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Bloquinho do Madson: o segredo das análises táticas do lateral do Santos

Madson, lateral do Santos, durante o clássico contra o São Paulo - Ivan Storti/Santos FC
Madson, lateral do Santos, durante o clássico contra o São Paulo Imagem: Ivan Storti/Santos FC

Eder Traskini

Colaboração para o UOL, em Santos

22/09/2020 04h00

"Acho que a equipe está um pouco descompactada. A transição não está com liga, muito espaçada. E a equipe está lenta. O professor com certeza vai falar sobre isso, para sairmos mais compactados para jogar no campo deles."

A frase, repleta de termos recorrentes para analistas e comentaristas de futebol, pertence ao lateral direito Madson. O jogador do Santos chamou atenção ao analisar dessa forma o primeiro tempo santista no clássico contra o São Paulo — empate por 2 a 2, em 12 de setembro —, em entrevista ao Premiere na beira do gramado.

A consciência tática de Madson repercutiu e o UOL Esporte foi atrás do lateral para entender: afinal, de onde vem esse conhecimento?

"Procuro observar bastante o que passam todos os treinadores de clubes em que passei. Se algo chama atenção, chego em casa e anoto no bloquinho. No futuro, quem sabe, ser um auxiliar. Treinador não porque acho que não tenho perfil. Gosto de estudar, assistir futebol europeu para observar e aprender. É importante o jogador ter a leitura, até pra corrigir dentro de campo. Às vezes, o treinador não consegue observar, e temos que ter essa leitura para fazer ajustes", explicou o jogador em entrevista exclusiva.

Revelado pelo Bahia, Madson chamou atenção do Vasco durante um empréstimo para o ABC. Ele marcou um dos gols que decretaram a eliminação dos cariocas da Copa do Brasil em 2014. Um ano depois foi contratado pelo clube Cruz-Maltino. Foi no Vasco que encontrou o primeiro técnico que ganhou destaque em seu bloquinho.

"Eu aprendi muito com o Zé Ricardo, no Vasco, evolui bastante taticamente com ele, um cara dessa nova geração. Tiago Nunes, no Athletico-PR, também absorvi muitas coisas. E agora com o professor Cuca estou aprendendo, mesmo com pouco tempo de trabalho. A vida é uma constante evolução, temos que estar aprendendo sempre para estar sempre em excelência", contou Madson.

O lateral ainda passou pelo Grêmio de Renato Gaúcho e pertencia aos gaúchos quando foi trocado por Victor Ferraz no fim do ano passado. Em sua apresentação, já deu mostras de seu conhecimento tático acima da média quando perguntado sobre as diferenças entre ele e o ex-capitão do Santos.

"Na diferença com o Ferraz, ele é mais técnico, da construção mais curta, jogava um pouco mais na linha defensiva. Comigo é ao contrário, procura sempre dar opção na frente, de chegar na área também", explicou na época.

Mudança tática e a função do lateral

Na esteira de suas análises táticas, Madson explicou ao UOL Esporte a tática utilizada por Cuca na vitória sobre o Atlético-MG, quando o treinador improvisou Jobson como zagueiro. O técnico armou a equipe com variações de desenho, chegando até a um 5-4-1, com o lateral atuando como zagueiro.

"Contra o Atlético-MG quase ninguém comentou, mas jogamos de três formas táticas. Começou o jogo no 5-4-1, eu comecei como zagueiro pela direita, e o Lucas Braga de lateral, só com o Marinho na frente. Depois mudamos para o 4-2-3-1 e para o 4-3-3. O jogador tem que estar esperto para perceber quando o treinador mudar."

Madson ainda fez uma análise sobre o que enxerga como função de um lateral e desabafou sobre as cobranças por vezes excessivas com os atletas da posição no Brasil.

"A primeira função do lateral é marcar, se você puder chegar ao ataque também, ótimo. No Brasil cobram que o lateral decida jogos, eu entendo que tem que auxiliar o ataque, mas sem essa obrigatoriedade de decidir jogos, chegar sempre na linha de fundo e fazer gols", opinou.

O técnico Jesualdo Ferreira via Madson como um lateral mais ofensivo, que pecava na defesa, por isso não deu muitas chances ao jogador durante sua passagem no início do ano. Com Cuca, o cenário mudou.

"Ele entendia que eu tinha uma característica muito ofensiva e achava que eu precisava melhorar alguns conceitos na defesa. Eu entendo, mas sei que sou muito bom defensivamente também. Raramente dou brecha no sistema defensivo, até pela minha característica de velocidade, eu consigo subir e voltar para recompor", afirmou.

Desde a chegada de Cuca, Madson participou de sete dos 12 jogos, sendo titular em dois — quando deu uma assistência e fez um gol pelo Peixe.

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