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Brasileirão - 2020

Fla x Inter começou antes do jogo e duelo de bastidores ainda não acabou

Disputa entre Inter e Flamengo começou antes de a bola rolar e ainda está acontecendo nos bastidores - Thiago Ribeiro/AGIF
Disputa entre Inter e Flamengo começou antes de a bola rolar e ainda está acontecendo nos bastidores Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Léo Burlá e Marinho Saldanha

Do UOL, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre

23/02/2021 04h00

O jogo entre Flamengo e Internacional aconteceu no último domingo (21), mas o duelo entre os clubes começou muito antes de a bola rolar no Maracanã —e ainda não tem data para acabar. Com trocas de acusações, pressão e alfinetadas, a briga de bastidores tomou conta de rubro-negros e colorados. Na segunda-feira (22), um encontro na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) serviu para amenizar o clima e diminuiu a temperatura publicamente, mas ambos seguem atrás de seus interesses.

Depois de o Colorado vencer o Vasco, o presidente do Colorado, Alessandro Barcellos, quebrou protocolo estabelecido pelo próprio e pediu para se manifestar. Em entrevista coletiva, revelou "preocupação" com o que via de ambiente externo na preparação para o jogo contra o Fla.

A relação entre os clubes sofreu um grande abalo nos dias que antecederam o jogo no Maracanã. No Ninho do Urubu, Marcos Braz, vice de futebol do Fla, deu início ao acirramento dos ânimos com uma provocação a Barcellos.

Irritado com as declarações do mandatário gaúcho sobre suposto favorecimento da arbitragem ao Fla na partida contra o Corinthians, Braz abriu fogo:"O presidente se empolgou um pouco, não está acostumado a chegar nas finais. Com o maior respeito do mundo que temos ao Inter, não adianta o presidente ficar gritando de lá. Já passei dessa fase de ficar discutindo pela imprensa. O que temos de fazer é totalmente diferente. Está empolgado, não está acostumado, mas tem de ir devagar com a louça".

A declaração encontrou eco no Beira-Rio e foi prontamente respondida. Barcellos tratou a manifestação de Braz como 'artimanha para tirar o foco'.

"Eu acho que o futebol brasileiro do tamanho que é, da envergadura que tem, precisa ter dirigentes com a mesma envergadura. As instituições falam por si por suas histórias, seus títulos, suas conquistas, e Inter e Flamengo são duas grandes instituições. As instituições não são arrogantes. Pelo contrário: representam torcidas apaixonadas pelo Brasil inteiro, e muitas vezes a postura de um ou outro dirigente faz com que se misture essa imagem com o clube. Eu quero acreditar que o Marcos Braz se referiu unicamente a mim, porque o Internacional é muito grande. O Inter é campeão de tudo. Isso que ele fez é apenas uma artimanha de tirar o foco daquilo que é o principal que é o jogo do final de semana", disse ao SporTV.

E a crise ainda aumentaria. A presença de Francisco Noveletto (de vermelho na foto abaixo), um dos vice-presidentes da CBF, na concentração do Colorado, caiu muito mal entre os rubro-negros. Novelletto é conselheiro do clube e, inclusive, foi convidado para concorrer à presidência por um movimento político na eleição vencida por Barcellos, no fim do ano passado, e não aceitou.

Francisco Novelletto (de vermelho), vice-presidente da CBF, acompanha o jogo entre Flamengo e Inter - Leo Burlá/UOL Esporte - Leo Burlá/UOL Esporte
Imagem: Leo Burlá/UOL Esporte

Em suas redes sociais, Rodrigo Dunshee, vice jurídico do Fla, não deixou por menos e pediu uma postura mais cautelosa do cartola."A presença de um VP da CBF na concentração do Internacional horas antes de um jogo decisivo é de uma total insensibilidade. Não podemos fazer suposições ou dar azo aos boatos, mas esse tipo de conduta afronta o discurso da transparência e isenção apregoado pela CBF", escreveu.

Já no Maracanã, a batalha se deu por conta do posicionamento dos gaúchos no estádio. Recolhidos em um camarote colado no Setor Sul, os integrantes da comitiva vermelha não gostaram, embora por ali fiquem, na maior parte das vezes, os dirigentes dos clubes que enfrentam o Fla no Rio. Na foto abaixo, dirigentes do Flamengo nas cadeiras próximas ao campo, comitiva do Inter bem acima à direita:

Dirigentes do Flamengo nas cadeiras próximas ao campo, dirigentes do Inter colocados bem acima - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Segundo o vice de futebol gaúcho, João Patrício Herrmann, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landin, mentiu ao dizer que encontraria outro local para a delegação permanecer.

"Colocaram 60 pessoas atrás do banco, nos colocaram lá no canto, no fundo, o presidente do Flamengo mentiu para mim. Este é o ambiente aqui. Disseram que não poderiam nos colocar em outro lugar. Ele não mandou mensagem, ele me mentiu olho no olho. Não deixaram ficar em outro lugar. Foram atitudes 'varzeanas' do Flamengo. A minha vontade é, se o presidente me autorizar, liberar o Beira-Rio para torcida", disparou.

O Inter também reclama da quantidade de dirigentes do Flamengo presentes no estádio.

"Venderam ingresso para o jogo? Parece que sim, porque a quantidade de gente que tinha ali é bem fora dos protocolos normais", falou o técnico Abel Braga.

Comitiva do Flamengo fica próxima ao banco de reservas pressionando em jogo com Inter - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

"Colocamos a delegação do Inter no mesmo camarote que colocamos tantos outros visitantes. O campeonato não acabou, o Inter deveria manter uma postura digna e não fazer esse aguaceiro. A verdade que o Inter quer ocultar é que o time dele não jogou bem e foi muito inferior ao Fla", alfinetou Dunshee.

Já na segunda-feira, o presidente Alessandro Barcellos voltou a falar do Flamengo. Antes de visitar a CBF para reclamar da arbitragem do jogo de domingo, o mandatário afirmou que a soberba e a arrogância da equipe carioca poderiam ser combustível para rivais.

"Ninguém quer ser tratado como o Flamengo trata os outros clubes. Com tanta arrogância e prepotência. Isso também certamente mexe com São Paulo, com os torcedores, e pode ser positivo para última rodada", opinou à Rádio Gaúcha.

O presidente do Inter e o presidente do Flamengo se encontraram em reunião na CBF. Ambos foram à sede da entidade na tarde de ontem (22). O tom foi ameno, político, sem o mesmo ambiente tenso revelado pelos bastidores recentes. O presidente do São Paulo, Julio Casares, também esteve presente. O Colorado, por exemplo, já trata o tema 'arbitragem' de forma propositiva e quer critérios claros sobre lances semelhantes ao que gerou a expulsão de Rodinei.

A discussão entre dirigentes é plano de fundo para a briga pelo título do Brasileiro. O Flamengo conquista a taça se vencer o São Paulo, quinta-feira. Se empatar ou perder, o Inter leva o título se bater o Corinthians, no mesmo dia. Ambos os jogos ocorrem às 21h30 (de Brasília).