Topo

Dill: lesão e política impediram sucesso no São Paulo após gols no Goiás

Dill (à dir.) ao lado de Diego Souza e Fellype Gabriel em jogo beneficente em Orlando - Arquivo pessoal
Dill (à dir.) ao lado de Diego Souza e Fellype Gabriel em jogo beneficente em Orlando Imagem: Arquivo pessoal

Pedro Lopes e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

02/09/2020 04h00

Qualquer são-paulino que tenha idade suficiente para ter acompanhado futebol no início dos anos 2000 se lembrará de Dill, o artilheiro ex-Goiás que chegou ao Morumbi em setembro de 2001. Infelizmente, para o torcedor, a lembrança não ficou na memória pelos gols e pelo brilho, mas sim pela pompa e expectativa na chegada do reforço, que acabou tendo uma passagem decepcionante no São Paulo.

Com 20 gols, Dill dividiu a vice-artilharia da Copa João Havelange em 2000 com Romário (Vasco) — o goleador foi Adhemar (São Caetano), com 22 —, e, somando 69 gols em 123 jogos pelo Goiás, carimbou sua passagem para a Europa. Não teve espaço no Olympique de Marselha e desembarcou no São Paulo em 2001 como grande esperança de gols. O sucesso no Morumbi não veio, e foram apenas dois gols em 22 jogos.

Ao UOL Esporte, Dill relembrou a passagem e atribuiu as dificuldades a uma lesão.

"De fato a minha chegada no São Paulo foi recheada de muita expectativa, principalmente por mim, mas, infelizmente, eu tive algumas situações que eu acho que foram impeditivas. Primeiro, eu cheguei no São Paulo numa altura em que o Luis Fabiano não marcava há oito jogos. Entrei em cinco jogos e também não fiz gol, a cobrança já começou ali também, o que é absolutamente normal", relembra.

"Para mim, o grande impeditivo foi uma lesão que eu tive em um jogo contra o Palmeiras no Super Campeonato Paulista de 2002. O Magrão [volante do Alviverde] caiu por cima de mim e virou minha fíbula. Eu estava começando a melhorar e tive essa lesão, fiquei praticamente sete meses fora. Fiz mais alguns jogos pelo São Paulo, entrando no segundo tempo, mas esse foi o grande problema".

A lesão, entretanto, não foi o único obstáculo na trajetória de Dill com a camisa tricolor. Quando ele voltou às atividades, o presidente não era mais José Augusto Bastos Neto, responsável pela sua contratação. Paulo Amaral havia assumido o cargo.

"Depois, é obvio que teve uma situação política também, quando eu voltei de lesão já tinham trocado a diretoria, o presidente tinha saído, tinha assumido outro presidente. Isso também, politicamente, foi um pouquinho complicado. Eu gostaria de ter ficado mais no São Paulo pra poder demonstrar aquilo que eu tinha demonstrado no Goiás. Estando mais ambientado, me sentindo mais em casa, mas infelizmente não deu. Eu tenho a grande honra de ter vestido a camisa do São Paulo, tenho muita honra mesmo de ter podido vestir a camisa, mas, infelizmente, foi um clube que eu não tive tanta sorte".

Depois do São Paulo, Dill ainda passou pelo Botafogo, Flamengo, Bahia e foi para Portugal. Curiosamente, a Wikipedia o coloca em destinos peculiares por onde nunca passou, como Lituânia. Isso o incomoda.

"O Wikipedia está errado, eu nunca joguei na Lituânia, nunca joguei no Santa Cruz, tem outros clubes que colocaram que eu não joguei que está errado, eu não sei quem colocou isso, eu tenho que mudar. A experiencia de verdade na Europa foi muita boa profissionalmente, questões táticas que eu aprendi bastante também. Depois de parar de jogar, também acompanhando os jogos, estando com os dirigentes, a mentalidade do europeu, a organização, eu acho que eu cresci bastante com relação a isso também. Tanto é que depois eu fiquei em Portugal por mais 14 anos, então, foi muito enriquecedora essa minha passagem, esse tempo que eu fiquei na Europa".

Atualmente, Dill atua em negócios relacionados ao futebol em mercados como China e Emirados Árabes, e vive nos Estados Unidos, após 16 anos na Europa.

"Hoje, depois de 14 anos em Portugal, morei também em um período em Madri, morei na França, estou há dois anos e meio em Orlando, nos Estados Unidos. Desde que parei, mexi com futebol, essa conexão em Portugal, conexão na China, alguns outros países também, África do Sul, Emirados Árabes, trabalho com esses mercados. Nos últimos dois anos aqui nos EUA, outras possibilidades de negócios fora do futebol têm me chamado a atenção. Óbvio que o futebol é a base pra mim, mas eu tenho uma parceria com um amigo há dois anos e meio, tem pintado bastante coisa, negócios diversos que nós temos tido".

Se não conseguiu brilhar no São Paulo, Dill atuou em uma fase áurea no futebol brasileiro, com nomes como Romário, Edmundo e Rivaldo ainda atuando por aqui. Ele se lembra com carinho dessa época, e dos craques que teve que enfrentar.

"Eu acho que nós vivemos numa época em que todo o jogo era muito complicado, os times médios e grandes sempre tinham jogadores diferenciados, em todos os clubes. Você jogava contra o Romário, contra Edmundo, Rivaldo, eu ainda peguei ele jogando no Brasil. Jogadores fora de série em todo time, joguei também contra o Ronaldinho Gaúcho, em 2000, no Grêmio".

O futebol não vivia, entretanto, só de atacantes talentosos. Havia também os zagueiros duros — estes deixaram menos saudades.

"Os zagueiros querem sempre intimidar, então tinha vários zagueiros que às vezes queriam uma dura, queriam se impor, fisicamente e também falando. Claudiomiro [ex-Santos], Clebão [ex-Palmeiras], posso citar vários outros. Os caras vinham, batiam e falavam: 'se vier de novo, vai apanhar' (risos). Então, se o cara não tiver personalidade, ele muda de lado. Felizmente, não era o o meu caso (risos)".