, "gente da gente", encurtar as distâncias e assumir as responsabilidades, não só profissionais, mas também sociais, de nossa profissão. Estando tão expostos, nos resta sermos menos reativos, mais compreensivos e aliados de quem tanto nos prestigia, O POVO. É necessário termos clareza nos discursos dentro e fora de campo, assim fazendo dessa relação tríade (torcedor, imprensa e atleta) mais saudável e benéfica.