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Goleiro-artilheiro já foi dado como morto e quer espaço no Guinness Book

Goleiro Hiran, do Guarani, cabeceia para marcar o gol de empate em jogo contra o Palmeiras pelo Paulista de 1997 (3 a 3) - Marcos Ribolli/Folhapress
Goleiro Hiran, do Guarani, cabeceia para marcar o gol de empate em jogo contra o Palmeiras pelo Paulista de 1997 (3 a 3) Imagem: Marcos Ribolli/Folhapress

Marinho Saldanha e Vanderlei Lima

Do UOL, em Porto Alegre e São Paulo

19/08/2020 04h00

Hiran foi um jogador que nunca passou despercebido. Talvez pela estatura, de 1,99 m. Mas, principalmente, pelos gols que fez, considerando que sua posição era a de goleiro. Ele conseguiu seu verbete no longo dicionário do futebol brasileiro não só por suas defesas, mas por se arriscar cobrando faltas e, no fim dos jogos, costumar ir à área adversária num reforço considerável ao jogo aéreo de seus times —e ele ainda balançou as redes duas vezes usando a cabeça. Fato que o faz reivindicar nome no Guinness Book.

Com passagens por Guarani, Atlético-MG, Ponte Preta, Remo e mais uma série de clubes, o camisa 1 fixou residência em Porto Alegre, onde atuou pelo Inter em 2000 e 2001. Hoje com uma escola de goleiros na cidade e trabalhando no departamento de relacionamento social do clube, Hiran viaja o interior do Estado na busca por novos sócios.

O goleiro-artilheiro atendeu a reportagem do UOL Esporte para lembrar uma carreira que foi abreviada por um acidente de carro gravíssimo que gerou tamanha boataria em sua terra natal a ponto de uma partida respeitar um minuto de silêncio em sua memória. Quando ele estava, na verdade, vivíssimo para contar histórias.

"Parei de jogar porque tive de parar. Forçadamente. Primeiro pelo acidente de carro, quando estava indo para o Brasiliense, em 2004 —aí sem querer me pararam, na verdade", disse. "Fui dado como morto, e sofri muito com isso. Foi uma situação muito frustrante."

O Hiran não morreu

Hiran, ex-goleiro do Inter - Divulgação/Sport Club Internacional - Divulgação/Sport Club Internacional
Imagem: Divulgação/Sport Club Internacional
O acidente citado ocorreu quando Hiran iria de Linhares-ES, sua cidade natal, para Vitória, e depois seguiria para Brasília para assinar com o Brasiliense. Na altura do município de Aracruz-ES, o goleiro bateu seu carro de frente com uma carreta. Ele teve várias fraturas pelo corpo, precisou retirar o baço em uma cirurgia e foi salvo pelo uso de um desfibrilador.

A notícia se espalhou rapidamente, e o então atleta foi dado como morto. Foi numa partida pela Segunda Divisão capixaba que jogadores, torcedores, gandulas e todos os presentes no estádio prestaram um minuto de silêncio em seu nome.

"Foi muito frustrante tudo isso. Mas depois disso, aos 42 anos, eu voltei a jogar e consegui ser o melhor goleiro no Espírito Santos. Depois disso tudo, de ter tirado o baço, ficado na UTI, desse acidente gravíssimo, eu consegui voltar jogar futebol e ser eleito o melhor goleiro, o craque do campeonato e o goleiro menos vazado pelo time da minha cidade", explicou o arqueiro, que, quando mais jovem, também foi atleta de vôlei.

Um problema para a defesa (adversária)

Hiran, ex-goleiro do Guarani - Marcos Ribolli/Folhapress - Marcos Ribolli/Folhapress
Imagem: Marcos Ribolli/Folhapress

Se, no auge, Hiran foi daqueles goleiros que tranquilizava seus zagueiros com boas atuações, do outro lado do campo ele, de repente, virou uma preocupação para os adversários. Se ele já costumava cobrar faltas, passou a ser mais perigoso quando decidiu ir para a grande área fazer valer sua altura como atacante. Ele também marcou dois gols, frise-se, de cabeça na carreira. Por isso, pediu reconhecimento no Guinness Book, o que até hoje não veio.

"Um dos gols foi numa falta que eu bati aos 47 minutos do segundo tempo, o Velloso colocou pra escanteio eu fiquei na área. A gente já estava perdendo de 3 a 2 e eu consegui empatar o jogo 3 a 3. O outro, contra o Santo André, eu empatei e logo em seguida o Adil, pelo Juventus, o juiz falou que não ia deixar recomeçar o jogo, mas o Adil conseguiu fazer o gol, mas o fato é que tinha que ter ficado alguém na bola", lembrou.

Nesse sentido, ele ainda é generoso em estender sua luta para incluir outro ex-goleiro do Inter, Lauro, que também jogou pela Portuguesa, Ponte Preta, entre outros.

"Até hoje não consegui. Eu peço a vocês aí, que mexem com a história do futebol, que são repórteres... Eu e o Lauro somos os dois únicos goleiros do mundo que fizemos os dois gols de cabeça. O resto marcou com pé, de pênalti fizeram 20, 30 gols. Agora, de cabeça, só tem nós dois no mundo que fizemos. Esse reconhecimento a gente quer. A gente mora aqui em Porto Alegre, conversa sobre isso, e seria uma grande honra ter o nosso nome gravado porque até cuspe em distância eles reconhecem no Guinness Book. Por que não reconhecer os nossos dois gols de cabeça que estão registrados e eternizados?", indagou.

Enquanto esse reconhecimento no livro não vem, Hiran viaja pelo interior do Rio Grande do Sul como uma espécie de embaixador do Inter para desfrutar de outro tipo de recompensa, mais calorosa. "Trabalho nessa área do relacionamento social juntamente com o Iarley, com o Pinga, ex-atletas. Fizemos [viagens para] 190 cidades no ano passado. Eu acho que nós somos o clube que tem mais sócios atuantes no Brasil, é isso o que eu faço atualmente", contou.