Da defesa de Tite aos problemas na Itália: por que Arthur voltou à seleção?

A volta de Arthur à seleção brasileira para as próximas rodadas das Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, contra Venezuela e Uruguai, foi a grande polêmica da convocação anunciada pelo técnico Tite ontem (23). Contratado pela Juventus há dois meses, o jogador de 24 anos entrou em campo só três vezes na Itália, enfrenta problemas para se firmar e nesta semana foi criticado por Pirlo, seu próprio treinador.

Na seleção, Tite diz que usa três pilares para fazer uma convocação: o histórico individual, a projeção de futuro e o momento de cada jogador. Arthur se encaixa nos dois primeiros, porque viveu boa fase até a Copa América de 2019 e pode ser encaixado no modelo de jogo numa disputa por posição com Douglas Luiz. O que compromete a avaliação é o terceiro ponto.

Não é segredo que a saída de Arthur do Barcelona foi problemática. Ele desrespeitou o protocolo do clube catalão contra a Covid-19 e abandonou os treinos, além de um episódio em agosto, quando sofreu um pequeno acidente de carro e teve detectado um índice de álcool superior ao permitido na Espanha no teste do bafômetro.

Relacionadas

Copa América explica volta de Arthur à seleção mesmo em baixa, diz Tite

Tite convoca seleção com voltas de Vinícius Júnior, Jesus, Arthur e Militão

Seleção anuncia a estreia de uniforme com novo escudo em novembro

Foi negociado com a Juventus, mas não dá para dizer que já tenha se firmado. Até o momento foram apenas três jogos oficiais, um como titular e dois saídos do banco com o total de 113 minutos.

A próxima chance é amanhã (25), às 16h45, contra o Hellas Verona, pela quinta rodada do Campeonato Italiano - a Juve está em quinto, com duas vitórias e dois empates. Mas vai demorar para Arthur engatar uma sequência.

Até porque seu técnico, Andrea Pirlo, não o considera preparado para isso, como demonstrou em declarações recentes.

Ele é um jogador particular e possui características do futebol espanhol. O jogo dele é muito curto e ele está ligado ao Barcelona. Ele ainda toca muito na bola enquanto em certas ocasiões que pode acelerar. Estamos trabalhando nisso."

A crítica tem sua razão de ser: Pirlo vê Arthur como um jogador que prefere a circulação de bola em vez do passe vertical que vai criar uma chance de ataque. Tite não citou nominalmente o ex-volante italiano, mas fez uma ressalva à observação ao mencionar o segundo gol do Brasil na final da Copa América de 2019, contra o Peru.

Neste lance, Firmino faz um desarme no meio-campo e passa para Arthur, que conduz a bola em velocidade sem ser alcançado pelos marcadores e perto da entrada da grande área, pelo centro, consegue um passe vertical em infiltração para Gabriel Jesus, que marca (ver a partir de 1min37s). O Brasil venceu por 3 a 1.

Arthur voltou à seleção porque Tite acredita que ele pode entregar o desempenho que entregava antes da crise do Barcelona que atrasou em quase um ano sua evolução. É a nona convocação do volante em quatro anos de trabalho do técnico.

Além disso, a comissão técnica espera que até a apresentação da delegação, em novembro, ele já tenha readquirido ritmo de jogo, ao contrário do que aconteceu na convocação de setembro - Bruno Guimarães foi chamado pela primeira vez porque Arthur tinha só 45 minutos de um amistoso pela Juventus em três meses na ocasião.

O caso de Bruno Guimarães também merece cuidado: o Lyon não disputa nem a Liga dos Campeões da Europa nem a Liga Europa nesta temporada, então sua amostragem será em cenários menos competitivos do futebol francês, o que pode colocar Arthur em vantagem em longo prazo. Nas duas primeiras rodadas das Eliminatórias, o volante ex-Athletico-PR não foi usado por Tite. Também não entrou em campo após as datas Fifa.

A seleção enfrenta a Venezuela no próximo dia 13, no estádio do Morumbi, e quatro dias depois visita o Uruguai no estádio Centenário, em Montevidéu. A tendência é que Douglas Luiz seja mantido como titular, porque teve o desempenho muito elogiado nas vitórias sobre a Bolívia (5 a 0) e o Peru (4 a 2).

Foi o que disse o próprio Tite: "Desempenho acima do esperado? Sim. O desafio é manter. É um jogador que faz a sustentação defensiva, aí abastece Neymar, dá sustentação, abastece Renan Lodi... O nosso desafio, individualmente e coletivamente, é manter o padrão."