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Klauss Câmara vê legado no Grêmio e detalha sucesso e título pelo Cruzeiro

Klauss Câmara foi campeão da Copa do Brasil 2017 como diretor de futebol do Cruzeiro - Divulgação/Cruzeiro
Klauss Câmara foi campeão da Copa do Brasil 2017 como diretor de futebol do Cruzeiro Imagem: Divulgação/Cruzeiro

Thiago Fernandes

Do UOL, em São Paulo

17/11/2020 11h00

Klauss Câmara foi contratado pelo Grêmio em janeiro de 2019. Em quase dois anos no clube, conquistou três títulos e deixou o legado de um elenco forte. O trabalho feito no clube gaúcho foi repetição do que fez em Cruzeiro e Sport, clubes que também atuou como diretor-executivo de futebol.

Atualmente livre no mercado da bola, já despertou interesse de alguns clubes, os quais prefere não revelar. Em entrevista ao UOL Esporte, destaca o período em que esteve à frente do Tricolor gaúcho e as heranças deixadas no grupo comandado por Renato Portaluppi.

"Fazer parte de um clube da grandeza do Grêmio é sempre algo muito enriquecedor para quem vive e respira dentro do futebol. Foi um período muito bom e que certamente contribuiu ainda mais para a minha experiência profissional. Convivi e aprendi com grandes profissionais lá dentro e pude contribuir também em toda a montagem desse elenco que hoje é considerado favorito em todas as competições. Eu e o Renato sempre falávamos que havíamos feito muito com pouco e que esse time no momento certo iria mostrar o seu valor, e isso vem acontecendo. Por isso, mesmo de longe, eu fico muito feliz em ver o sucesso de todos eles", afirmou.

"Trabalhar em um clube como o Grêmio é um privilégio para qualquer profissional. Considero ter sido um ciclo positivo, pois conquistamos três títulos nesse período, além de termos chegado até a semifinal da Libertadores, semifinal da Copa do Brasil e em quarto lugar no Campeonato Brasileiro, nesse período foram promovidos e comercializados vários atletas oriundos das divisões de base", acrescentou.

A passagem pelo Grêmio, contudo, não foi a única avaliada por Klauss. Campeão da Copa do Brasil 2017 pelo Cruzeiro, ele revela como montou um elenco forte sem muitos recursos financeiros.

"Na verdade um dos principais desafios de um executivo é fazer muito com pouco, montar uma equipe competitiva e fazer o melhor que ele pode e com os recursos que o clube possui em seu orçamento. Nesse sentido, naquele momento o Cruzeiro passava por um momento difícil e sem muito recursos financeiros. Naquela temporada, sabíamos que era preciso montar uma equipe competitiva, com jogadores de qualidade, mas que estivesse dentro da realidade orçamentária do clube. Com o trabalho responsável e engajamento de toda diretoria, reduzimos a folha salarial, implementamos processos necessários de controle e conseguimos voltar a ser campeões da Copa do Brasil, fazendo com que o Cruzeiro voltasse ao caminho dos títulos", comentou.

A mudança política na Toca da Raposa culminou na saída de Klauss Câmara do Cruzeiro. Depois do sucesso obtido em Belo Horizonte, o executivo de futebol foi para o Sport, naquele que considera o seu trabalho de maior aprendizado.

"Talvez esse tenha sido o trabalho de maior aprendizado e de grandes desafios a serem superados. Cheguei ao Sport após uma eliminação da Copa do Brasil e o clube passou por várias reformulações na diretoria de futebol e algumas trocas de treinadores naquele ano. Isso acabou interferindo muito ao longo da temporada. Tivemos que brigar até a ultima rodada contra o rebaixamento, mas infelizmente o Sport acabou caindo. Mas depois disso, me senti honrado em poder ter contribuído com a formação do elenco que conseguiu o acesso do Sport de volta para a Série A do Campeonato Brasileiro", avaliou.

Klauss Câmara ainda reforçou questões importantes do futebol de base. Ele foi dirigente de categorias inferiores em quatro estados distintos: Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Confira, abaixo, outros trechos da entrevista do dirigente ao UOL Esporte:

Como revelar jogadores de sucesso

Na minha opinião, o mais importante é a visão e o valor que a direção do clube dá para as divisões de base. E isso muda tudo. Para que se revele bons jogadores, existem muitos processos necessários a serem executados na base, que começam já no recrutamento dos atletas. Mas nada será mais importante do que um projeto de futebol bem elaborado entre os departamentos de base e profissional, além de uma política de clube estabelecida para o aproveitamento desses atletas no profissional.

Principal trabalho na base

Considero todos os trabalhos de grande importância. Me sinto um privilegiado por ter tido a oportunidade de trabalhar em vários clubes, mercados e estruturas diferentes. Cada um com suas qualidades e características específicas e, assim, ter uma visão mais ampla de mercado e das pessoas. O Brasil é um país muito grande e diversificado, possui diversas escolas do futebol e nesse sentido, ter conhecido e vivenciado as mais diversas realidades do nosso futebol é sem dúvida a minha maior conquista.

Modelo de jogo

Esse é um tema muito complexo, pois existem as mais diferentes formas de ganhar, jogar e obter resultados desportivos no futebol. Eu particularmente acredito que todos os clubes deveriam ter a sua identidade, principalmente de três elementos (jogo, jogadores e profissionais) e acreditar nela acima de tudo. Mas a questão está em quem estabelece essa identidade, quem são as pessoas responsáveis por construir, defender, monitorar e interferir nessa identidade? A elaboração de um "Projeto Futebol" é mais do que necessária dentro de um clube, respeitando é claro, as suas realidades e os fatores históricos, culturais, políticos, técnicos e financeiros de cada clube na estruturação desse projeto.

Assim, a maioria dos problemas que o futebol brasileiro enfrenta seria reduzido drasticamente, pois através de uma identidade de jogo estabelecida, o clube teria de forma muita clara qual é o perfil dos jogadores e dos profissionais que deverão ser contratados.

"Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve" (Lewis Carroll).

Como escolher o modelo de jogo

Hoje, o que acontece na maioria dos clubes é que o modelo de jogo é estabelecido de acordo com o modelo de jogo do seu treinador. Isso não é errado e cada treinador tem a sua forma de jogar e o seu modelo. Mas o clube precisa saber se o treinador que está sendo contratado possui o modelo de jogo que vá ao encontro da sua identidade. Por isso acredito muito na construção de uma identidade institucional para facilitar as coisas, que vai desde o processo de recrutamento, formação e desenvolvimento de jogadores da base até a transição, utilização e comercialização desses atletas no profissional.